Com falcões em gaiolas a tiracolo, os cataris frequentam as praias de Doha mesmo no inverno. Também pudera, o clima facilmente supera os 30ºC nesta época do ano. Foi justamente por isso que os organizadores e a Fifa decidiram transferir a competição para novembro e dezembro.

À primeira vista, você pode achar que o povo catari, que representa apenas um quinto da população local, não tem medo do calor. O traje típico dos homens é uma túnica branca com uma espécie de turbante, ao estilo beduíno. Aliás, a população eles também usa dromedários, que são fortes e ágeis e servem de meio de transporte até para forças oficiais.

Já as mulheres usam preto. Mesmo no calor. Mesmo no verão. A cada vez que a equipe da CNN abordava algum guia local, morador ou até nativo, a explicação para isso era diferente. Há uma lenda de que um poeta visitou o Catar décadas atrás e elogiou a roupa preta de uma mulher, fazendo com que o look todo na cor virasse quase um uniforme oficial.

Acontece que, nos dias de hoje, isso não faz o menor sentido. Na religião islâmica, predominante no país, o corpo da mulher precisa ser coberto, para não despertar atração sexual de homens nas ruas. Justamente por isso não faria sentido o elogio a uma roupa que simplesmente faz com que todas as mulheres fiquem completamente iguais.

Nesse sentido, os cataris também defendem que a cor preta é justamente para evitar despertar desejos, com o objetivo de esconder mesmo os corpos femininos. Já o branco, para os homens, é escolhido por refletir a luz do sol e proteger do calor. Outra história que se conta é que de longe, no deserto, seria possível distinguir homens de mulheres pela cor das roupas. Nenhum entrevistado pela CNN soube justificar a necessidade da distinção.

Ao longo dessa reportagem, contamos e revelamos outras curiosidades do país da Copa do Mundo de 2022, o pequeno e riquíssimo Qatar ou, no português, Catar.

1: Segredos para aliviar o calor

Justamente por conta do calor intenso, diferentemente do resto do mundo, as piscinas no Catar são resfriadas –e não aquecidas. Até porque, parte dos frequentadores usa trajes de banho especiais, que escondem ombros e joelhos, em respeito à doutrina local.

O ar condicionado, no entanto, é largamente utilizado no Catar, de pequenas lojas, a prédios oficiais e todo tipo de veículo. Há alguns lugares da cidade onde os aparelhos são instalados sob o solo, fazendo o vento frio vir debaixo e esfriar praças inteiras. Por conta do intenso consumo de energia para esse tipo de equipamento, Doha tem prédios inteiros que são chamados de Qatar Cooler, ou resfriador do Catar. Eles não têm apartamentos ou conjuntos comerciais, funcionam apenas com um ar condicionado gigante no meio da cidade.

2: Animais domesticados

Para além dos dromedários, usados pelas forças oficiais e também como símbolos nacionais, o povo catari tem o hábito de criar animais silvestres e selvagens. Na Birds Market, feira de pássaros do mercado de Souq Waqif, é possível comprar iguanas, pássaros silvestres, pombas e até falcões.

No caso dos falcões, há lojas inteiras com utensílios e acessórios para os animais, como cordas, gaiolas e protetores de visão, que, ao tampar a vista do animal, fazem com que ele tenha dificuldade de fugir e, segundo os vendedores, ‘não se estresse’ com os visitantes e turistas das lojas. A reportagem da CNN chegou a ver até macacos com coleira, domesticados e criados como pets.

3: Petróleo e pérolas

As peças em ouro puro que enfeitam as vitrines das ruas de Doha são, para além de um chamariz do turismo de luxo, uma verdadeira fonte de renda no Catar. O país teve como uma das bases do desenvolvimento de sua economia, a extração das pérolas. A atividade, no entanto, foi expandida e passou a abranger também o comércio de ouro e diamantes, até pela alta circulação portuária do país no Oriente Médio. Mas o maior pilar da economia do Catar é a exploração dos campos de petróleo.

