• Leandro Prazeres
  • Da BBC News Brasil

Há 1 hora

João Dória

Crédito, REUTERS/Adriano Machado

A possível saída do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), da disputa presidencial pode beneficiar a tentativa de uma candidatura na chamada “terceira via” e facilitar o caminho do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas nas eleições para o governo paulista. A avaliação foi feita por especialistas entrevistados pela BBC News Brasil.

A eventual desistência de João Doria da disputa presidencial foi divulgada nesta quinta-feira (31/03) por diversos veículos, como o jornal “Folha de S. Paulo”. Oficialmente, o governador ainda não se pronunciou sobre o assunto. Há a expectativa de que ele se pronuncie sobre o caso nesta tarde.

Segundo a colunista Mônica Bergamo, do jornal “Folha de S. Paulo”, Doria enviou um áudio chamando os rumores sobre sua desistência à candidatura presidencial de “especulação”.

“Estou correndo muito aqui. Mas nem fui, nem voltei. Só para você saber. Só especulação”, disse Doria, de acordo com a jornalista.

A decisão teria sido tomada após o anúncio feito pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de que permaneceria no PSDB. Foi interpretada como uma nova tentativa de Leite de construir sua candidatura à Presidência, apesar de ele ter perdido as prévias do PSDB para Doria, no ano passado.

Além disso, Doria não vinha conseguindo aumentar suas intenções de voto, de acordo com as pesquisas. Levantamento divulgado na semana passada pelo Datafolha mostrava Doria com 2% da preferência dos entrevistados.

Disputa nacional

No plano nacional, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que o principal beneficiado com a possível saída de Doria do páreo é uma eventual candidatura unificada da chamada terceira via, grupo que tem pré-candidatos como o ex-juiz Sergio Moro, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e Eduardo Leite.

“Uma saída de Doria beneficia uma chapa unida de terceira via. E o nome mais imediato é o de Eduardo Leite, que agora aparece como candidato natural dentro do PSDB”, afirmou o cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Ipespe, instituto especializado em pesquisas de opinião pública.

O professor de Ciência Política e diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria, Felipe Nunes, também acredita que a possível saída de Doria da disputa presidencial poder abrir uma brecha para o fortalecimento de uma chapa na chamada “terceira via”.

Segundo ele, as pesquisas indicam que há 30% dos eleitores que não gostaria de ver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) sendo eleitos em 2022. Apesar disso, grande quantidade de candidatos disputando esse eleitorado fragmentava as intenções de voto desse grupo. Agora, o cenário pode mudar, diz Nunes.

“Isso acontecia porque havia um número muito grande de candidatos da chamada terceira via e o eleitor não conseguia escolher um único nome para chamar de seu. Ou seja, a fragmentação de candidaturas diminuía as chances de uma alternativa fora da polarização Lula-Bolsonaro”, explica.

A cientista política e professora do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e de Opinião Pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Carolina Botelho discorda em parte de Lavareda e Nunes. Segundo ela, uma possível saída de Doria teria pouco impacto no cenário nacional.

“Acho que pode mudar pouca coisa porque os eleitores já têm mostrado uma forte adesão às candidaturas de Lula e de Bolsonaro”, afirmou.

Eduardo Leite

Crédito, GUSTAVO MANSUR / PALÁCIO PIRATINI

Decisão de Doria teria sido tomada após o anúncio feito pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de que permaneceria no PSDB

Corrida pelo Palácio dos Bandeirantes

Uma saída de Doria da disputa presidencial não teria possíveis impactos apenas no cenário nacional. Especialistas afirmam que a corrida pelo governo de São Paulo seria uma das mais impactadas. Isso porque há pelo menos dois cenários possíveis.

Em um deles, Doria se mantém no governo de São Paulo, mas não disputa a reeleição. No outro, ele continua no governo e disputa a reeleição, rompendo um acerto com seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), que é pré-candidato ao governo de São Paulo.

No cenário em que Doria fica fora da disputa ao governo paulista, o principal beneficiário, segundo os especialistas é o ex-ministro da infraestrutura Tarcísio de Freitas.

Isso ocorreria porque, se Doria continuar no cargo, o vice-governador Ricardo Garcia (PSDB) não estaria no comando do governo durante a disputa, algo que os especialistas afirmam que seria prejudicial para a sua campanha. E com Garcia com menos “poder de fogo”, a candidatura de Tarcísio de Freitas poderia herdar esses votos.

Pesquisa realizada pela Quaest/Genial e divulgada no dia 17 de março mostra o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) com 24%, o ex-governador de São Paulo Márcio França com 18% e Tarcísio com 9%. Rodrigo Garcia aparecia com 3%.

“Do ponto de vista de São Paulo, uma saída de Doria dificulta a vida de Rodrigo Garcia porque ele seria mais competitivo se estivesse na cadeira de governador. Pense em Márcio França em 2018. Ele não teria tido o bom desempenho que teve se não estivesse comandado o governo”, explica Antônio Lavareda.

Carolina Botelho concorda com Lavareda. Segundo ela, Tarcísio pode acabar com os votos de Rodrigo Garcia.

“Tarcísio tem chances de ganhar esses votos de Rodrigo Garcia. São votos de uma direita paulista que parece estar desacreditada em relação aos rumos do PSDB. E se Tarcísio se beneficia, Bolsonaro se beneficia também”, explicou.

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Fonte: BBC