• Vanessa Buschschlüter
  • BBC News
22 agosto 2022

Atualizado Há 3 horas

O coração e a urna em que ele está guardado em exposição no Porto

Crédito, EPA

O coração e a urna em que ele está guardado foram brevemente expostos no Porto antes de partir para a viagem transatlântica

O coração embalsamado de Dom Pedro 1°, primeiro imperador do Brasil, chegou a Brasília nesta segunda-feira (22/8) para as comemorações do bicentenário da independência do país.

O coração, que está conservado há 187 anos em um frasco de vidro com formol, viajou a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira, trazido do Porto, em Portugal, onde fica guardado na igreja de Nossa Senhora da Lapa.

A relíquia chegou a Brasília acompanhada pelo Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.

Na terça-feira (23/8), o coração será recebido no Palácio do Planalto e, em seguida, haverá cerimônia no Palácio Itamaraty, com a presença do corpo diplomático estrangeiro.

O coração ficará exposto para visitação pública no Palácio Itamaraty de 25 de agosto a 5 de setembro e retornará ao Porto em 8 de setembro, segundo nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores.

A Câmara Municipal do Porto autorizou a transferência do órgão preservado para as comemorações do bicentenário do Brasil.

Moreira disse que a relíquia voltará a Portugal depois de aproveitar “a admiração do povo brasileiro”.

“O coração será recebido como um chefe de Estado, será tratado como se Dom Pedro 1° ainda vivesse entre nós”, disse o chefe do cerimonial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Alan Coelho de Séllos.

A relíquia foi recebida em Brasília com todas as honras militares.

Quem foi D. Pedro 1º

Pintura de D. Pedro 1º

Crédito, UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE

Quando D. João retornou a Portugal em 1821, ele deixou o jovem de 22 anos para governar o Brasil como regente

D. Pedro 1º nasceu no ano de 1798 como parte da família real de Portugal, que na época também governava o Brasil.

Portugal já era um império colonial decadente, tinha perdido a força marítima de séculos antes e sofria com problemas políticos e econômicos.

D. João 6º, retratado por historiadores como um mandatário indeciso e vacilante, havia assumido efetivamente o poder no final do século 18 com a morte de seu irmão mais velho e a deterioração do estado mental da rainha, Maria 1ª.

A ascensão de Napoleão Bonaparte e seu ímpeto expansionista pelo continente europeu, no início do século seguinte, levaram D. João 6ª a uma fuga caótica de Portugal — a corte e a infraestrutura real foram amontoadas às pressas em navios e parte da comitiva foi apedrejada pela população no caminho para o porto.

Importante episódio da história brasileira, a vinda da família real em 1808 também representou uma situação inédita na trajetória da Europa: pela primeira vez, um rei do continente colocava os pés no “Novo Mundo”.

O príncipe Pedro, filho de D. João 6º com a espanhola Carlota Joaquina, tinha 9 anos quando aportou no Brasil.

Na adolescência, Pedro se destacou pela prática de atividades físicas e de trabalhos manuais. Ele também tinha paixão pela música, aprendendo a tocar instrumentos como flauta, violino e fagote.

E, apesar de muitas vezes ser retratado como um imperador sem sofisticação, D. Pedro 1º se tornaria um compositor erudito. Aliás, foi ele quem compôs a melodia do Hino da Independência do Brasil, com letra do poeta e político brasileiro Evaristo da Veiga.

A juventude no Rio de Janeiro imperial forjou a imagem do filho de D. João 6º como impulsivo e dado a fortes emoções.

O então príncipe sofreu vários acidentes enquanto dirigia carruagens em alta velocidade que lhe causaram ferimentos e fraturas nas costelas. Por outro lado, tornou-se um excelente cavaleiro.

Ele também sofreu ataques epilépticos que duraram toda a sua vida.

Registros históricos falam de um Pedro 1º indisciplinado e afastado de questões políticas até os 19 anos.

No entanto, tudo indica que as novas ideias que provocaram mudanças dramáticas na Europa e nos Estados Unidos já estavam fermentando na mente do jovem monarca — rumo a uma postura mais liberal, em contraposição à velha ordem absolutista.

Quando D. João retornou a Portugal em 1821, ele deixou o jovem de 22 anos para governar o Brasil como regente.

D. Pedro 1º e Dona Leopoldina em pintura de Arnaud Pallière

Crédito, DOMÍNIO PÚBLICO

D. Pedro 1º e Dona Leopoldina em pintura de Arnaud Pallière

Um ano depois, o jovem regente desafiou o Parlamento português, que buscava manter o Brasil como colônia, e rejeitou sua exigência de que ele voltasse ao seu país de origem.

Em 7 de setembro de 1822 ele proclamou a independência do Brasil e, logo depois, foi coroado imperador.

Antes do retorno a Portugal, por sinal, D. João 6º disse: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja por ti, que me hás de respeitar do que para algum desses aventureiros”.

Esse cenário influenciou D. Pedro 1º até o momento da notória frase “como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico”, publicada em um edital do Senado em 10 de janeiro de 1822 — e não proferida no dia anterior como se pensa popularmente.

D. Pedro voltou a Portugal para lutar pelo direito de sua filha de ascender ao trono português e morreu aos 35 anos de tuberculose.

Quadro de François-René Moreaux que retrata a proclamação da independência brasileira

Crédito, BIBLIOTECA NACIONAL

Quadro de François-René Moreaux que retrata a proclamação da independência brasileira

Em seu leito de morte, o monarca pediu que seu coração fosse retirado do corpo e levado para a cidade do Porto, onde está guardado no altar na igreja de Nossa Senhora da Lapa.

Seu corpo foi transferido para o Brasil em 1972 para marcar o 150º aniversário da independência. Desde então, encontra-se sepultado na Cripta do Monumento à Independência, no Museu do Ipiranga, em São Paulo.

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Fonte: BBC