Concentrações mais altas de tetrahidrocanabinol ou THC – a parte da planta de maconha que o deixa chapado – estão fazendo com que mais pessoas se tornem viciadas em muitas partes do mundo, segundo uma nova revisão de estudos.

Em comparação com pessoas que usam produtos de baixa potência (tipicamente 5 a 10 miligramas por grama de THC), aqueles que usam cannabis de alta potência são mais propensos a experimentar dependência e impactos na saúde mental, de acordo com o estudo publicado na revista Lancet Psychiatry na segunda-feira (25).

Os cientistas estabeleceram uma ” unidade padrão de THC” de 5 miligramas para pesquisa. Diz-se que essa quantidade produz uma intoxicação leve para usuários não regulares.

“Um dos estudos da mais alta qualidade incluídos em nossa publicação descobriu que o uso de cannabis de alta potência, em comparação com de baixa potência, está associado a um risco quatro vezes maior de dependência”, disse o coautor do estudo, Tom Freeman, professor do departamento de psicologia da Universidade de Bath, no Reino Unido.

Nos Estados Unidos, cerca de 3 em cada 10 pessoas que usam maconha têm transtorno por uso de cannabis, termo médico para dependência de maconha, de acordo com o Centro de Doenças e Prevenção dos EUA.

O Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Dependência encontrou um aumento de 76% nas pessoas que iniciaram o tratamento para dependência de cannabis na última década, “enquanto a potência continuou a aumentar durante o mesmo período”, disse Freeman.

Além disso, “um relatório das Nações Unidas descobriu que nas últimas duas décadas, a proporção de pessoas que procuram tratamento para o vício em cannabis aumentou em todas as regiões do mundo, exceto na África”, afirmou o professor.

Aumento anual na potência

Em um grama de cannabis herbácea, a parte seca e colhida de plantas de maconha que normalmente são fumadas, as concentrações de THC aumentaram aproximadamente 2,9 miligramas a cada ano, de acordo com um estudo de 2020 de Freeman e sua equipe da Universidade de Bath.

Na resina de cannabis, a seiva marrom da planta da qual os extratos e concentrações são feitos, os níveis de THC aumentaram aproximadamente 5,7 miligramas a cada ano de 1975 a 2017, segundo o estudo. Produtos concentrados podem atingir níveis extremamente altos de THC.

Este aumento anual na potência pode não ser claro para os consumidores, temem os especialistas. Embora olhar para o rótulo de um produto possa dizer a uma pessoa a “potência precisa” do THC em uma loja onde a maconha é vendida legalmente, “as pessoas que compram cannabis ilegalmente podem não conseguir acessar informações confiáveis ​​sobre o produto que estão usando”. disse Freeman.

Funcionário de laboratório que trabalha com medicamentos a base de maconha na Alemanha /

“No entanto, certos tipos de cannabis são tipicamente mais potentes do que outros – os extratos são tipicamente mais potentes do que a flor”, acrescentou.

Embora as pessoas tentem ajustar seu consumo, “como adicionar menos cannabis à seu cigarro ou inalar menos profundamente”, esses esforços não funcionam completamente, disse Freeman. Isso significa que “produtos de maior potência ainda fornecem uma dose maior de THC aos consumidores”, afirma.

Impacto na saúde mental

À medida que a maconha se tornou mais potente, os casos de psicose associados à droga aumentaram, segundo a revisão. A psicose é uma “perda de contato com a realidade” que pode ser caracterizada por ouvir vozes e delírios.

“As evidências que ligam a potência da cannabis ao vício e à psicose eram muito claras”, avalia Freeman.

Usuários de maconha de alta potência parecem ter um aumento significativo na probabilidade de desenvolver transtorno de ansiedade generalizada do que aqueles que fumam variedades menos robustas, descobriu um estudo de 2020.

No entanto, a nova revisão de estudos encontrou uma conexão “mais variada” entre o aumento da potência da maconha e depressão e ansiedade, “o que significa que o impacto não é claro para esses outros resultados de saúde mental”, disse Freeman.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil