• Francisco J. Esteban Ruiz
  • The Conversation*

Há 4 horas

Homem cheirando o pescoço de uma mulher

Crédito, Getty Images

Cada pessoa se sente atraída por outra por causas e razões muito diferentes.

É sabido, por exemplo, que o odor corporal influencia na escolha do parceiro.

E você não precisa fazer muitos experimentos para deixar claro que o cheiro ruim ajuda a descartar pretendentes.

Evolutivamente e em diferentes espécies, incluindo humanos, o par é escolhido para complementar de forma otimizada nossos próprios genes, especialmente aqueles relacionados ao sistema imunológico.

O objetivo disso é tornar nossa prole resistente a mais patógenos.

E aí vem algo curioso: embora em nossa espécie existam centenas de formas diferentes de genes que codificam o sistema imunológico, em cada pessoa algumas dessas variantes participam fornecendo seu próprio e particular aroma natural que exalamos e que nos acompanha.

Ou seja, o odor corporal fala diretamente sobre nosso sistema imunológico.

Ainda na década de 1990, cientistas do Instituto Max Planck realizaram os chamados “experimentos de camiseta suada”.

Consistiam nas meninas cheirando as camisas com as quais meninos – sem terem usado perfume, desodorante ou sabonete aromático – dormiram duas noites seguidas.

Assim, eles descobriram que as mulheres preferem o cheiro dos homens que possuem variantes genéticas do sistema imunológico diferentes das delas.

Homem com camiseta suada

Crédito, Getty Images

Cientistas do Instituto Max Planck realizaram os chamados ‘experimentos de camiseta suada’

Além disso, os pesquisadores também mostraram que variantes genéticas do sistema imunológico influenciam os ingredientes do perfume que mulheres e homens escolhem.

Em outras palavras, selecionamos o odor de forma que ele intensifique o próprio sinal olfativo imunogenético.

O aroma pessoal e o perfume que nos identifica

Alguns anos depois, foi realizada uma série de testes em que cada participante foi capaz de reconhecer um perfume específico: aquele ao qual foram adicionadas partículas de seu sistema imunológico que caracterizam seu próprio odor corporal.

E eles também selecionaram aquele perfume como seu favorito.

Do ponto de vista neurobiológico, as imagens de ressonância magnética mostraram que, quando cada participante cheira suas próprias partículas imunológicas, uma região específica do cérebro é ativada: o córtex frontal medial direito.

E isso indica que o ser humano também tem uma estrutura que nos ajuda, levando em consideração o cheiro, a decidir qual parceiro escolher.

Em outras espécies, o órgão responsável é o chamado órgão vomeronasal. Por meio dele são detectados feromônios, por exemplo.

Em humanos, esse órgão é pouco desenvolvido e não é funcional.

O cheiro de atração e o cheiro de sucesso

Com este título sugestivo, foi publicado recentemente um artigo científico em que se analisa a influência de estímulos olfativos, desde fragrâncias delicadas a cheiros ruins, na percepção que temos dos outros.

Ele indica que existe toda uma gama de odores corporais que influenciam o que percebemos de outra pessoa: se ela é atraente para nós, qual pode ser sua idade, se ela está estressada ou sofre de ansiedade, se ela está doente e até traços de personalidade .

E tem mais. Tanto a presença de um aroma como a ausência de um mau cheiro influenciam a confiança que cada pessoa tem em si mesma, o que sem dúvida influencia quão atraente ela é para os outros.

Homem cheirando perfumes

Crédito, Getty Images

Isso nos leva à conhecida importância do olfato na impressão que podemos dar em uma reunião ou em uma entrevista de emprego. Curiosamente, os homens pontuam pior pessoas que usam perfume ou água de colônia, enquanto as mulheres fazem o oposto.

Qual perfume nós escolhemos?

Em geral, pensa-se que usamos um perfume para mascarar o odor corporal e para agradar mais. Porém, foi demonstrado que é a combinação do perfume com o odor do próprio corpo que gera o efeito agradável e pessoal. Claro, na proporção certa que com certeza seremos capazes de encontrar.

Neste sentido, percebemos como mais agradável uma mistura do nosso próprio perfume com o perfume favorito do que o nosso próprio perfume com outro perfume escolhido ao acaso, mesmo que ambas as fragrâncias sejam, de modo geral, consideradas igualmente agradáveis.

Isso implica que o uso de um perfume vai além de evitar o mau cheiro – escolhemos o perfume que melhor combina com o nosso cheiro pessoal. Daí, como dizem os especialistas, a preferência tão particular que cada um tem ao escolher o perfume.

E se não usarmos perfume? Talvez a explicação esteja naquela frase interessante do romance Perfume, de Patrick Süskind:

“O que cobiçava era a fragrância de certas pessoas: aquelas, extremamente raras, que inspiram amor.”

*Francisco José Esteban Ruiz é profesor titular de Biología Celular, na Universidade de Jaén (Espanha)

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

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Fonte: BBC