A Guiné Equatorial, país da África Central, enfrenta o primeiro surto da doença causada pelo vírus Marburg. O Ministério da Saúde e Bem-Estar Social do país relatou pelo menos oito mortes entre 7 de janeiro e 7 de fevereiro, em duas aldeias localizadas no distrito de Nsock Nsomo, província oriental de Kie-Ntem, na região Rio Muni.

De acordo com a investigação epidemiológica em andamento, os pacientes apresentaram febre, seguida de fraqueza, vômitos e diarreia com presença de sangue. Em dois casos também houve lesões de pele e sangramento da orelha.

Até o dia 9 de fevereiro, oito amostras de sangue foram coletadas de contatos e enviadas ao Centro Interdisciplinar de Pesquisas Médicas de Franceville, no Gabão, onde testaram negativo para os vírus Ebola e Marburg.

Outras oito amostras de sangue foram coletadas de outros contatos e enviadas ao Instituto Pasteur em Dakar, no Senegal, no dia 12. Uma dessas amostras foi coletada de um caso suspeito que foi confirmado para o vírus Marburg por diagnóstico molecular. Este paciente apresentou febre, vômito, diarreia com sangue e convulsões e morreu em 10 de fevereiro no Hospital Distrital de Ebebiyin. O caso também tinha ligações epidemiológicas com quatro óbitos de uma das aldeias do distrito de Nsoc-Nsomo.

Até 21 de fevereiro, o número cumulativo de casos é de nove, incluindo um caso confirmado, quatro casos prováveis e quatro casos suspeitos. Todos os pacientes morreram, um em uma unidade de saúde e os outros oito na comunidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há casos entre profissionais de saúde. Atualmente, 34 contatos estão em acompanhamento.

Características da doença causada pelo vírus Marburg

O vírus Marburg provoca uma doença com taxa de letalidade de até 88%. A infecção foi inicialmente detectada em 1967, após surtos simultâneos em Marburg e Frankfurt, na Alemanha, e em Belgrado, na Sérvia.

Os morcegos frugívoros Rousettus aegyptiacus são considerados hospedeiros naturais do vírus Marburg, a partir dos quais o vírus é então transmitido às pessoas.

O microrganismo se espalha através da transmissão de humano para humano por contato direto, através de fissuras na pele ou membranas das mucosas, com sangue, secreções ou outros fluidos corporais de pessoas infectadas e com superfícies e materiais (como roupas e lençóis) contaminados.

Profissionais de saúde já foram infectados durante o tratamento de pacientes. Cerimônias funerárias que envolvem contato direto com o corpo do falecido também podem contribuir para a transmissão.

O período de incubação varia de 2 a 21 dias. A doença causada começa abruptamente, com febre alta, dor de cabeça forte e mal-estar intenso. Diarreia aquosa, dor abdominal e cólicas, náuseas e vômitos podem começar no terceiro dia. Manifestações hemorrágicas graves aparecem entre 5 e 7 dias após o início dos sintomas, e os casos fatais geralmente apresentam algum tipo de sangramento, geralmente de várias áreas.

Em casos graves, a morte ocorre mais frequentemente entre 8 e 9 dias após o início dos sintomas, geralmente precedida por perda intensa de sangue e choque.

No curso inicial da doença, o diagnóstico clínico é difícil de distinguir de muitas outras doenças febris tropicais devido às semelhanças nos sintomas clínicos. Outras febres hemorrágicas virais devem ser excluídas, incluindo Ebola, bem como malária, febre tifoide, leptospirose, infecções por riquétsias e peste.

A confirmação laboratorial pode ser feita por diferentes testes laboratoriais, como ensaio de imunoabsorção enzimática de captura de anticorpos (Elisa), testes de detecção de captura de antígeno, teste de soroneutralização, diagnóstico molecular (RT-PCR), microscopia eletrônica e isolamento viral por cultura de células.

Embora nenhuma vacina ou tratamento antiviral seja aprovado para tratar o vírus, cuidados de suporte – reidratação com fluidos orais ou intravenosos – e tratamento de sintomas específicos melhoram a sobrevida. Uma variedade de tratamentos potenciais está sendo avaliada, incluindo hemoderivados, terapias imunológicas e terapias medicamentosas.

Esta é a primeira vez que a Guiné Equatorial relata um surto do vírus Marburg. O surto da doença relatado mais recentemente foi em Gana em 2022, com três casos confirmados. Outros surtos de Marburg foram relatados anteriormente na Guiné (2021), Uganda (2017, 2014, 2012, 2007), Angola (2004-2005), República Democrática do Congo (1998 e 2000), Quênia (1990, 1987, 1980) e África do Sul (1975).

Fonte: CNN Brasil