À medida que o mundo aprende mais sobre a nova variante do coronavírus, a Ômicron (B.1.1.529) e a Delta continua a causar o aumento de casos de Covid-19 em grande parte dos Estados Unidos, a necessidade de doses de reforço torna-se mais clara do que nunca — mesmo com os dados crescentes sobre a perda da imunidade.

Na quarta-feira (08), a Pfizer e a BioNTech anunciaram que estudos preliminares de laboratório mostram que uma terceira dose da vacina Pfizer pode melhorar a proteção contra a Ômicron.

A descoberta não foi surpreendente para a Leana Wen, médica emergencial e professora de política e gestão de saúde na Escola de Saúde Pública do Instituto Milken da Universidade George Washington.

Os dados da Pfizer, divulgados esta manhã, não são surpreendentes. Na verdade, isso é o que temos antecipando o tempo todo, que há boas e más notícias.

A má notícia é que há algum grau de escape imunológico, que duas doses podem não funcionar tão bem quanto contra as variantes anteriores.

Mas eu realmente acho que é uma notícia muito boa que a terceira dose parece dar aquele efeito de aumento adicional realmente significativo, disse Wen, analista médica da CNN, à repórter Ana Cabrera, da CNN na quarta-feira (08).

“Então, isso adiciona mais razão para que todos recebam um reforço, certamente quem é elegível”, disse Wen. “Mas também espero que os órgãos de saúde reavaliem rapidamente a definição do que significa ser totalmente vacinado, especialmente à medida do que estamos aprendendo sobre a Ômicron.”

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) recomendam doses de reforço para todos os adultos que receberam sua segunda dose da vacina Moderna ou Pfizer há pelo menos seis meses e para aqueles que receberam uma injeção da Johnson & Johnson há pelo menos dois meses.

Os adultos elegíveis podem receber uma dose de reforço de qualquer uma das três vacinas autorizadas.

Os fabricantes de vacinas já sabem há meses que a imunidade das doses contra a Covid-19 pode diminuir com o tempo, levando à necessidade de um imunizante de reforço.

Os complementos parecem restaurar a imunidade ao ponto em que estava inicialmente.

Seringa com dose de vacina da Pfizer contra Covid-19 em
Especialistas defendem mudança na definição de ‘totalmente vacinado’, nos EUA /  REUTERS/Brendan McDermid

Dois estudos separados de Israel publicados na quarta-feira (08) mostraram que as doses de reforço da vacina contra o coronavírus da Pfizer reduziram as infecções em dez vezes reduziram as mortes por Covid-19 em 90%.

Dois estudos, publicados no The New England Journal of Medicine, analisam os efeitos da campanha de Israel para oferecer reforços a todos com 12 anos ou mais —  por conta da disseminação da variante Delta. Embora as mortes e os casos graves fossem baixos entre as pessoas totalmente vacinadas, as doses de reforço diminuíram ainda mais.

É mais uma evidência de que os complementos da vacina não apenas restauram a imunidade — perdida com o tempo, mas melhoram a proteção contra novas variantes do coronavírus.

A evidência levou alguns especialistas a sugerirem que a definição de estar totalmente vacinado deveria mudar: em vezes de completar duas doses da vacina Pfizer, tomar três.

O que conta como totalmente vacinado nos EUA agora?

A série primária de receber a vacina de coronavírus Pfizer deve ser considerada quando houver três doses, em vez de uma imunização de duas doses mais um reforço, disse Uğur Şahin, CEO da empresa alemã BioNTech, durante uma coletiva de imprensa ontem.

“Com os dados que estão chegando agora sobre a variante Ômicron, está muito claro que nossa vacina — para a variante B.1.1.529 — deve ser uma vacina de três doses”, disse Şahin.

A Pfizer e a BioNTech estão trabalhando para desenvolver um imunizante específico para a variante Ômicron e dizem que ele estará disponível em março, se necessário.

Mas Şahin disse que embora uma vacina específica para a nova variante esteja sendo desenvolvida, as pessoas que são elegíveis para receber as doses de reforço agora não devem esperar.

Uma vez que o benefício da terceira dose contra o vírus Sars-CoV-2 se tornou mais claro nos dados científicos, alguns especialistas em saúde pública perguntaram se a definição dos EUA do que significa ser totalmente vacinado deveria mudar — enquanto outros chamam de “grande salto” para mudar a definição.

Atualmente, o CDC considera as pessoas totalmente vacinadas contra a Covid-19 duas semanas após a segunda dose das vacinas Pfizer/BioNTech ou Moderna ou duas semanas após uma única injeção da vacina Johnson & Johnson.

A CNN entrou em contato com o CDC para comentar sobre a atualização dessa definição.

“Acho que ir da ‘ciência pura’ — que é tão encorajador, fico muito feliz em ouvir essa informação da Pfizer — para as políticas públicas e redefinir o que é vacinado, é um grande salto.

