O ex-presidente Michel Temer (MDB), afirmou, em entrevista à CNN nesta quinta-feira (13), que a discussão sobre a reforma trabalhista, aprovada durante seu mandato, em 2017, não pode ser utilizada de “forma eleitoreira”.

De acordo com Temer, o diálogo produtivo pode ser direcionado a aperfeiçoamentos e algumas alterações, pois novas dinâmicas trabalhistas surgem com o tempo, como a questão dos entregadores de aplicativo.

Temer alertou, porém, que debate não pode ser feito apenas visando a “revogação” da medida ou que, de “maneira eleitoral”, afirmar que ela tirou direitos dos trabalhadores e empregos.

No início da semana passada, lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT) disseram ser a favor da revogação da reforma trabalhista, e que deveria ser “observada com atenção” a reforma do governo espanhol.

Temer criticou a postura petista e disse que logo após o caso o ex-presidente Lula apenas citou melhorias. “Acho que logo detectaram que não seria algo útil para o sistema brasileiro”, pontuou Temer.

Ele também afirmou que a reforma espanhola revogada recentemente não garantia direito aos temporários e foi instaurada por decreto, o que não aconteceu no caso brasileiro.

O ex-presidente afirmou que os direitos dos trabalhadores foram mantidos, visto que “estão na Constituição Federal”. Assim, segundo Temer, a reforma não poderia tirar, e não tirou, nenhum direito.

“[Com a Constituição] elevamos o direito dos trabalhadores, não deixamos em lei ordinária”, afirmou.

Durante a entrevista, Michel Temer pontuou que “não é a lei que cria empregos, ela estabelece ajuste social para o desenvolvimento do país”. Assim, a reforma trabalhista veio “harmonizar as relações entre empregador e empregado”.

Ele também colocou que a reforma proporcionou a criação de empregos, dizendo que foram registrados 529 mil trabalhadores com carteira no último ano de seu governo, em 2018 – ou seja, após a aprovação da medida.

Bolsonaro e STF

Em setembro do ano passado, Temer auxiliou o governo no apaziguamento da relação do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o Supremo Tribunal Federal (STF).

Em uma carta enviada por Bolsonaro ao STF, que foi escrita por Temer, o presidente negou intenção de agredir os poderes.

Durante a entrevista desta quinta, Michel Temer afirmou que ele apenas colaborou com o cumprimento da Constituição.

“O que se revelou, no momento, para mim, é que o povo está cansado de discussões muito violentas. Não só agressões verbais, mas também de natureza física. O gesto só teve relevância pelo desejo do povo”, disse o ex-presidente.

Ele analisou os recentes ataques feitos por Bolsonaro aos integrantes do STF.

O ex-presidente espera que Bolsonaro possa voltar ao período de harmonia, que só surge com o diálogo entre os poderes.

“Acho razoável que se possa fazer críticas, mas mencionar nomes não me parece algo que seja útil. Não colabora para a harmonia dos poderes”, pontuou.

Eleições 2022

Michel Temer também disse na entrevista que é importante que os candidatos à Presidência em 2022 tragam agendas detalhadas, para que a votação seja “ancorada em propostas”. Só assim seria vencida a polarização política.

Segundo o ex-presidente, muitos brasileiros têm feito um “voto contra”, ou seja, votam em um candidato para que o outro não seja eleito, e não porque entendem ser o mais capacitado ou com melhores propostas.

Assim, analisou que a reforma trabalhista também eleva “a qualidade dos pré-candidatos”, pois é uma pauta em discussão.

“Acho importante que o eleitorado vote a favor, convencidamente que ele é o melhor, e não contra A ou B”, disse.

A influência da polarização política nas eleições, analisa Temer, faz com que, muito provavelmente, não haja resultado em primeiro turno. Além disso, dificulta as previsões.

“Ainda é muito cedo [para previsões]. Temos nove meses, vai acontecer muita coisa ainda. A pesquisa [eleitoral] de hoje não retrata o amanhã. As próximas pesquisas podem retratar outra realidade”, afirmou.

Sobre Simone Tebet, candidata do MDB à Presidência, Temer afirmou que ela tem “todas as condições de presidir a República”.

Ainda assim, afirmou que não está fechado para diálogo com o ex-presidente Lula, líder nas pesquisas, pois “a conversa tipifica a democracia”.

Por fim, ele analisou que o “combate à vacina” de Bolsonaro é um equívoco tanto no campo da saúde quanto nas eleições.

Após ressaltar a eficácia das vacinas, Temer afirmou que o presidente acaba também afastando o público eleitor que é à favor da imunização.

Fonte: CNN Brasil