A rainha Elizabeth II, chefe de Estado do Reino Unido e de mais 14 países, morreu aos 96 anos nesta quarta-feira (8), na Escócia. A soberana mais velha do mundo encerra um reinado de mais de 70 anos que é repassado para Charles, seu filho mais velho, que assume como rei Charles III.

Mas qual é o papel do chefe de estado em uma monarquia?

Em entrevista à CNN, Igor Lucena, doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa e membro da Associação Portuguesa de Ciência Política, comentou que um chefe de estado tem o poder de, por exemplo, decretar paz ou decretar a guerra:

“Por viver em um país cujo regime é de uma monarquia constitucional, o Chefe de Estado tem o poder de, por exemplo, decretar paz e guerra, tendo as prerrogativas reais e a possibilidade de decretar leis, mesmo que na prática não ocorra muito. No caso da rainha, ela era chefe de Estado do Reino Unido e dos demais países da Commonwealth. Em muitos desses, seu poder era simbólico, em outros ela tinha poderes específicos como dissolução do parlamento, anúncios de guerra e paz e acordos comerciais.”

Segundo Lucena, no sistema parlamentarista inglês existem duas câmaras, a dos Comuns, eleita pelo voto popular, e a dos Lordes, com seus membros escolhidos pela rainha. Simbolicamente, o primeiro-ministro do Reino Unido governa em nome da própria rainha. É importante dizer que o Chefe de Estado do país também é o líder da Igreja Anglicana e dos serviços diplomáticos:

“A Rainha também era líder dos serviços diplomáticos e das forças armadas britânicas, no entanto, não só o Reino Unido é afetado pela monarca, existem outros 7 estados independentes, como Canadá, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Sri Lanka e até mesmo o Paquistão, que tinham a figura da Rainha como sua chefe de estado”, esclarece Lucena.

Agora existe a expectativa de qual será a imagem que Charles passará assumindo a missão de chefe de estado. Segundo Lucena, a expectativa dos britânicos é de que o príncipe Charles mantenha a linha independente da rainha:

“Do ponto de vista político, a rainha sempre foi muito independente, sem se intrometer em temas políticos e que buscou manter a unidade do Reino Unido, quando houve movimentos separatistas da Escócia. Para os britânicos, é importante que Charles mantenha a mesma linha de sua antecessora, não tomar lados tem sido um mote para a Inglaterra. Em momentos de crise, a rainha foi um farol de esperança para as pessoas e isso é esperado de seu filho também.”

O filho mais velho da rainha deve se tornar rei um dia depois do falecimento dela. A última vez que isso ocorreu foi há mais de setenta anos. A cerimônia do funeral deve acontecer na Inglaterra, na próxima semana.

Sobre os principais desafios que o próximo rei do Reino Unido terá, segundo Lucena, o primeiro desafio do rei se refere às relações com os outros países:

“O Reino Unido está numa situação bastante complicada onde assistimos a um aumento da inflação, o Reino Unido na prática também está sendo o maior apoiador europeu da crise na Ucrânia na guerra tanto financeira quanto militar, ele vai entrar num reinado em que há problemas internos e externos econômicos, financeiros e políticos. Vale lembrar que um dos pontos mais controversos, e que a própria mãe dele teve, foi a questão do referendo da Escócia, onde no passado ela chegou a a opinar.

Lembrando que os monarcas não opinam sobre assuntos relativos a políticas de governança. Mas há um novo referendo escocês, há uma possibilidade e reunificação das Irlandas, portanto, são problemas do próprio Reino Unido que vão acabar caindo no reinado do futuro rei Charles.”

Já do ponto de vista de monarquia, para o futuro rei Charles, adotar um carisma, sendo que hoje o príncipe William é o mais querido e o mais bem visto de todos da família real, será o outro grande desafio:

“Talvez o que seja o mais difícil é que Charles não consegue passar o que é necessário que é o espírito de renovação. Isso só seria de fato adereçado a sociedade através de uma coroação do príncipe William, que não vai ser o caso, entretanto, a monarquia inglesa e principalmente durante a rainha sempre foi vista como um farol de esperança e um farol relacionado a unidade nacional do do Reino Unido.”

Fonte: CNN Brasil