Consumir cultura e produções de artistas negros, que levantam a bandeira do ativismo racial, é conhecer a história e fortalecer a luta. No próximo domingo (26), um dos maiores nomes desse ativismo completa 80 anos, Gilberto Gil continua a fazer história, questionando e levantando a bandeira da igualdade nos palcos e fora dele.

Oito décadas de vida: mais da metade delas dedicadas à música como símbolo de resistência. Não é de hoje que o repertório de grandes artistas é um instrumento de combate ao preconceito, seja ele de gênero, classe social ou de raça.

O educador do museu Afro Brasil Gabriel Rocha destaca que “a arte é uma das expressões humanas que consegue acessar lugares que outras expressões não acessam”.

E a mensagem que a música leva pode incomodar muita gente. Durante a ditadura militar, esse grito de resistência foi silenciado, calado e isolado, como explica o especialista CNN em Diversidade Mauricio Pestana.

“Eu sempre costumo dizer que o século 20, que eu chamo de século da exclusão, que excluiu a todos nós negros durante quase 100 anos, foi marcado também por grandes ditaduras. E a última grande ditadura militar, de 1964 a 1984, durou 20 anos, e, durante esse período, era proibido falar que havia racismo no Brasil. O regime militar proibia de falar que o Brasil era um país racista”, disse Pestana.

Mauricio Pestana, especialista CNN sobre Diversidade / Divulgação/CNN

Nesse período, as letras das canções passaram a ter um peso a mais de luta. Com o AI5 (ato institucional número 5), –o mais rígido ato imposto pelos militares que revisava até composições– muitos artistas continuaram reivindicando seu lugar de fala e pagaram caro por isso.

Para romper de vez o silêncio, alguns artistas já de nome reconhecido se uniram para fazer uma revolução estética e cultural no país e usaram a música para dar voz a esse movimento. Jair Rodrigues foi um deles.

“A geração do meu pai foi uma geração muito importante, essa comunicação pré-redes sociais. Claro que ele, através da música dele, reportava essas preocupações dele. Meu pai sempre gravou muitas coisas relacionadas a esse orgulho, a essa alegria de ser quem ele era e de vir de onde ele vinha”, disse Jair Oliveira, cantor, compositor, produtor musical e filho de Jair Rodrigues.

Jairzinho, que foi destaque nos anos 1980 no grupo infantil Balão Mágico também sente o peso dessa representatividade.

“Hoje eu tenho vários relatos de várias pessoas que me deixam assim emocionado. Inclusive o próprio Lázaro Ramos, o querido amigo. No livro dele, ele comenta que eu fui o primeiro espelho dele se identificar comigo por eu ser uma das poucas crianças pretas a participar ali daquele universo televisivo”, comenta Jairzinho.

A luta por direitos iguais continua e por reconhecimento na arte independente da cor da pele também.

O cantor e compositor Gilberto Gil comenta a importância em se manifestar contra o racismo.

“Hoje a questão está aberta no mundo inteiro. As manifestações racistas, e na medida em que se manifestam hoje são imediatamente identificadas, são imediatamente repudiadas. Então eu acho importantíssimo que se vocalize, que se diga que o discurso passe a incluir essa questão”, diz Gil.

“São passos que vão sendo dado, são etapas que vão sendo cumpridas. A obtenção ideal de um paraíso final, onde tudo onde todo o convívio seja harmônico”, acrescenta o cantor.

Esse discurso e o canto forte de muitos outros artistas inspiram as novas gerações. A MC Sophia tem 18 anos e usa as redes sociais para levar a mensagem de resistência.

“Tô falando sobre empoderamento que pessoas que não conhecem começam a conhecer. Pessoas que não se aceitam começam a se aceitar. Pessoas que não se amam começam a se amar. Tudo isso através das minhas músicas e através do meu show.”

Fonte: CNN Brasil