30 setembro 2022

Trabalhadores eleitorais preparam cédulas eletrônicas antes da eleição presidencial em Porto Alegre

Crédito, Reuters

Só às 17h do dia da eleição, quando a votação se encerra, que cada urna contará eletronicamente os votos digitados ao longo do dia

Você chega diante da urna eletrônica, digita o número do seu candidato e confirma. O que acontece com seu voto depois disso?

Imediatamente, sua escolha será gravada no Registro Digital do Voto, um compartimento dentro da urna que mantém, em ordem aleatória, cada um dos votos registrados naquela máquina.

Neste momento, é como se você estivesse depositando numa velha urna de lona a sua cédula de papel. Ou como se derramasse uma gota de água dentro de um copo. Impossível saber quem despejou cada gota — ou cada voto — na urna.

Só às 17h do dia da eleição, logo após o encerramento da votação, que cada urna contará eletronicamente os votos digitados ao longo do dia.

Quando termina o cálculo, a urna imprime os resultados em ao menos cinco vias, são os chamados boletins de urna. Um deles fica na entrada do lugar de votação. Se for uma sala de aula de escola, onde muitos dos brasileiros costumam votar, por exemplo, é na porta dela que o boletim será colado. As outras cópias são guardadas pela Justiça Eleitoral e entregues a fiscais de partidos políticos. Você também poderá acessar os boletins de urna online, em tempo real.

Mas esse não é o destino final do seu voto. Cada urna também salva os resultados em um pendrive. Esse pendrive viajará até um ponto de transmissão seguro, onde entrará na rede de dados privada do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e desembocará em supercomputadores em Brasília. Essas máquinas vão somar os resultados de mais de 500 mil urnas eletrônicas.

A viagem do seu voto pode acontecer de muitas maneiras. Motoboys a serviço da Justiça Eleitoral, por exemplo, podem coletar os pendrives de uma escola e levá-los até um cartório eleitoral, onde o material será transmitido via rede privativa. Um computador conectado em uma rede VPN, ou seja, privada, no próprio local de votação, também pode fazer essa transmissão. Em áreas remotas, um telefone via satélite ligará o computador que transmitirá os dados. Nunca é usada a internet comum, aquela que você tem em casa.

A partir das 17h20, mais ou menos, os primeiros votos já começam a desembarcar no TSE.

Em Brasília, seu voto entrará nos supercomputadores junto com todos os outros dados na urna da sua seção eleitoral.

Esses potentes computadores são os únicos com as chaves para ler todas as criptografias usadas pelas urnas pra proteger os votos. Eles sabem identificar precisamente de onde veio cada boletim de urna. Se houver qualquer dúvida ou suspeita, o dado não é aceito e uma recontagem pode ser feita na urna original.

Ou seja, não adianta alguém achar que pode usar um outro pendrive, que não o original, e transmitir dados que não correspondam aos votos registrados na urna. Isso porque os supercomputadores sabem identificar e ler a criptografia correspondente a cada pendrive usado em cada uma das mais de 500 mil urnas. Se recebessem dados estranhos, eles seriam rejeitados pelos supercomputadores, haveria um alerta e seria feita uma recontagem na urna cujos dados do pendrive apresentam inconsistências.

Por isso, a chance de uma tentativa de fraude ser bem sucedida é zero, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, contrariando a visão propagada pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição.

Vale lembrar que o que impulsionou o uso da urna eletrônica no Brasil, em 1996, foi a grande quantidade de fraudes com cédulas de papel.

“Chegava uma cédula em branco e se dava um jeito de, no momento de abrir a cédula, escrever alguma coisa, algum rabisco que já virava um voto. Tinha gente que botava até grafite embaixo da unha para abrir uma cédula em branco, aí já dava um rabisco de um número ali e já virava um voto, subtraia-se células… Quer dizer, era uma festa na questão de fraudes”, diz à BBC News Brasil Giuseppe Dutra, ex-secretário de tecnologia do TSE.

Os supercomputadores ficam em uma sala fria e intensamente iluminada, filmada 24 horas por dia, sete dias por semana, e de nível 5 de proteção. Isso significa que, para entrar nela, é preciso passar por cinco portas diferentes. As últimas portas exigem biometria de ao menos duas pessoas para se abrirem. Lá dentro, o barulho das máquinas é intenso e o ar é mais seco do que o normal. Detectores de fumaça permanecem ativados, para garantir que os processadores que dão conta de bilhões de dados possam trabalhar em sua máxima potência e com segurança.

Ninguém fica dentro dessa sala. E nem um ser humano conta votos no TSE. Durante a contagem, a equipe técnica e os fiscais dos partidos ficam todos na sala ao lado, visualizando os trabalhos dos computadores pelos monitores das câmeras e observando os indicativos de eficiência que as máquinas dão.

A cada dez ou 15 minutos, os supercomputadores fornecem uma nova rodada de resultados parciais, já que a cada segundo recebem mais e mais resultados de urnas espalhadas pelo Brasil. Em algumas horas, a quantidade de votos apurados permite determinar quem venceu na disputa. É o fim da ação que você — e outros milhões de brasileiros — iniciou horas antes, ao digitar sua escolha na urna.

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Fonte: BBC