Poucos pertences em saco plástico marcam volta de brasileiros deportados dos EUA

 

Os voos dos EUA com brasileiros deportados se intensificam no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. No desembarque, cidadãos atordoados, com seus poucos pertences, cenas que comovem funcionários do aeroporto. Nos últimos 12 meses 56.881 brasileiros foram detidos após cruzarem a pé a fronteira com o México

 

Da Redação

Os voos com brasileiros deportados dos EUA se repetem em Belo Horizonte, e se transformou no desembarque mais indesejado, de pessoas que chegam com semblante de visível tristeza e frustação. Segundo dados da “U.S. Customs and Border Protection”, nos últimos 12 meses 56.881 brasileiros foram detidos após cruzarem a pé a fronteira com o México – a maioria mandada de volta ao Brasil. E quem arca com essa conta, evidente, é o governo brasileiro.

 

Cenas de desolação comovem funcionários do aeroporto – No desembarque, esses cidadãos brasileiros excluídos e impedidos de viver o sonho americano, voltam atordoados, com seus poucos pertences guardados em sacos de batata. Muitas das vezes, estão longe de casa e não sabem como voltarão para suas cidades de origem – os voos chegam à capital mineira, mas trazem pessoas de diversos Estados.

Outro ponto agravante é o ter que se explicar às famílias, dizer o que não deu certo, lembrando que muitos desses brasileiros fizeram empréstimos – colocaram seus bens como garantia para pagar os coiotes, no caso de quem tentou entrar pelo deserto. Encarar os fatos, não é tarefa fácil.

Em contrapartida, os funcionários do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, já estão habituados a receber os deportados, que chegam famintos, desolados e precisam restabelecer o contato com a liberdade. Muitos desembarcam aos prantos, cenas que já se tornaram corriqueiras quando aeronaves transportando deportados brasileiros aterrissam em Belo Horizonte.

 

Voos se intensificaram – “É uma cena degradante, ver brasileiros chegando desolados, muitos chorando, outros sem saber o que fazer porque seus sonhos foram mutilados. Não gostaria que isso acontecesse com gente nossa, mas os fatos são evidentes, eles tentaram entrar nos Estados Unidos de forma ilegal, e o resultado não é favorável”, disse uma das funcionárias do aeroporto que preferiu não se identificar.

Ficar atrás das grades, ou mesmo ser algemado, é algo que mexe com o emocional, em se tratando de pessoas que desejavam apenas uma vida melhor nos EUA, não têm um histórico de crimes. “A gente ficava presa o dia inteiro, a comida era servida na cela, e é uma comida que eu não daria nem para um porco. A água é a da pia da cela, onde a gente lava o rosto, as mãos e escova os dentes. Eu dividia cela com uma pessoa só, e como a cela era fechada tinha que fazer as necessidades na frente da outra pessoa”, relata uma jovem de nome Jessica, entre os deportados.

O aumento no número de brasileiros que tentam entrar ilegalmente pela fronteira mexicana já fez várias vítimas, que perderam a vida no deserto.  Em setembro, as autoridades americanas encontraram o corpo da técnica de enfermagem Lenilda Oliveira dos Santos, 49, em um deserto próximo à cidade de Deming, no Novo México. Ela havia cruzado a fronteira com três amigos dias antes, guiados por um coiote mexicano. Durante a travessia ela não aguentou mais caminhar e foi abandonada à própria sorte. Era do Vale do Paraíso, Rondônia – deixou duas filhas.

 

Visto para brasileiros

O contingente de brasileiros que desembarcam no México para tentar a travessia pelo deserto para entrar nos EUA é preocupante. Chamou a atenção das autoridades mexicanas. O governo do presidente Andrés Manuel López Obrador decidiu então que será retomada a exigência de visto de entrada para turistas brasileiros no país. Desde 2004, as duas nações possuem um acordo pelo qual bastava à apresentação do passaporte para garantir o acesso.

Ainda não existe uma data para que a restrição entre em vigor, pois o projeto está em fase de estudos. E de acordo com o texto apresentado, a medida será temporária, e terá como objetivo impedir a entrada de viajantes “cujo perfil não corresponde ao do visitante ou turista genuíno”.

A realidade atesta que o êxodo de brasileiros em busca de oportunidades de trabalho nos últimos três anos se junta ao movimento de outros povos latino-americanos, que levaram os EUA a uma das maiores crises migratórias da história. Há uma aumento recorde no número de pessoas que tentam entrar no país pela fronteira mexicana – o maior dos últimos 20 anos, de acordo com o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas.

A crise fez o democrata Joe Biden, que durante a campanha fez críticas ao seu antecessor pela desumanidade no tratamento aos imigrantes, seguir a mesma linha. As imagens dramáticas de imigrantes haitianos sendo laçados, no mês passado, por guardas de fronteira montados a cavalo rodaram o mundo.

 

 

Fonte: Nossa Gente