• Manish Pandey
  • BBC Newsbeat

25 novembro 2021

Dois albatrozes, com mar ao fundo

Crédito, Francesco Ventura

Os albatrozes são criaturas muito fiéis, mas o aquecimento das águas está colocando esta união à prova

Casais podem romper porque a chama do amor apagou, ou porque simplesmente os parceiros não conseguem encontrar um tempo para ficar juntos.

Mas será que as mudanças climáticas podem levar a términos?

No mundo dos albatrozes, pode ser.

Estas aves, extremamente fiéis comparadas a outros animais, estão se “divorciando” mais.

Em termos humanos, o “divórcio” dos albatrozes é basicamente… traição. Significa que um dos parceiros acasala com um terceiro indivíduo.

Como os humanos, estas aves também têm trajetórias amorosas feitas de contratempos e tentativas — e às vezes falhas — para descobrir a melhor maneira de entrar em um relacionamento.

Dois albatrozes com bicos próximos

Crédito, Getty Images

Estudo que acompanhou casais de albatrozes por 15 anos mostrou aumento no percentual de ‘divorciados’

Mas, no final das contas, quando elas encontram um bom par, normalmente ficam juntos pelo resto da vida.

Historicamente, apenas 1% dos albatrozes se separam depois desse casamento, um percentual muito menor do que entre humanos de países como Brasil e Reino Unido.

“A monogamia e os vínculos de longo prazo são muito comuns para eles (albatrozes)”, diz Francesco Ventura, pesquisador da Universidade de Lisboa e coautor do estudo.

Mas nos anos analisados pelo estudo, em que foi observado um aquecimento das águas, até 8% dos casais de albatrozes se separaram.

‘Divórcio motivado pelo meio ambiente’

Albatroz voando sobre mar

Crédito, Getty Images

Águas mais quentes fazem com que albatrozes tenham que voar mais longe para caçar

O estudo diz que “o divórcio motivado pelo meio ambiente pode ser uma consequência” negligenciada das mudanças climáticas.

Normalmente, o divórcio destas aves é desencadeado quando um casal deixa de se reproduzir. Elas então encontram novos parceiros para a próxima temporada de reprodução.

Mas os pesquisadores perceberam que, mesmo depois de uma temporada de reprodução bem sucedida, os casais se separaram mais do que o normal.

Segundo Francesco, há duas hipóteses para este aumento nos divórcios. A primeira tem a ver com dificuldades dos relacionamentos à distância.

O aquecimento das águas força os pássaros a caçar por mais tempo e voar mais longe.

Se as aves não retornarem a tempo para a temporada de reprodução, os parceiros acabam seguindo a vida com um novo parceiro.

Outra possibilidade é que os hormônios relacionados ao estresse aumentam em ambientes mais hostis, como quando as águas estão mais quentes.

Com condições de reprodução mais difíceis e escassez de alimentos, vem o estresse e a culpa por algum dos membros do casal ter um “desempenho ruim”. Em casos mais extremos, isso pode levar ao divórcio dos albatrozes.

Sabe-se que muitas comunidades de albatrozes pelo mundo estão passando por dificuldades.

Alguns dados de 2017 sugerem que o número de casais reprodutores da espécie é um pouco mais da metade do que eram na década de 1980.

Segundo Francesco, esta redução não é uma preocupação urgente para as Ilhas Malvinas, mas sim para outras comunidades em que o número de aves é restrito.

“As temperaturas estão subindo e vão subir mais, então isso pode causar mais disrupções”, aponta o pesquisador.

Línea

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

Fonte: BBC