O discurso final de Boris Johnson como primeiro-ministro do Reino Unido, nesta terça-feira (6), seguiu o mesmo tom de muitas de suas falas públicas anteriores: exaltou o que vê como suas conquistas, não mencionou seus fracassos ou escândalos e mostrou um lampejo de amargura para aqueles que colaboraram em sua queda.

A lista de reivindicações que Johnson recorreu foi bem ensaiada, mas ele também estava interessado em se definir como estadista. Logo no início, citou sua resposta à crise da Ucrânia, sugerindo que o fornecimento de armas do Reino Unido “ajudou a mudar o curso da maior guerra europeia em 80 anos.”

Ao concluir sua fala, acrescentou entre os triunfos de seu governo: “Falar com clareza e autoridade, da Ucrânia ao pacto de Aukus com a América e a Austrália, porque somos um Reino Unido inteiro, cujos serviços de segurança diplomáticos e forças armadas são tão admirado globalmente.”

Essa ênfase pode sugerir planos futuros de carreira fora do Reino Unido – ou pode ser apenas um reconhecimento tácito de que, em casa, ele deixa o cargo com seu país atolado em uma crise econômica e milhões de famílias lutando para sobreviver.

Johnson recusou a oportunidade de se desculpar pelo Partygate, o escândalo sobre uma série de reuniões da era do lockdown dentro de Downing Street (residência oficial do primeiro-ministro), que serviu como o primeiro e maior efeito para sua queda.

Ele também não reconheceu o declínio da confiança pública em seu governo, ou as constantes acusações de políticos de esquerda e direita de que ele degradou os padrões públicos.

Mas sugeriu que, mesmo depois de um verão para refletir sobre o colapso de sua liderança, ele mantém alguma amargura sobre a forma como foi forçado a sair.

Sua piada sobre o concurso de liderança se tornar uma “corrida de revezamento” depois que os colegas “mudaram as regras” veio bem antes de qualquer menção a sua sucessora, Liz Truss. E ele lembrou ao público sua vitória eleitoral há menos de três anos, o que deixou muitos especialistas prevendo uma nova dinastia política com Johnson no comando.

“Estou orgulhoso de ter cumprido as promessas que fiz ao meu partido quando você teve a gentileza de me escolher, conquistando o maior número desde 1987, e a maior parcela dos votos desde 1979”, disse Johnson.

Mas a política britânica é notoriamente brutal. Seus colegas agiram rapidamente para depor Johnson, depois que o vislumbre desse sucesso eleitoral foi extinto por meses de escândalo e números decrescentes nas pesquisas.

E, agora, depois de ser aplaudido em Downing Street, Johnson está viajando para a Escócia para apresentar formalmente sua renúncia à rainha Elizabeth II e começar sua vida como cidadão comum.

A rainha deve carimbar formalmente a formação de um novo governo. O evento é totalmente cerimonial e geralmente dura apenas alguns minutos, com um carro conduzindo cada ministro ao Palácio de Buckingham –a uma curta distância de Downing Street.

Entretanto, a monarca de 96 anos teve problemas de mobilidade este ano e reduziu suas viagens. Sendo assim, decidiu por ficar no castelo escocês de Balmoral, onde passou grande parte do verão.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil