Quem vem morar na Califórnia logo se acostuma com dias ensolarados praticamente o ano todo, tempo extremamente seco – e terremotos. A maioria deles é imperceptível, mas de vez em quando há aqueles que causam uma sensação de vertigem por alguns segundos sem provocar maiores conseqüências do que um compartilhamento da experiência com os amigos nas redes sociais.

Mas os terremotos desta quinta (4) pela manhã e o de sexta (5) à noite fugiram a essa regra pela severidade dos abalos, sentidos de Sacramento a Las Vegas – e até no México. O primeiro tremor foi de 6.4, considerado forte pela escala Richter (que vai até 10). O segundo foi oito vezes mais grave, alcançando 7.1, algo que não ocorria no Estado há 20 anos.

O epicentro dos terremotos foi em Ridgecrest, no Deserto do Mojave, a cerca de 200 km de Los Angeles, chegando à região metropolitana com impacto levemente amortizado.

Geralmente, os abalos cotidianos na Califórnia não duram mais do que alguns segundos e poderiam ser descritos como a sensação de estar dentro de um barco em mar agitado. Em outras ocasiões, os tremores se assemelham aos de um caminhão enorme passando na rua.

A grande novidade especificamente dos fenômenos desses dois últimos dias, além da intensidade maior, foi a longa duração das sessões de tremores, que levaram minutos. Tempo suficiente para pôr em dúvida nas mentes dos moradores se iriam realmente passar ou se seriam “The Big One”, o terremoto derradeiro que faz parte do imaginário californiano de desastres naturais.

Epicentro foi mais castigado

A cidade de Ridgecrest, no deserto onde os terremotos se originaram, foi a mais gravemente atingida. Moradores disseram que durante o abalo de sexta à noite não era possível nem ficar de pé, dada a intensidade dos tremores. Parte dos 28 mil habitantes ficou sem energia elétrica, houve vazamentos de água, gás e incêndios em casas populares. As prateleiras de supermercado vieram abaixo. Ventiladores de teto, televisores e livros foram ao chão, houve muitos danos domésticos registrados. Paredes de muitos imóveis racharam e houve até desabamentos de residências.

Os prejuízos são grandes para uma região de poder aquisitivo bem modesto, composto em sua maioria por mineradores e militares. Mas, por outro lado, paramédicos só registraram ferimentos leves. Temendo o pior, diversas pessoas preferiram dormir em seus carros ou até mesmo na rua. Outras deixaram a cidade, embora alguns trechos das rodovias locais tenham sido interditados por deslizamentos.

Grande LA levou susto

Mais próximo da região metropolitana, os abalos causaram meramente apreensão e alvoroço, fazendo com que alguns brinquedos da Disneylândia, em Anaheim, fosse evacuados, além de interromper sessões de cinema e teatro em Los Angeles. Em Palm Springs, piscinas transbordaram. Em Las Vegas, os tremores fizeram os candelabros dos cassinos balançarem.

O medo de que algo ainda pior poderia acontecer levou autoridades a aconselharem a população a manter suprimentos à mão – tais como lanternas, baterias, e um par de tênis.

Depois de cada um desses terremotos maiores, sempre acontece uma sucessão de abalos momentâneos por dias, chamados de “aftershock”, que em uma versão mais branda podem até mesmo ser confundidos com uma sensação de súbita perda de equilíbrio ao caminhar, mas podem chegar a tremores mais pronunciados também, dependendo da proximidade geográfica com a sede do abalo.

Prognóstico é otimista

Os comentários sobre os momentos de tensão sofridos nos mais longos e intensos terremotos das últimas décadas inundaram as redes sociais. Mas os moradores do sul da Califórnia podem ficar relativamente tranqüilos.

Especialistas afirmam que as chances de um terremoto ainda mais grave acontecer em breve são remotas e mesmo outro de escala 7 ocorrer até a próxima semana é menor que 10%. No entanto, tremores até a casa dos 5 na escala Richter – mais comuns no Estado – são dados quase como certos. Nada de novo para californianos, portanto.

Ainda de acordo com cientistas, os tremores ocorridos não têm relação direta com a temida falha de San Andreas e dificilmente poderiam desencadear atividade no local. San Andreas é uma rachadura gigante na terra que percorre quase todo o comprimento da Califórnia perto de áreas densamente povoadas, podendo provocar grandes catástrofes se ativada.

Fonte: AcheiUSA