À medida que a atenção do mundo se concentra na crescente crise entre a Rússia e a Ucrânia, os holofotes também se voltam para uma ilha do outro lado do mundo – a autogovernada Taiwan.

Na superfície, pode haver paralelos: tanto Taiwan quanto a Ucrânia são democracias amigas do Ocidente cujo status quo pode ser derrubado por autocracias poderosas.

No caso de Taiwan, o Partido Comunista da China busca uma eventual “reunificação” com a ilha que reivindica como seu território, apesar de nunca tê-la governado – e não descartou a tomada pela força.

Para a Ucrânia, essa ameaça está se desdobrando: o presidente russo, Vladimir Putin, disse que considera russos e ucranianos como “um só povo”, e ainda não está claro até onde ele irá para realizar essa afirmação – na segunda-feira (21) ele declarou duas regiões separatistas, Donetsk e Luhansk, territórios localizados na na Ucrânia, como repúblicas independentes.

Os próprios líderes mundiais sugeriram conexões entre os destinos da Ucrânia e de Taiwan nas últimas semanas.

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, disse que pode “simpatizar” com a situação da Ucrânia, dada sua experiência com “ameaças militares e intimidação da China”.

No Ocidente, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson disse no sábado (19) que “ecos” do que acontece na Ucrânia “serão ouvidos em Taiwan“, enquanto o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em uma viagem à Austrália no início deste mês, disse obliquamente que “outros estão assistindo” a resposta ocidental à Rússia, “mesmo que esteja a meio mundo de distância, na Europa”.

Nos últimos anos, têm aumentado as preocupações de que uma China confiante sob o comando do líder Xi Jinping possa fazer um movimento ousado para assumir o controle de Taiwan, e Pequim provavelmente estará monitorando cuidadosamente a situação na Ucrânia em busca de sinais de como as potências ocidentais responderão – e quão severas essas respostas serão.

Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Canadá, Austrália e Japão anunciaram sanções econômicas para punir Moscou após as medidas de Putin no início desta semana.

Mas há limites para os paralelos e para o quanto Pequim pode obter da crise em espiral na Ucrânia quando se trata de ações futuras em relação a Taiwan.

“A forma como os EUA respondem à Ucrânia não será a mesma de Taiwan, porque a maneira como os EUA construíram seu relacionamento com Taiwan ao longo de décadas é diferente de suas responsabilidades com a Ucrânia, a União Europeia ou a Otan”, disse Lev Nachman, um pesquisador de pós-doutorado no Fairbank Center for Chinese Studies da Universidade de Harvard.

“Mesmo que (Pequim) ainda esteja observando atentamente para ver como o mundo reage à invasão e a um possível redesenho de fronteiras, que provavelmente influenciará o próprio cálculo geopolítico de Pequim, é altamente improvável que Pequim altere drasticamente sua estratégia para Taiwan sobre a Ucrânia”, disse Nachman, que se concentra na política de Taiwan.

Da mesma forma, especialistas rejeitaram a noção de que o foco dos EUA na Europa poderia fornecer uma abertura potencial para a China fazer um movimento em relação a Taiwan. Esses temores são aparentemente agravados pelos laços cada vez mais estreitos de Moscou com Pequim.

Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen /

“Não acredito que os chineses usariam a força contra Taiwan este ano… [Xi] realmente não quer correr nenhum risco”, disse Steve Tsang, diretor do Instituto SOAS China da Universidade de Londres, apontando para o Congresso Nacional do Partido Comunista, a ser realizado em outubro, no qual Xi deve garantir um terceiro mandato histórico no poder.

“Uma aventura militar que não for bem-sucedida não fará muito bem ao seu terceiro mandato, e um fracasso poderia inviabilizá-lo”, acrescentou Tsang.

A dinâmica única EUA-China também complica qualquer tentativa de comparação entre a Ucrânia e Taiwan. A China é o rival de longo prazo mais formidável dos EUA e o único país que pode desafiar os interesses dos EUA em todos os domínios e em todo o mundo, disse David Sacks, pesquisador do Conselho de Relações Exteriores de Nova York.

“Se a China ganhasse o controle de Taiwan, isso mais do que qualquer outra coisa a ajudaria a estabelecer a hegemonia regional. Os líderes chineses entendem que para os Estados Unidos as apostas são diferentes e sua resposta provavelmente seria muito diferente”, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil