Um levantamento feito pela consultoria Kantar a pedido da CNN mostra que pelo menos quatro cestas de produtos do varejo tiveram queda em volume e unidades nos três primeiros meses de 2022 na comparação com o mesmo período do ano anterior. Para além da inflação, a Kantar aponta o ‘encolhimento’ das embalagens como motivo para isso. O fenômeno é conhecido como ‘reduflação’.

A redução do tamanho da embalagem em si não é ilegal, mas uma portaria editada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública em setembro do ano passado determinou uma série de normas para quando a mudança é feita.

Os fabricantes precisam destacar o novo tamanho em caixa alta, cor contrastante, negrito e posição frontal. O aviso sobre a alteração precisa dizer quanto mudou e qual o novo tamanho. Este último precisa ficar estampado no rótulo por seis meses após a mudança.

Na cesta de bebidas a queda foi a mais expressiva, com 2,7% menos toneladas consumidas, em meio ao aumento de 8,3% no preço dos produtos. O mais interessante é que o número de unidades consumidas na categoria caiu em menor grau, 1%.

Para a head comercial da Kantar, Raquel Ferreira, isso demonstra a diminuição de embalagens. Ela aponta um crescimento do consumo de latas de até 355ml e a queda do consumo de garrafas de 1 litro.

De 2020 até abril deste ano, a Secretaria Nacional do Consumidor recebeu 6.024 reclamações de divergências de peso, volume, tamanho ou quantidade de produtos. Esse número inclui as denúncias feitas no Portal consumidor.gov.br e nos Procons estaduais e municipais.

Nas categorias de hambúrguer, margarina e cereal matinal, o número de unidades no carrinho de compras sobe, mas o volume comprado cai. Essa diferença é mais expressiva com hambúrgueres, 5,6% mais consumidos no início deste ano, mas com 2,6% menos volume.

Já as margarinas têm aumento de 3,5% no número de unidades consumidas, porém queda de 1% no volume. Pacotes de cereais matinais passam a ser 1,7% mais vendidos, mas caem 2,3% em volume.

“Biscoitos foi um caso muito clássico onde isso aconteceu. Nós vimos as famílias optando, tendo que optar por embalagens menores para continuar consumindo. Em chocolates e em bebidas nós vimos essa movimentação também. Um outro caso que também passa pelo encolhimento de embalagens é o mercado de perecíveis, como os empanados”, diz ela.

Para a executiva da Kantar, a principal causa do encolhimento das embalagens é a inflação. Prova disso é que com inflação crescendo na casa de dois dígitos, o valor gasto para cada compra no mercado caiu 2% nesse período. Ou seja, os produtos estão mais caros, mas o dinheiro reservado para o mercado está mais escasso.

Raquel explica que o movimento parte tanto do cliente quanto das empresas, que passaram a se adaptar ao cenário de inflação acelerada para.

“O ticket hoje é menor. Nós temos muitas famílias vivendo hoje de renda informal que dividem a compra, vão mais vezes ao supermercado ao longo do mês e a indústria percebeu isso, então tem sim uma adaptação de portifólio não só em produtos de embalagens menores pra caber nessa renda disponível, nesse ticket que o consumidor tem, mas também tem uma adaptação em onde os consumidores compram, os canais também mudaram. [Ganham força] os canais próximos das suas casas, missões de compra de reposição, comprando aos pouquinhos e repondo a dispensa é algo que nós vemos como comportamento que fez também que a indústria tivesse que se adaptar”, diz ela.

O levantamento da Kantar mostra ainda que a queda em toneladas nos produtos perecíveis foi de 0,9% na comparação entre o primeiro trimestre de 2021 e o mesmo período de 2022. Entre os produtos mais afetados estão o iogurte, leite fermentado e o queijo tipo petit suisse.

A cesta chamada de ‘commodities’ reduziu 0,6% em volume. Os produtos que fazem parte dela são os ingredientes mais básicos da culinária caseira, como grãos, farinhas, temperos e bases de receitas. O leite UHT e o óleo de soja foram os mais afetados na queda. Os produtos dessa categoria dispararam 24%.

Na cesta de mercearia doce, especialmente embalagens menores, os biscoitos e o leite em pó foram os produtos mais afetados. A queda geral foi de 1,7% em volume, com destaque para o crescimento de embalagens individuais, de até 40g, enquanto desacelera o consumo dos pacotes de 100 a 200 gramas.

Fonte: CNN Brasil