Do cacau vem o chocolate – mas para Ilhéus, o fruto trouxe também desenvolvimento, fama e turismo. De achados históricos da cidade aos cenários de livros de Jorge Amado, das fazendas centenárias ao uso do chocolate fora da gastronomia, a cidade oferece ao visitante várias opções para mergulhar no universo que essa planta trouxe para a humanidade.

A partir do século 18, o interesse da aristocracia européia pelo chocolate fez a demanda aumentar e o produto se popularizar. Já em 1904, segundo o historiador André Luiz Rosa Ribeiro, o cacau era o principal produto da Bahia, substituindo o fumo do Recôncavo Baiano. Ilhéus, a principal cidade da região produtora, logo começou a se modernizar. “Com a construção de palacetes, ruas, calçamentos, praças, a principal referência era Paris”, conta o historiador.

Era o auge do cacau, com seus coronéis,  fazendas e uma cidade para desfrutar os resultados da produção. É dessa memória que parte da literatura de um dos filhos mais ilustres de Ilhéus que o sul da Bahia ainda vive. “Jorge Amado talvez seja, na literatura, o tradutor, a pessoa mais importante e significativa que nós produzimos para falar sobre nós mesmos, porque ele é filho da região”, pensa André Luiz. Como o próprio Jorge Amado se referiu à cidade natal, no livro São Jorge dos Ilhéus, de 1944, “a terra dá frutos de ouro”.

O palacete onde o escritor passou parte da infância e da adolescência é hoje a Casa de Cultura Jorge Amado. Entrar no local é reviver um pouco desse passado do apogeu de Ilhéus. O pai dele, um fazendeiro de cacau, construiu o palacete nos anos 1920. Hoje, além de expor fotos, roupas, histórias da família e livros de Jorge Amado, o prédio também tem o poder de levar os visitantes para outra época. Das janelas é possível ver um outro lugar importante para a cidade, o bar Vesúvio, que foi imortalizado no livro Gabriela, Cravo e Canela, de 1958.

Da vida real para os livros

No livro, um dos personagens, Nacib, era o dono do bar e se casa com Gabriela, que era a cozinheira do estabelecimento. Ambos são inspirados em pessoas reais que tinham outros nomes. Do outro lado do quarteirão, funcionava o cabaré e cassino Bataclan, aberto em 1920. Segundo o guia do local e ator Bruno Belém, o adolescente Jorge Amado também se aventurava por ali e teria sido ele que revelou um segredo guardado a sete chaves pelos coronéis: uma passagem oculta entre o bar e o cabaré, para que os coronéis não fossem flagrados ali.

O guia conta as histórias que correm pela cidade: que na hora da missa, os maridos aproveitavam as esposas ocupadas com a fé para ir até o Bataclan, na época comandado pela cafetina Maria Machadão. Uma passagem da cozinha do Vesúvio saía nos quintais de algumas casas até chegar ao bordel e era a rota de fuga dos coronéis. 

Bruno Belém diz que até o bispo foi envolvido na história. “A missa era curta demais e os coronéis, revoltados, foram até a igreja e falaram ‘prolongue a missa’… e o bispo teve que falar ‘seja feita a vossa vontade’. A missa que durava uma hora e meia passou a ser de seis horas”, conta, sob os olhares arregalados dos turistas.

Hoje, essas histórias são narradas durante um tour feito pelo guia no Bataclan, onde os turistas podem conhecer os quartos de quem ali trabalhava e vivia. Um dos principais atrativos é a possibilidade de se vestir como se estivesse no cabaré daqueles tempos para tirar foto e se imaginar na pele daqueles personagens. 

Também é possível se deliciar com o produto mais presente na cidade. À frente da cozinha do Bataclan, o chef Dill Guimarães selecionou pratos que remetem à fama da cidade: queijo coalho com melaço de cacau e petit gateau com sorvete de creme e nibs de cacau são alguns que ele destaca no cardápio. “A gente está em Ilhéus, sul da Bahia, onde o nome cacau é muito forte, por isso temos essa preocupação de fazer a combinação dos pratos para quando o cliente chegar aqui, ter o sabor da região”, explica.

Janini Selva Ginani e família se hospedam em fazenda de cacau Janini Selva Ginani e família se hospedam em fazenda de cacau

Janini Selva Ginani e família se hospedam em fazenda de cacau – Reprodução / TV Brasil

Cacau para relaxar

Se Ilhéus tem muita história e muitos pratos a serem degustados, a terapeuta Mariana Reis pensou em uma outra possibilidade para os visitantes: um spa de cacau e chocolate. No Meu Querido Spa é possível relaxar sem comer ou beber o produto que já foi considerado dos deuses. “Quando a gente fala de cacau e chocolate para a saúde, a gente já associa essa sensação de despertar hormônios da alegria”, diz.

Ali, é possível fazer várias terapias com chocolate. Uma delas é a máscara facial, que não apenas nutre a pele, mas traz outras surpresas. “A sensação do cheiro, as texturas que ele traz, tudo isso é terapêutico”, afirma Mariana. Os benefícios estéticos, segundo ela, vão desde estimular o rejuvenescimento ao clareamento da pele usando o cacau. “Com o chocolate, a gente consegue um resultado de cuidado, bem estar, alegria e é isso o que a gente quer trazer para as pessoas”, explica.

Se a ideia for relaxar, ainda é possível se hospedar em fazendas centenárias da região. A Fazenda Provisão passou de geração em geração dentro da mesma família. Ainda produz cacau, mas também hospeda quem quiser ter a experiência de reviver os tempos áureos de Ilhéus. Além de uma sede em estilo colonial, a fazenda possui objetos de arte sacra do século XIX, que pertenceram a um dos donos, e mantém móveis e utensílios da época dos coronéis.

O visitante também pode conhecer todas as etapas da colheita do cacau, beneficiamento das amêndoas, como fermentação e secagem. Foi o que atraiu a família de Janini Selva Ginani, servidora pública que mora em Brasília, que decidiu se hospedar no local. “Essa oportunidade de viver um pouquinho o que é esse Brasil rural, o que é essa experiência de turismo diferente, próximo a natureza, perto das nossas raízes, foi super gostoso”, garante.

Matéria atualizada às 14h23.

Fonte: Agência Brasil