4: Devoção às quatro rodas

Se o petróleo é farto, o combustível é barato. Pra se ter uma ideia, o litro da gasolina no Catar custa o equivalente a R$ 3,50. O preço baixo, no entanto, está longe de ser a principal explicação para o culto aos carros. Pelo fato de o país ser muito rico e boa parte dos trabalhadores estar acomodada em alojamentos próximos ao local de trabalho, até poucos anos atrás, o transporte era todo feito sobre quatro rodas.

Com a conquista de sediar a Copa do Mundo, o Catar construiu uma imensa e tecnológica estrutura de metrô, que levará os torcedores a sete dos oito estádios e também aos principais pontos turísticos do país. A passagem para o metrô custa o equivalente a R$ 3,50, mas, da mesma forma que os ônibus temporários, para quem tem o hayya card, visto da Copa, sai de graça.

5: Inspirações para os estádios

Da mesma forma que o metrô, sete dos oito estádios foram praticamente erguidos do zero ou completamente reformados para a Copa do Mundo. Eles têm pelo menos 40 mil lugares e tecnologia avançada. As inspirações são as mais variadas.

O Al Thumama Stadium, por exemplo, imita o Gahfiya, uma espécie de touca usada por debaixo do turbate catari, o Ghutra, que é amarrado por uma corda chamada de Agal. O Al Bayt, na cidade de Al Khor, foi feito a partir do formato de tendas de lona usadas pelos beduínos.

O Al Wakrah imita um barco. O Al Rayyan tem em seus painéis fotovoltailcos a silhueta dos relevos do país desértico. Já o estádio 974 foi feito com 974 contâiners no número que remete ao prefixo do país, +974. A promessa é desmontá-lo depois de apenas sete jogos da Copa.

6: Álcool limitado

A proibição de venda e consumo de bebidas alcoólicas no perímetro dos estádios, anunciada pela Fifa e pelo governo local a dois dias da Copa, desencadeou um debate mundial sobre o choque de cultura entre os ocidentais e os moradores do país que sediará a primeira copa na Arábia. Mas a verdade é que bebidas alcoólicas no Catar já eram restritas muito antes disso.

Para se ter uma ideia, uma dose de uísque em uma casa noturna custa o equivalente a R$ 150. O copo de 500 ml de cerveja que será comercializado apenas nas Fun Fests da Fifa custará cerca de R$ 100 com as conversões e impostos para a moeda local, o qatar rial.

Beber ou estar embriagado em locais públicos do Catar é crime e pode render punição em chibatadas. Para se consumir bebidas alcoólicas, vendidas apenas em alguns bares, mercados autorizados e poucos restaurantes é preciso ter uma autorização especial, que varia de acordo com a renda. Há um limite de compra que equivale a uma parcela da renda de quem for autorizado. Nos hotéis, que sediarão as festas da Copa, o consumo é liberado, mas o preço segue sendo muito alto. Funcionários do governo, especialmente de forças oficiais de segurança, não podem sequer frequentar festas em casas noturnas sob o risco de perderem o emprego.

7: A cultura do drive-thru

Seja na pomposa Katara Village ou em bairros mais afastados de Doha, o povo do Catar tem o hábito de comprar e consumir sem sair de dentro dos carros. Na Katara, uma antiga vila de pescadores repaginada para virar ponto turístico da gastronomia local, os quiosques têm vagas demarcadas e os motoristas são atendidos sem precisar se deslocar.

Embora seja comum ver ruas cheias na Copa, ‘bater pé’ pra fazer compras não é nem um pouco usual no Catar –a não ser nos shoppings. No Place Vendôme Mall, por exemplo, há até carrinhos de golfe e assistentes de compra com carrinhos de supermercado pagos por hora para ajudar os clientes.

Fonte: CNN Brasil