No começo, havia o silêncio, depois, a metalinguagem.

Como era de se esperar, diversas homenagens ao ator Chadwick Boseman, morto em 2020, aparecem em “Pantera Negra: Wakanda Forever”, a começar pelo prólogo.

Fazendo um paralelo com a vida fora das telas do cinema, o longa começa com Shuri (Letitia Wright) totalmente inquieta, preocupada com o seu irmão que, pelo que o espectador entende, está doente. A rainha Ramonda (Angela Bassett), aparece em cena e diz que o Rei T’Challa se foi, que está com seus ancestrais agora.

Um grande cortejo se inicia, com música, dança e com um grafite com o rosto de Chadwick aparecendo em meio à cerimônia.

O filme rememora seu protagonista levando o espectador através de uma sequência de cenas emocionantes, recheadas de devoção ao ator que sofreu silenciosamente com câncer de cólon, doença que o vitimou em agosto de 2020, aos 43 anos.

O prólogo de “Pantera Negra” termina com o clássico logo da Marvel Studios, silencioso, composto apenas de imagens de Chadwick Boseman incorporando um dos papéis mais relevantes para a comunidade negra dos últimos anos.

Agora, o filme começa, de fato.

O assunto principal logo é trazido à tona: sem seu protetor, Wakanda está vulnerável a diversas ameaças do mundo exterior.

O elemento Vibranium, metal altamente resistente e com alta absorção de energia, tornou-se alvo de muitas nações ao redor do mundo que, através de mercenários, tentam rouba-lo de Wakanda.

Sua rainha, porém, se defende, acusando tais países de violarem condutas internacionais.

Ali, uma interessante discussão sobre colonialismo surge, mas, infelizmente, é abandonada à medida que o filme avança.

Os vilões da vez não são a Europa ou os Estados Unidos, mas o povo Talokan, uma nação subaquática que, com a fragilidade de Wakanda, vê seu próprio país ameaçado, já que, por lá, Vinarium também é abundante.

Namor (Tenoch Huerta) é o líder desse povo e um dos primeiros mutantes a ser apresentado nessa nova fase do MCU.

Cena de “Pantera Negra: Wakanda Forever” / Marvel Studios

Nos quadrinhos, o mesmo embate existe, porém, no filme, a apresentação do povo Talokan toma muito tempo, um tempo, inclusive, que exploraria mais da jornada do povo de Wakanda tentando se reconectar com as próprias raízes.

O problema, porém, é que essa reconexão nunca chega. Tanto no filme, quanto na vida real, a franquia “Pantera Negra” caminha a passos de formiga para tentar trazer todo o frenesi entregue no primeiro longa.

Sim, a tentativa existe.

As cenas de ação são dinâmicas (com uma computação gráfica melhor do que aquelas que vemos no primeiro filme), a trilha sonora é impecável e as atuações convencem, principalmente com inserções de humor: há piadas muito bem feitas que tratam da diversidade do elenco, por exemplo.

O grande problema, entretanto, é quando assistimos às reuniões do conselho de Wakanda que são longas demais, trazendo lados burocráticos que acrescentam muito pouco à história. Isso faz com que um longa altamente imaginativo perca ritmo, algo muito parecido com que se viu em “Star Wars: A Ameaça Fantasma”, de 1999, por exemplo, um filme com uma responsabilidade muito grande, que carrega nas costas o futuro de uma franquia de sucesso mundial.

O clímax do filme, portanto, não é um clímax. É mais uma negociação, como tantas que vimos ao longo de mais de duas horas e meia.

O novo Pantera Negra, porém, é escolhido, e a cena pós-créditos traz mais pano para manga nos caminhos que a franquia seguirá daqui para a frente. Ao fim do filme, uma última homenagem. Ouvimos o retorno de Rihanna à música, depois de um hiato de seis anos, com duas canções: “Lift Me Up” e “Born Again”.

A primeira é uma canção de ninar que evoca todo o carinho que os fãs sentem por Chadwick Boseman, a segunda, já mais poderosa, funciona como um recado em relação ao que está por vir nessa nova fase do MCU: batalhas, união e muita ação. Pelo menos, assim esperamos.

Fonte: CNN Brasil