O Banco Central aumentou a Selic para 13,7% e deixou em suspense o que vem pela frente. Se havia menos incerteza sobre os caminhos do banco nas últimas decisões, em que ele sinalizava o que faria na próxima reunião, dessa vez ele deixou em aberto. Pode subir 0,25 ponto percentual ou não. Além disso, abriu a avaliação da inflação para 2024, ampliando o horizonte de preocupação do banco com os
riscos crescentes de aumento das expectativas para daqui dois anos.

É verdade que o BC já coloca na conta uma volta dos preços de energia e combustíveis ano que vem quando as desonerações acabarem. Isso ajudou a aumentar as expectativas de inflação em quase 1 ponto percentual para o ano que vem e já tem muitos analistas prevendo IPCA até acima de 6% ano que vem.

O fato é que o BC está tendendo a deixar a tempestade passar de 2023 e focar em 2024 que, em tese, não teria mais os efeitos de tantos choques acumulados como vimos acontecer desde 2020.

Espera-se que em 2024 a questão das commodities já tenha sido encaminhada com alguma solução da guerra da Ucrânia e a saída da recessão que deve pegar o mundo ano que vem. Entretanto, não se
pode esquecer do efeito rebote que pode haver em commodities quando os juros começarem a cair e a recuperação começar a acontecer. Se é verdade que as commodities não devem ser um fantasma ano que vem, elas podem voltar a ser em 2024.

Quando o BC foca no combate à inflação daqui a dois anos está contando com um cenário sem os riscos de hoje. Mas pela distância e o meio do caminho muito turbulento o banco terá que ser ainda
agressivo para de fato conter as expectativas de 2024. Isso significa que ele fará uma queda da Selic muito lenta ano que vem, terminando 2023 em dois dígitos, provavelmente na casa dos 11,5%.

Cada vez mais o crescimento do ano que vem fica arriscado e se hoje está em torno de 0,5% não será difícil uma recessão poder aparecer ao longo dos próximos trimestres. Será essencial para qualquer um
que seja eleito dar as diretrizes principais de política econômica no final do ano e, espera-se, equilibradas para se evitar um cenário negativo que se estenda muito.

Mas com a proximidade da eleição, a tática do governo de estourar o crescimento este ano para ter efeito eleitoral pode tornar a eleição mais disputada, o que em outros tempos não seria um problema, mas este ano será por conta do presidente. O ideal seria que quem vencesse o fizesse por larga margem para não haver contestação.

Uma eleição muito próxima vai trazer um cenário muito difícil, especialmente se Lula ganhar nessas condições. Nesse cenário, não seria de se espantar se o BC ter que voltar a agir no final do ano subindo a Selic. A pausa provável da reunião de setembro poderá se encerrar se não houver uma consolidação de cenário muito crível no final deste ano.

Nesse cenário, não seria de se espantar se o BC ter que voltar a agir no final do ano subindo a Selic. A pausa provável da reunião de setembro poderá se encerrar se não houver uma consolidação de cenário muito crível no final deste ano.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.

Fonte: CNN Brasil