Com índices de popularidade em baixa detectados nas últimas pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) terá, de acordo com diretores do Datafolha e do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), muitas dificuldades para mudar sua avaliação até a disputa eleitoral de 2022.

Em seu último levantamento, o Datafolha apurou que 60% dos eleitores não votariam no atual presidente no primeiro turno da eleição de 2022; 53% classificaram seu governo como ruim ou péssimo. Os números do Ipespe são parecidos: 62% descartam dar o voto para Bolsonaro e 54% reprovam sua administração. Entre os entrevistados pelo instituto, 58% querem que o futuro presidente mude totalmente a forma de administração do país.

“O caminho é pedregoso, é uma situação mais complicada do que a de outros presidentes que buscaram a reeleição”, afirma Mauro Paulino, do Datafolha.

Para o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe, uma recuperação de Bolsonaro é “tecnicamente possível”, mas difícil.

A situação delicada do presidente fica mais evidente quando comparada aos índices de reprovação de seus antecessores que, no exercício de um primeiro mandato, tentaram e conseguiram a reeleição. Perto de completarem três anos de governo, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT) eram reprovados por, respectivamente, 20%, 29% e17% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha.

Para Paulino e Lavareda ainda é cedo para dizer se programas sociais como o Auxílio Brasil terão força para virar o jogo.

O diretor-geral do Datafolha ressalta que o Bolsa Família, criado no primeiro governo Lula, foi decisivo para segurar a queda de popularidade do petista gerada pelo escândalo do mensalão.

Mas ele considera difícil que o fenômeno se repita em relação a Bolsonaro e frisa que a alta da inflação diminuiu o poder de compra dos R$ 400 mensais destinados pelo programa a famílias pobres. Lavareda diz que apenas no fim de março será possível avaliar a repercussão junto ao eleitor mais pobre do Auxílio Brasil e de programas como o vale-gás e o de ampliação do microcrédito.

A composição do eleitorado brasileiro demonstra a importância de iniciativas de caráter social. Paulino lembra que metade dos que irão às urnas têm renda familiar de até dois salários mínimos; dois terços vivem em casas onde a soma dos rendimentos alcança três salários mínimos.

E é entre os mais pobres que o ex-presidente Lula amplia sua vantagem sobre Bolsonaro. Na pesquisa Datafolha divulgada no último dia 16, o petista tinha, dependendo dos possíveis adversários, entre 48% e 47% das intenções de voto, contra 22% e 21% do atual presidente. Entre os eleitores mais pobres, a vantagem de Lula subia: entre 56% e 55% contra 16% e 15% de Bolsonaro.

Saúde e economia

Outros itens de pesquisas revelam que temas relacionados à saúde, ao bolso e ao estômago do eleitor – desemprego, inflação, pobreza, fome – têm tudo para, na eleição de 2022, jogar para parte inferior da tabela o tema do combate à corrupção, enredo onipresente e vitorioso na disputa presidencial de 2018.

Em março de 2016, pouco antes do afastamento de Dilma pela Câmara dos Deputados, 37% dos entrevistados afirmaram ao Datafolha que a corrupção era o principal problema do país, seguido da saúde (17%) e desemprego (14%). Os rumos da economia foram priorizados por 7% e a inflação tirava o sono de 3% dos entrevistados.

A última pesquisa do instituto revelou que, para os brasileiros, os principais problemas são saúde (24%), desemprego (14%), economia (12%), fome e miséria (8%) e inflação (7%). A corrupção caiu para uma espécie de Z4 da tabela, priorizada apenas por 4% dos ouvidos.

O discurso anticorrupção de Bolsonaro será ainda prejudicado, segundo os diretores dos institutos, pela realidade de quem agora é governo. Paulino ressalta que o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) tende a se apropriar desta bandeira, até por conta dos acordos políticos do presidente.

Lavareda frisa que, em 2022, Bolsonaro não poderá se apresentar como o antissistema, entrará “normalizado” na disputa, alvo de diversas acusações. Para ele, Moro é que exercerá o papel de “outsider”. O cientista político destaca que, nas eleições municipais de 2020, o eleitor rejeitou o discurso radical, que é uma das características do bolsonarismo.

O radicalismo ideológico também é descartado como fator decisivo em 2022 por Paulino. Segundo ele, a eleição não será uma disputa entre esquerda e direita, uma batalha que passa longe da maioria do eleitor, principalmente do mais pobres. “A questão principal é a luta pela sobrevivência, a questão é comida na mesa”, afirma.

Veja os possíveis candidatos a presidente em 2022:

Fonte: CNN Brasil