O que já estava muito mal desenhado só está piorando. As recentes investidas do governo e do Congresso em torno dos preços dos combustíveis conseguiram causar ainda mais espanto. A ideia de mexer nas regras de governança das estatais para permitir que se consiga alterar os preços da gasolina e do diesel deveria ser expressamente barrada pelos ministérios da Economia e das Minas e Energia.

A pouca institucionalidade que se conseguiu no mercado de petróleo corre o risco de ser desfeita e, o que é pior, ainda ser bem-vista por um eventual futuro governo petista.

Não à toa, a taxa de câmbio voltou a ficar pressionada e próxima de R$ 5,2 nos últimos dias, o que nos remete à ideia de que há um descompasso muito grande entre o que os fundamentos sugerem para a taxa de câmbio e o que os riscos políticos e fiscais de fato sinalizam para a taxa.

Com efeito, modelos econométricos mostram que a taxa de câmbio de equilíbrio, aquela coerente com os fundamentos de juros da economia, por exemplo, deveria estar em R$ 3,8, bem distante dos quase R$ 5,2 de hoje.

O problema é de tal ordem que a diferença entre o câmbio de equilíbrio e o de mercado é semelhante ao que se viu na época do governo Dilma.

Por trás disso, há o enorme risco fiscal criado naquele momento em torno da continuidade do governo dela, risco esse que se mantém presente quando se vê um governo que deveria ter mais responsabilidade fiscal jogar contra o equilíbrio fiscal desejado para os próximos anos.

Boa parte dessa diferença no câmbio poderia diminuir se houvesse compromisso do atual e do próximo governo com um equilíbrio fiscal efetivo, o que não parece ser o caso.

De fato, a expectativa de inflação começa a subir mais para 2023 por conta dos riscos de diminuição das desonerações feitas este ano. O IPCA já começa a ser visto na casa dos 5% a 6% para o ano que vem, cada vez mais distante da meta de inflação. E, com isso, a Selic terá que subir mais, para pelo menos 13,75%, e o crescimento ano que vem está cada vez mais comprometido, com projeções que indicam recessão ficando mais frequentes.

A essa altura, o desespero do governo em tentar entregar algum resultado para a população tem levado a essas tentativas agressivas, como na questão de desmontar a governança das estatais.

A ideia mais recente de voucher para os caminhoneiros entra na conta eleitoral, pois não são apenas eles que sofrem com a alta dos combustíveis obviamente, mas são os mais vocais contra o governo. De qualquer maneira, um voucher mais geral poderia ser uma solução se não tivessem sido feitas as mudanças no ICMS, como já discutido aqui em colunas anteriores.

As consequências do que tem sido feito devem afetar o próprio governo, pois não mudarão a inflação, pelo contrário, tendem a piorar a mesma. Cada vez que o governo lança alguma solução para os combustíveis, a taxa de câmbio deprecia mais, o real perde mais valor e a inflação pode subir ainda mais.

Politicamente, o governo tem trabalhado arduamente para facilitar a vida da oposição nas eleições deste ano, ao mesmo tempo que vai dificultar a nossa com a herança maldita que está sendo construída este ano. Não adiantam medidas positivas como a privatização da Eletrobras se muito do equilíbrio macro poderá ser perdido por conta do que tem sido feito.

Como temos falado neste espaço, 2023 será um ano particularmente difícil com uma polarização política ainda instalada e uma política econômica sem sinais positivos, como vimos na proposta de governo recém-lançada do PT.

Fonte: CNN Brasil