Após quase um mês de guerra na Ucrânia, os posicionamentos da China sobre a invasão russa seguem de forma “pragmática” — considerando as relações do país com a Rússia, o Ocidente e os Estados Unidos ao mesmo tempo, avaliou Vicente Ferraro, cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), à CNN neste sábado (19).

Para o pesquisador, apesar das posições de neutralidade adotadas sobre a invasão, é preciso averiguar “quanto a China estaria disposta a sacrificar suas relações econômicas com o Ocidente”, já que elas são maiores do que as estabelecidas com a Rússia, com o qual a potência asiática teve uma aproximação política reforçada nos últimos 20 anos.

“A China é um ator fundamental por sua aproximação com a Rússia ou até em relação com a Ucrânia — já que defende a não-agressão a estados emergentes. A China tem um interesse pragmático geopolítico em fazer pressão no Ocidente, mas também de manter boas relações econômicas, especialmente com os Estados Unidos”, avaliou Ferraro.

Ferraro disse ainda que o posicionamento da China também tem repercussões em outra questão mais próxima ao seu território: as tensões no Mar do Sul da China. O professor disse que as disputas na região saíram do foco internacional no momento, e que essa desescalada pode ser benéfica aos chineses daqui para a frente.

Situação da guerra

O professor também comentou as recentes manifestações de Vladimir Putin a respeito dos motivos da invasão à Ucrânia, após Putin voltar a repetir que as forças russas querem “desnazificar” o país.

Este seria um posicionamento discursivo de “desumanizar o inimigo”, comumente utilizado por potências que invadem outras nações, afirma Vicente Ferraro.

“Isso também foi feito pelos EUA nas guerras no Oriente Médio, na ‘guerra ao terror. As grandes potências tem a tentativa de mobilizar o discurso para legitimar moralmente a invasão”, avaliou o professor.

Neste momento, o pesquisador afirmou que é mais provável que haja um cessar-fogo do que o fim efetivo da guerra. Isso porque a Ucrânia ainda buscará firmar garantias de segurança com a Rússia já que, mesmo que Volodymyr Zelensky já descarte a entrada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ainda haverá a tentativa de firmar um acordo para que não haja mais violações territoriais por parte da Rússia, disse Ferraro.

Fonte: CNN Brasil