• Lindsay Broadbent
  • The Conversation*

24 maio 2022

Pessoas usando máscaras enquanto caminham pela rua

Crédito, Getty Images

Todos nós conhecemos algumas pessoas que, de alguma forma, conseguiram evitar contrair a covid-19. Ou talvez você seja uma dessas pessoas.

Isso ocorre em razão de um superpoder como os dos personagens da Marvel? Existe alguma razão científica pela qual uma pessoa pode ser resistente à infecção enquanto o vírus parece estar por todas as partes? Ou é simplesmente sorte?

No Reino Unido, mais de 60% das pessoas tiveram resultado positivo em teste de covid-19 ao menos uma vez. No entanto, acredita-se que o número de pessoas realmente infectadas com SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, seja maior.

A taxa estimada de infecções assintomáticas varia de acordo com o estudo, embora a maioria concorde que é uma situação bastante comum.

No entanto, mesmo contabilizando as pessoas que tiveram covid e não perceberam, ainda é provável que haja um grupo de pessoas que nunca foram infectadas.

A razão pela qual algumas pessoas parecem imunes à covid é uma pergunta que persiste durante a pandemia. Assim como acontece com tantas coisas na ciência, não há (ao menos por enquanto) uma resposta fácil.

Podemos descartar a teoria do superpoder da Marvel. Mas é provável que a ciência e a sorte desempenhem um papel. Vamos entender melhor.

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A explicação mais simples é que essas pessoas nunca estiveram em contato com o vírus. Esse certamente pode ser o caso daqueles que estão se protegendo durante a pandemia.

Pessoas com risco significativamente maior de doenças graves, como aquelas com dificuldades cardíacas ou pulmonares crônicas, tiveram dois anos difíceis. E muitas delas continuam tomando precauções para evitar uma possível exposição ao vírus.

Mas mesmo com medidas de segurança intensas, muitas dessas pessoas acabaram contraindo covid.

Devido ao alto nível de transmissão comunitária, particularmente com a variante ômicron, extremamente transmissível, é muito improvável que alguém que vá ao trabalho ou à escola, socialize e faça compras não tenha estado próximo de alguém infectado pelo vírus.

No entanto, existem pessoas que sofreram altos níveis de exposição, como trabalhadores de hospitais ou familiares de pessoas que tiveram covid, que de alguma forma conseguiram evitar o teste positivo.

Sabemos por vários estudos que as vacinas não apenas reduzem o risco de doenças graves, mas também podem diminuir pela metade a chance de transmissão doméstica do SARS-CoV-2. Portanto, certamente a vacinação ajudou alguns contatos próximos a evitar a infecção.

No entanto, é importante notar que esses estudos foram feitos antes da ômicron. Os dados que temos sobre o efeito da vacinação na transmissão da ômicron ainda são limitados.

Mulher passa por exame de covid na Índia

Crédito, EPA

Razão pela qual algumas pessoas parecem imunes à covid é uma pergunta que persiste durante a pandemia

Algumas teorias

Uma teoria para explicar por que certas pessoas não foram infectadas é que, embora expostas ao vírus, ele não consegue estabelecer uma infecção mesmo após entrar nas vias respiratórias delas. Isso pode ser devido à falta de receptores necessários para o SARS-CoV-2 acessar as células.

Uma vez que uma pessoa é infectada, os pesquisadores identificaram que as diferenças na resposta imune ao vírus desempenham um papel fundamental para determinar como será a gravidade dos sintomas.

É possível que uma resposta imune rápida e robusta possa impedir que o vírus seja replicado em grande quantidade em um primeiro momento.

A eficácia da nossa resposta imune à infecção é definida em grande parte pela nossa idade e genética. Diante disso, um estilo de vida saudável certamente ajuda. Por exemplo, sabemos que a deficiência de vitamina D pode aumentar o risco de certas infecções. Não dormir o suficiente também pode ter um efeito prejudicial na capacidade do nosso corpo de combater patógenos invasores.

Os cientistas que estudam as causas subjacentes da covid grave identificaram uma causa genética em quase 20% dos casos críticos. Assim como a genética pode ser um fator determinante na gravidade da doença, nossa composição genética também pode ser a chave para a resistência à infecção por SARS-CoV-2.

Eu investigo a infecção por SARS-CoV-2 em células nasais de doadores humanos. Cultivamos essas células em placas de plástico às quais podemos adicionar vírus e investigar como as células respondem.

Durante nossa investigação, encontramos um doador cujas células não puderam ser infectadas com SARS-CoV-2. Descobrimos algumas mutações genéticas realmente interessantes, incluindo várias relacionadas à resposta imune do corpo à infecção, que podem explicar o porquê.

Uma mutação que identificamos em um gene relacionado à detecção da presença de um vírus já demonstrou conferir resistência à infecção pelo HIV.

Nossa pesquisa é baseada em um pequeno número de doadores e mostra que ainda estamos muito no início da pesquisa sobre suscetibilidade genética ou resistência à infecção.

Existe também a possibilidade de que a infecção anterior com outros tipos de coronavírus possa resultar em imunidade de reação cruzada. É aqui que nosso sistema imunológico pode reconhecer o SARS-CoV-2 como semelhante a um vírus invasor recente e lançar uma resposta imune.

Coronavírus

Crédito, Getty Images

Mesmo levando em consideração que há quem teve covid mas não soube, é provável que exista um grupo de pessoas que nunca foram infetadas

Existem sete coronavírus que infectam humanos: quatro que causam o resfriado comum, além dos que causam Sars (síndrome respiratória aguda grave), Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio) e covid.

A duração dessa imunidade é outra questão. Os coronavírus sazonais que circularam antes de 2020 foram capazes de infectar as mesmas pessoas novamente após 12 meses.

Se você conseguiu evitar a covid até hoje, talvez tenha imunidade natural à infecção por SARS-CoV-2, ou talvez tenha tido sorte.

De qualquer forma, é sensato continuar a tomar precauções contra esse vírus sobre o qual ainda sabemos tão pouco.

*Lindsay Broadbent é pesquisadora da Escola de Medicina, Odontologia e Ciências Biomédicas na Queen’s University, em Belfast, na Irlanda do Norte.

Este artigo foi publicado no The Conversation. Você pode ler a versão original aqui.

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Fonte: BBC

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