Lionel Messi está sobre os ombros de Sergio Aguero, as mãos segurando firmemente a taça da Copa do Mundo no alto.

Um sorriso largo estampa seu rosto, seus olhos brilham; é um momento de pura alegria, a realização do sonho de uma vida após anos de frustração em Copas do Mundo, tudo capturado em uma fração de segundos. Essa é a imagem que Messi escolheu postar para comemorar sua vitória na Copa do Mundo sobre a França – até agora a foto mais curtida na história do Instagram, ultrapassando a foto de um ovo – e que foi capturada pelo fotógrafo da Getty Images, Shaun Botterill, que estava na primeira fileira de um dos momentos mais icônicos da história do esporte.

Botterill disse que os fotógrafos na final da Copa do Mundo no domingo (18) combinaram de um deles ir para o campo e ficar na frente das propagandas da arquibancada principal, onde estava a grande maioria dos fãs da Argentina no Estádio Lusail.

Depois que Messi celebrou com sua família após a apresentação da taça, o capitão da Argentina começou a ir até os fãs, fazendo com que os fotógrafos corressem em direção ao gol.

“Eu quase fiquei preso, mas fiquei preso no lugar certo”, contou Botterill à CNN. “Acho que se a maioria de nós, fotógrafos, for honesta, é sempre preciso um pouco de sorte, e eu tive exatamente isso no domingo à noite.”

“O Messi simplesmente estava lá, e ele não se mexia muito, às vezes a gente é empurrado, mas ele estava lá fazendo todas as poses, com uma mão, as duas mãos na taça.

“A gente não tinha ideia do que ia acontecer no final. Você pode se planejar para o troféu ser levantado, mas não consegue prever como vai ser a corrida, e não sabe o nível de caos que vai ser. Eu estava bem perto dele, a uns dois metros de distância no máximo”, contou o fotógrafo.

“É uma sensação estranha, um pouco surreal, e você pensa: ‘Caramba, ele está bem ali onde você queria’, e isso não acontece sempre”.

“Até mesmo as mãos dele levantando com a taça, acho que a maneira como ele está segurando e sorrindo, ele com certeza teve um momento com os fãs”.

Enquanto Aguero, ex-colega de equipe de Messi que se aposentou em dezembro de 2021 depois de ser diagnosticado com uma arritmia cardíaca, levava seu amigo para o outro lado da arquibancada, Botterill imediatamente pegou um cabo de uma das câmeras remotas atrás do gol, conectou-o à sua câmera e mandou a foto para seus editores.

Por acaso, o filho do Botterill estava trabalhando na edição naquela noite.

“Meu filho mais velho me escreveu uma mensagem e disse: ‘Editei sua foto, pai, está muito linda’”, recordou Botterill.

O feedback de seu filho acabou sendo até muito contido.

Logo em seguida, Botterill “já sabia que a foto era muito boa” – a modéstia é obviamente um traço da família – mas existe sempre a preocupação de que outro fotógrafo em um ângulo ligeiramente diferente tenha capturado uma foto melhor, já que “pequenas margens” podem fazer uma grande diferença.

O fotógrafo britânico admite que o recorte que Messi usou no Instagram não era sua versão favorita da foto, já que a perspectiva mais ampla proporciona mais contexto e capta melhor a aclamação que o atacante argentino estava recebendo.

Mesmo com uma carreira que começou na Copa do Mundo de 1986, Botterill afirmou que esses momentos ainda parecem surreais.

“Na verdade, lembro-me de ter pensado: ‘Nossa, como é que eu vim parar aqui?’” contou Botterill. “Porque, nessas situações, você é levado pelas massas que estão te empurrando. Quando me lembro, não dá para acreditar que aquele cara estava na minha frente nos ombros de Sergio Aguero, segurando a Copa do Mundo, mostrando a taça para seus fãs”.

“Tem um impacto, né? Tem o semblante feliz, tem a alegria, o troféu, e tudo parece meio caótico”, completou Botterill.

Recorde no Instagram

Sendo uma pessoa que não tem redes sociais, Botterill disse que no começo estava totalmente alheio ao fato de que sua foto tinha feito história.

Na quarta-feira (21), o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, confirmou que o post de Messi no Instagram com a foto de Botterill quebrou o recorde de mais curtidas na história do aplicativo. Até aquele momento, a imagem tinha mais de 69 milhões de curtidas –  nesta quinta-feira (22) a imagem tem 71,4 milhões de reações.

Postada em 2019, a foto do ovo superada pelo post de Messi possui 57 milhões de likes.

“Isso é que é engraçado para mim, porque não estou no Instagram, nem sei como cortar uma foto do Instagram”, comentou Botterill.

“Pra mim é hilário o fato de eu ser um cara de 55 anos, que não está no Instagram, e que tem dois filhos que acham tudo isso a coisa mais engraçada do mundo.

“O mais novo me disse: ‘Está em 62 milhões, pai’. Eu sou de uma pequena cidade em Northampton, então é muito bizarro. É meio doido porque eu não tinha ideia do que estava acontecendo”, acrescentou Botterill. “Só percebi quando um colega me mandou uma mensagem dizendo: ‘Ah, você viu quantos likes sua foto tem?’

“Então é um pouco irônico que, de repente, eu sou esse cara mais velho que não está nas redes sociais e que, de carona no post de um grande jogador de futebol, tenha publicado uma foto que ficou famosa. Enfim, é muito engraçado: eu saí do avião e nem sabia o que estava acontecendo”.

Depois de 36 anos na indústria, Botterill contou que ainda sente a mesma paixão e entusiasmo que sentia aos 18 anos, quando estava apenas começando e tentava captar momentos icônicos do esporte.

Depois de cobrir sua primeira Copa do Mundo em 1986 como editor, Botterill fez uma pausa na carreira e até recusou a chance de ir para a Copa do Mundo de 1990, já que estava trabalhando com outras coisas. Ele voltou à fotografia para cobrir a Copa do Mundo de 1994, e foi a todas as edições desde então.

Nascido perto da cidade inglesa de Northampton em 1967, Botterill teve sua primeira grande chance aos 16 anos na agência fundada pelo renomado fotógrafo esportivo Bob Thomas, trabalhando na sala escura de revelação de filmes.

Considerando seu vasto portfólio e o número de eventos que cobriu, Botterill tem dificuldade para escolher sua foto preferida.

Ele revela que fotógrafos são “meio engraçados”, que raramente se demoram muito em uma cena e, em vez disso, estão sempre buscando a “próxima foto”.

Mas quando tudo está no lugar certo, como aconteceu no domingo no Estádio Lusail, Botterill faz uma pausa para apreciar o momento.

“Acho que quando você tira uma foto de um jogador ou de um atleta que realmente chegou lá, sabe, dá até pra discutir se ele é o melhor de todos os tempos; é o Pelé? É o Maradona?”, continuou.

‘Mas a questão é que é o Messi lá em cima, então tirar uma foto muito boa de um grande jogador faz a gente se sentir bem. Ele é grande, é fantástico, é inacreditável. Então isso meio que te impulsiona, te faz querer conseguir uma imagem muito boa”, afirmou.

“Todo mundo pode pensar o que quiser da foto, mas é uma foto muito boa de um dos melhores jogadores de todos os tempos, então essa é a melhor parte pra mim. É por isso que a gente trabalha todos os dias”.

(Publicado por Carolina Farias)

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil