Apesar das melhores condições epidemiológicas da Covid-19, do avanço da vacinação contra o vírus e da flexibilização do isolamento social no Brasil, o modelo híbrido de trabalho, que se tornou tendência nos últimos dois anos, deve permanecer presente mesmo após o fim da pandemia.

A conclusão foi feita a partir de diversos levantamentos compilados e especialistas ouvidos pela CNN, nesta quinta-feira (9).

Uma pesquisa realizada pela consultoria BMI destaca que das 56 empresas ouvidas, 80% apontaram que o modelo híbrido é ou será adotado pelos escritórios no pós-pandemia. O estudo ressalta ainda que o principal motivo para a implementação do trabalho remoto no pós-pandemia é a produtividade, já que para 66,1% dos gestores o rendimento dos funcionários aumentou a partir do início do home-office.

A pesquisa foi feita em agosto deste ano e divulgada no fim de novembro.

“De modo geral, as pessoas relatam que a experiência de trabalhar em casa foi muito positiva, algo impensável de se viabilizar nesta escala dois anos atrás. Há uma percepção de aumento de performance durante o trabalho remoto na pandemia, mas isso pode ter outras motivações além das já conhecidas flexibilidade de horários e proximidade da família”, destaca a pesquisa da BMI.

O presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Paulo Sardinha, em conversa com a CNN, confirma os benefícios do trabalho remoto e cita como exemplo a sensação de bem-estar.

No entanto, ele destaca que o aumento da produtividade pode estar relacionado ao maior número de horas trabalhadas por dia, o que não deveria acontecer. Ele também lembrou que a finalidade de alguns ofícios torna inviável a adoção do home-office.

“Existem empregos que as pessoas vão precisar ir trabalhar de forma presencial, como mecânicos, por exemplo. Mas a maioria das empresas pode, e acho que vai adotar o trabalho remoto mesmo com o fim da pandemia. As pessoas têm ganhos de bem-estar, deslocamento, até porque o nosso transporte no país não é adequado. Mas precisamos alertar também o contraponto. Quando a gente fala em trabalho virtual, temos que estabelecer o início da jornada de trabalho e a hora que se encerra, para o funcionário não trabalhar mais do que deve”, disse Paulo Sardinha.

Já o grupo G3, formado por executivos e consultores de RH, contactou representantes de 18 grandes companhias no Brasil. O resultado mostra que 12 delas, ou 67%, implementaram o regime híbrido de trabalho para o futuro. Duas (11%) vão seguir com o home office permanente e duas já voltaram ao escritório de forma integral. O estudo é do mês de outubro.

“Eu acredito no modelo híbrido, porque é importante ir presencialmente também. Mas eu penso em encontros quinzenais ou até mensais, porque eu não vejo a necessidade de engessar a necessidade do trabalho presencial em dias específicos. O trabalho remoto é uma tendência. Sempre precisamos ver o melhor para o colaborador, trazer autonomia para que ele aponte de qual maneira pode produzir melhor”, disse a vice-presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+), Patrícia Bueno, à CNN.

O Brasil já tem pelo menos 200 acordos ou convenções trabalhistas que tratam sobre a possibilidade da adoção do regime híbrido em 2021, segundo um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É importante ressaltar que não havia acordos sobre o tema antes da pandemia de Covid-19, que teve início há dois anos.

Fonte: CNN Brasil