O empresário Bruno Mahfuz, 37, se lembra das dificuldades enfrentadas quando, após um acidente, se tornou cadeirante, em 2001.

Além dos obstáculos no deslocamento em si, o problema também estava no destinos, que muitas vezes não conseguiam receber bem quem tem problema de locomoção.

“Imagina ir a um lugar de entretenimento, tipo um bar, sem um banheiro adequado. Isso limita muito a estada”.

Com sua experiência, ele fundou, em 2016, o guiaderodas, aplicativo colaborativo no qual qualquer um avalia a acessibilidade de estabelecimentos comerciais.

Os voluntários respondem perguntas sobre estacionamento, altura das mesas e banheiros, entre outras. “A informação faz toda diferença para as pessoas decidirem aonde vão”, diz Mahfuz. Para estar atualizado, o aplicativo dá peso maior às avaliações mais novas. O guiaderodas tem cerca de 30 mil usuários ativos e avaliações em diversos países.

O aplicativo é gratuito para usuários e se monetiza com um programa para melhorar a acessibilidade em empresas e prédios comerciais.

Nele, as estruturas desses clientes são avaliadas, há pesquisas com usuários do espaço e capacitação de equipes. Quem fizer as mudanças propostas ganha um certificado.

A empresa Livre, de São José dos Campos, busca melhorar a experiência de locomoção e dar autonomia a cadeirantes.

Seu produto, o Kit Livre, transforma qualquer cadeira de rodas num triciclo elétrico.

Uma cadeira motorizada convencional chega no máximo a 7 km/h; as da Livre podem atingir 20 km/h.
“Tem gente que vai ao mercado com o Kit Livre. É mais fácil de passar por obstáculos e ganha-se tempo.

Pode entrar com a cadeira na loja e não precisa de ninguém para ajudar a ir da cadeira para o carro”, diz.
A empresa, que existe desde 2015, já vendeu cerca de 2.300 kits. Eles custam a partir de R$ 8.300. Além disso, aluga cadeiras com os kits para eventos. Cerca de 7.000 pessoas já usaram esse serviço.

Outras empresas apostam em serviços de educação para estimular a inclusão. Suas soluções se baseiam nas chamadas tecnologias assistivas —processos para melhorar a qualidade de vida de pessoas com alguma deficiência.

É o caso do Hand Talk, aplicativo do empresário alagoano Ronaldo Tenório, 36, e de seus dois sócios. Ele diz que a plataforma é como “um google tradutor de línguas orais para línguas de sinais”, capaz de traduzir do português para Libras (Língua Brasileira de Sinais) e do inglês para ASL (American Sign Language).

Os surdos que só se comunicam via Libras vivem como estrangeiros no Brasil, porque as pessoas não conhecem língua de sinais”, afirma Tenório. “O Hand Talk é o primeiro contato para muitos deles com esse universo. Isso quebra a barreira não só dos surdos, mas também dos ouvintes”, completa. Cerca de 70% dos usuários têm audição.

As traduções são feitas por meio de inteligência artificial, a partir de um banco de dados de palavras, que é abastecido constantemente.

Além do aplicativo, gratuito, a Hand Talk oferece a empresas um plugin capaz de traduzir seus sites para Libras, e é daí que vem o faturamento.

Para o futuro, a ideia é oferecer o plugin também ao mercado americano. Entre 10% e 15% dos 5 milhões de usuários do aplicativo são falantes da língua americana de sinais.

O aplicativo Matraquinha, por sua vez, ajuda na educação de crianças autistas. Começou como uma ferramenta para ajudar o filho de seu fundador. Wagner Yamuto, 43, pai de um menino com autismo, se comunicava com o filho por meio de figuras, mostrando-lhe imagens do dia a dia, como alimentos e roupas.

Mas, conforme a criança crescia e tinha novas necessidades, o número de imagens tinha de aumentar.
Veio então a ideia de agrupar imagens num aplicativo, mas ainda com o foco apenas no filho, em 2018. “Comentei com outros pais e viralizou na comunidade autista. Hoje há cerca de 55 mil usuários ativos”, diz ele.

O banco de imagens tem cerca de 200 figuras, divididas em grupos como necessidades, emoções e diversão.

“Em alguns casos, incentiva a criança a falar. Recebi relatos de pais contando que os filhos conseguiam replicar frases como ‘quero beber água’ porque ouviam no aplicativo”.

O Matraquinha se monetiza por meio de publicidade. No futuro, deve cobrar por pacotes de imagens temáticos, como “praia” e “montanha”. Assim, a família pode se preparar com a criança antes de fazer uma viagem de férias.

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