A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduziu a sua projeção para o crescimento da economia brasileira em 2023, em meio a dados recentes que apontam para uma desaceleração da atividade mais forte do que o esperado, e estima também que o setor industrial deve ficar estagnado no ano, com crescimento zero.

Os números fazem parte do Informe Conjuntural, relatório trimestral da entidade divulgado nesta quarta-feira (12).

“As taxas de juros elevadas vão continuar inibindo a atividade econômica e, por consequência, a atividade industrial”, disse o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Pelas estimativas atualizadas da CNI, o PIB brasileiro deve crescer 1,2% em 2023. Na projeção anterior, do fim do ano passado, a confederação projetava alta de 1,6%.

“Já era previsto um crescimento da economia brasileira mais moderado na comparação com 2022, quando o PIB cresceu 2,9%, mas mudanças importantes no cenário trazem a necessidade de revisão da projeção feita em dezembro de 2022″, explica a CNI em seu relatório.

“Os últimos dados de 2022 mostraram um final de ano com desaceleração mais forte que a prevista da atividade econômica de uma forma geral (…), com os efeitos restritivos da política monetária mais apertada e a redução do ritmo de crescimento do mercado de trabalho, em especial, no setor de serviços”, continua.

Para a indústria, a projeção é de um aumento simbólico de 0,1%, perto da estabilidade, segurado principalmente pelo setor da construção, “ainda que em fim de ciclo de expansão”, de acordo com o relatório, e pela indústria extrativa.

O PIB da indústria de transformação, por sua vez, deve encerrar o ano com uma queda de 1,3%, como efeito direto dos juros mais altos e de uma queda na demanda que já começa a ser sentida pelo setor.

“Ao longo de 2022, o problema de insumos e matérias-primas foi gradativamente superado, embora ainda afete custos e crie dificuldades pontuais”, afirma a CNI.

“Por outro lado, a indústria vem percebendo uma demanda cada vez mais fraca. Primeiro em setores ligados a bens duráveis, cuja demanda é limitada diretamente pelas taxas de juros mais altas, e, no fim de 2022, até mesmo nos setores de bens de consumo não-duráveis, que sofrem os impactos da perda de dinamismo da atividade econômica.”

Apesar da desaceleração em curso e visível na economia, a CNI ainda vê uma inflação elevada no país – de 6% ao fim deste ano, para uma meta que é de 3,25% – e, com isso, também a taxa de juros.

A expectativa é que a Selic, atualmente em 13,75%, possa começar a ser cortada pelo Banco Central em agosto, para chegar ao fim de 2023 nos 11,75% – “patamar bastante elevado, exercendo forte pressão contracionista sobre a economia”, de acordo com a CNI.

Para as contas públicas, a CNI acredita que o país deve voltar a ficar no vermelho, com déficit primário equivalente a 1% do PIB, depois de dois anos de resultados positivos em 2021 e 2022, quando commodities e inflação em alta ajudaram a turbinar a arrecadação.

O rombo é superior à meta prometida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para o ano, que é de um déficit de 0,5%, com uma banda de tolerância entre 0,25% e 0,75%.

As metas de resultado primário fazem parte do conjunto de regras proposto pelo governo em seu novo marco fiscal e, caso o projeto seja aprovado como está, elas terão que ser cumpridas pelo governo.

“Estimamos que a despesa primária do governo federal continue a crescer e, no lado das receitas, 2023, diferentemente de 2022, não será marcado por arrecadações atípicas relacionadas a exploração de recursos naturais e privatizações”, escreveu a CNI.

Fonte: CNN Brasil