Em entrevista à CNN nesta segunda-feira (3), o economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, avaliou que a reação do mercado neste primeiro dia após o primeiro turno das Eleições, quando o Ibovespa saltou 5,5% e o dólar caiu 4%, foi baseada na composição do Congresso.

“Com o Senado mais à direita – e é uma casa que chancela as propostas que vêm da Câmara – ele poderia evitar ou bloquear propostas mais heterodoxa [de um próximo governo], então o mercado reagiu a isso.”

Segundo Krautz, o mercado hoje refletiu a “mistura de dois efeitos”. “Se o Bolsonaro conseguir ser reeleito, ele tem uma bancada ampla no Congresso para avançar com as propostas dele, uma delas é a privatização. E de outro lado, se for um governo Lula, a gente poderia ter pesos e equilíbrios maiores dentro do Congresso. Até porque, quando a gente olha, a participação dos partidos de esquerda na Câmara, ela pouco se alterou em relação ao atual mandato, a mudança foi mais concentrada no Senado mesmo, e um pouquinho mais pra direita na Câmara.”

Cenário fiscal

O economista destacou também a questão fiscal do país para 2023. “O principal ponto hoje para o Brasil é a questão fiscal. Temos encomendada para o ano que vem uma deterioração por conta dos benefícios que estão sendo dados este ano, temos um ambiente internacional bastante desafiador, com recessão nos Estados Unidos e Europa vindo por aí, com taxas de juros bastante mais altas. O custo das dívidas serão maior ano que vem do que este ano com um primário que pode ser menor ano que vem do que este ano.”

Portanto, segundo Kautz, o mercado observou quais as propostas para o fiscal que garantam que uma possível deterioração para o ano que vem seja transitória, e não permanente. “É o que deixa o mercado preocupado. Como ambos vieram com a ideia de que a regra do teto talvez seja alterada, o mercado ficou um pouco preocupado com o que pode ser a proposta alternativa.”

Isso porque, de acordo com o economista, “a equipe do ministério da Economia vem transparecendo uma proposta bem amarrada”, com alguns direcionamentos em termos de nível de dívida e trajetória de fiscal, os dois compondo uma proposta única. Enquanto do lado do ex-presidente Lula não houve uma clareza tão grande do que ficaria no lugar dessa proposta atual do teto.”

Então, diz, “essa incerteza com o fiscal para o ano que vem e para perspectiva para os próximos anos, trouxe alguma preocupação”, concluiu.

Kautz ainda destacou que a trajetória da divida pública não está em risco. “O ponto é que quanto mais se fizer de estímulos fiscais este ano, mais tem que fazer ajustes no ano que vem. No ambiente em que a economia vai estar recebendo toda a carga de aumento de juros que o Banco Central fez agora, um ambiente internacional mais adverso, com potencial recessão e juros mais altos, e pegando todo impacto de menos estímulos como hoje”, avalia.

O economista ressalta ainda que, para 2023, a receita deve crescer menos que neste ano, porque crescimento vai ser menor. “Então o desafio fiscal é maior”. Stephan Kautz explica que, “o mercado quer, não é um plano mirabolante para resolver tudo no ano que vem, é uma transparência, uma clareza, nessa trajetória para os próximos anos.”

E alerta que o cenário internacional está ficando cada vez mais complicado para o Brasil, por conta das altas de juros. “É cada vez mais importante que esse fiscal seja apresentado de maneira coerente para que a gente possa se blindar para esse ritmo internacional. Quanto mais o mundo sobe juros e menos cresce, o Brasil não é uma ilha, a gente vai sofrer as consequências.”

Ministério da Economia

Stephan Kautz também abordou a dúvida do mercado sobre quem comandará a Economia para 2023, já que, é preciso ter “um arcabouço de montagem de governo que garanta as propostas quando chegarem no Congresso, tenham chance de serem aprovadas.”

“Em termos de nomes, do lado do Bolsonaro está bem claro a continuidade do atual ministro Paulo Guedes, está bastante consolidado. Do lado do Lula falta uma clareza maior. Entendemos que é um perfil que ainda está sendo definido, mas ainda é uma equipe que não tem muita clareza sobre quem vai assumir.

Banco Central

O economista destacou ainda a importância da autonomia do Banco Central, que, segundo ele, também ajudou a acalmar o mercado. “Nunca vivemos isso no período eleitoral, tem sido uma grande vitória. A gente vê que o BC está isolado desse debate [eleitoral], inclusive encerrou o ciclo de aperto monetário e a inflação vem aos poucos desacelerando e será mantida esse Banco Central para um próximo governo. Isso é um sinal de calma para o mercado.”

Para ele, o mercado pré-eleição teve bem menos volatilidade e ansiedade com as eleições deste ano do que nas eleições anteriores, “justamente por esse motivo [da autonomia]”.

(Texto publicado por Ana Carolina Nunes)

Fonte: CNN Brasil