Não vamos complicar as coisas mais do que elas estão no momento”, disse William Schaffner, presidente do departamento de medicina preventiva da Escola de Medicina da Universidade de Vanderbilt e parte do Comitê Consultivo sobre Práticas de Imunização do CDC, disse à Alisyn Camerota e Victor Blackwell da CNN na quarta-feira (08).

“Mudar os requisitos do que significa ser totalmente vacinado, eu acho, tem todos os tipos de efeitos para todas as instituições no país”, disse ele.

“Acho que ainda não chegamos lá.”

Mudança na definição de totalmente vacinado divide opiniões nos EUA REUTERS/Dinuka Liyanawatte

Mas agora é uma questão “de quando, não se” a definição de totalmente vacinado será alterada para incluir três doses, disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.

“É uma definição técnica, quase semântica, e é a definição de requisitos se alguém disser: ‘Você está totalmente vacinado?’ poder frequentar as aulas em uma universidade ou faculdade ou trabalhar em um local de trabalho”, disse Fauci à Kate Bolduan da CNN.

Ele acrescentou que não vê a mudança na definição “amanhã ou na próxima semana”.

Mas, em termos da proteção que uma dose de reforço oferece, “não acho que alguém diria que a imunização ideal será com uma terceira injeção. Quer seja ou não oficialmente alterado na definição, acho que vai ser considerado no dia a dia. Isso está sempre em jogo”, disse Fauci.

Atualmente, apenas cerca de um quarto — 25,9% — dos adultos totalmente vacinados nos Estados Unidos receberam uma dose de reforço da vacina contra o coronavírus, de acordo com O CDC.

Essa porcentagem é um aumento em relação à proporção de adultos vacinados que receberam o reforço há um mês.

O ritmo das vacinações está aumentando rapidamente após uma queda durante o feriado de Ação de Graças (25 de novembro).

Uma média de mais de 950 mil doses de reforço foram notificadas como administradas a cada dia durante a semana passada, respondendo por mais da metade de todas as doses de vacina aplicadas, de acordo com dados do CDC.

Mas ainda há espaço para melhorias na aceitação da vacina. Com base nas orientações do CDC, mais de 144 milhões de adultos devem receber um reforço.

Até agora, apenas cerca de 48 milhões de adultos tomaram a terceira dose.

Quanto aos menores de 18 anos, o órgão regulador dos EUA (FDA) está analisando o pedido da Pfizer para autorização de emergência de reforços Covid-19 para crianças de 16 a 18 anos sem convocar seu Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos Relacionados (VRBPAC, em inglês), de acordo com a porta-voz da FDA, Abby Capobianco.

“A agência já convocou o VRBPAC para amplas discussões a respeito do uso de reforços para vacinas contra o coronavírus e já autorizou reforços para jovens de 18 e 19 anos.

Após análise do pedido da Pfizer, concluímos que não há questões que se beneficiariam de uma discussão adicional pelos membros do comitê”, disse Capobianco em um comunicado enviado por e-mail.

A Pfizer solicitou um reforço nos EUA para essa faixa etária no final de novembro e já recebeu autorização para uso dos imunizantes para maiores de 18 anos.

Não está claro quando uma decisão será tomada em relação ao pedido, mas Capobianco continuou: “Embora o FDA não possa prever quanto tempo levará sua avaliação dos dados e informações, a agência analisará o pedido o mais rapidamente possível.”

Enquanto os reforços estão sendo aplicado nos Estados Unidos, em outras partes do mundo o foco continua sendo colocar as primeiras doses de vacinas como prioridade — tanto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu contra colocar muita ênfase nas doses de reforço.

vacinação crianças e adolescentes covid-19
Pfizer pede autorização para dose de reforço em crianças nos EUA/ Getty Images

Uma chamada global para vacinar os não vacinados

As rodadas iniciais de vacinação contra a Covid-19 ainda são importantes para combater a disseminação do vírus, disse o cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, em uma coletiva de imprensa na quarta-feira.

“Acho que a mensagem é alta e clara, que é o curso primário de vacinação que vai proteger contra doenças graves e morte. Esse deve ser nosso objetivo”, disse Swaminathan em uma coletiva de imprensa.

Ela acrescentou que a OMS recomendou doses adicionais de vacina para pessoas com imunidade comprometida.

Mas entre o público em geral, “infelizmente, mesmo em países que têm suprimentos adequados ou mais do que suprimentos adequados, ainda há uma proporção substancial de pessoas que não foram vacinadas — 30%, 40%, 50% completam o curso de vacinação”, Disse Swaminathan.

“Então, os reforços, infelizmente, provavelmente não são a solução para isso”, disse ela.

“Neste ponto, os benefícios que obteremos ao alcançar aquelas pessoas que não receberam a primeira dose do imunizante serão maiores do que dar vacinas adicionais àqueles que já completaram o ciclo primário”.

(Texto traduzido, leia original em inglês aqui)

Fonte: CNN Brasil