Autoridades europeias sinalizaram que poderiam sancionar as exportações de energia da Rússia depois que surgiram imagens de assassinatos em massa de civis em Bucha, perto da capital ucraniana.

Josep Borrell, o principal diplomata da União Europeia, disse em comunicado nesta segunda-feira (4) que o bloco está trabalhando com “urgência” na elaboração de novas sanções contra a Rússia.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que apoiaria uma proibição total das exportações russas de carvão e petróleo para a União Europeia já nesta semana.

Falando a uma emissora francesa, Macron disse que havia “sinais muito claros” que crimes de guerra foram cometidos em Bucha e que “está bem estabelecido que é o exército russo” o responsável por eles.

“Não podemos deixar passar. Devemos ter sanções que dissuadam com o que aconteceu lá [em Bucha], o que está acontecendo em Mariupol”, disse Macron.

A Europa impôs sanções econômicas punitivas à Rússia desde que o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia em fevereiro.

Mas as exportações de petróleo e gás natural até agora foram poupadas pelo bloco — em parte devido às diferenças entre os Estados-membros que dependem fortemente da energia russa e aqueles que querem avançar mais rápido para atacar o coração da economia russa.

Mas um bloqueio nas exportações de gás da Rússia exacerbaria a inflação crescente nas economias da Europa e poderia levar a Alemanhao maior cliente de energia da Rússia — e outros países à recessão.

“No caso de interrupção das entregas de gás russo, a situação seria agravada”, disse o CEO do Deutsche Bank, Christian Sewing, em comunicado. “Uma recessão substancial na Alemanha dificilmente poderia ser evitada.”

No entanto, cenas chocantes em Bucha no fim de semana — um subúrbio de Kiev que até recentemente era ocupado pelas forças russas — podem persuadir os países dependentes de importações a sofrer o impacto econômico.

Os corpos de civis desarmados foram encontrados espalhados pelas estradas, amarrados e baleados. A Rússia negou qualquer envolvimento no incidente.

As apostas são altas. A União Europeia importou quase 100 bilhões de euros (US$ 110 bilhões) em energia russa no ano passado. A Rússia fornece cerca de 40% das importações de gás natural do bloco e cerca de 27% e 46% de seu petróleo e carvão importados, respectivamente.

Os líderes da UE prometeram reduzir o consumo de gás russo em 66% antes do final deste ano e acabar com a dependência do bloco da energia russa até 2027.

O petróleo russo já foi banido pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, e um embargo de fato mais amplo foi estabelecido à medida que bancos, comerciantes, transportadores e companhias de seguros tentam evitar entrar em conflito com as sanções financeiras.

A Agência Internacional de Energia diz que a Rússia pode ser forçada a limitar sua produção em 3 milhões de barris por dia, a partir deste mês, enquanto luta para encontrar compradores.

Alguns países da UE querem que o bloco vá mais longe e há semanas pedem a proibição do gás natural russo. Um acabou de dar o passo. A primeira-ministra da Lituânia, Ingrida Šimonytė, disse em um tweet no domingo que “de agora em diante, a Lituânia não consumirá um centímetro cúbico de gás russo tóxico“.

A Alemanha até agora descartou uma proibição imediata, mas um ministro do governo disse no domingo que agora deve estar em discussão.

“Tem que haver uma resposta”, disse ela. “Tais crimes não devem ficar sem resposta”, disse a ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, em entrevista à emissora pública ARD.

O ministro das Finanças, Christian Lindne, disse na segunda-feira que a Alemanha apoia novas sanções à Rússia, mas cortar o fornecimento de gás não é possível no momento.

“Temos que colocar mais pressão sobre Putin e temos que isolar a Rússia, temos que cortar todas as relações econômicas com a Rússia, mas no momento não é possível cortar o fornecimento de gás.” Lindner a repórteres em Luxemburgo.

“Precisamos de algum tempo e por isso temos que diferenciar entre petróleo, carvão e gás no momento”, acrescentou.

Alguns temem que a Hungria — outro grande comprador de gás russo — possa anular quaisquer sanções sobre energia. O primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki disse na segunda-feira que tentaria “persuadir” Viktor Orban, o recém-reeleito primeiro-ministro da Hungria e o líder da UE mais próximo de Putin, a apoiar um bloqueio às importações de gás.

“Peço aos líderes da União Europeia que ajam de forma decisiva, implementem ações que finalmente quebrem a máquina de guerra de Putin e tirem seu ar”, disse Morawiecki.

Na semana passada, os Estados Unidos exploraram suas reservas estratégicas de petróleo , liberando 180 milhões de barris de petróleo no mercado global, para ajudar a reduzir os preços da gasolina e combater a redução do suprimento de petróleo russo.

A AIE também concordou em liberar petróleo adicional de seus países membros em uma reunião de emergência na sexta-feira.

— Livvy Doherty, Chris Liakos, Joseph Ataman, Elias Lemercier, Anna Odzeniak, Niamh Kennedy, Inke Kappeler, James Frater e Mark Thompson contribuíram com esta reportagem.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil