RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) reduziu a frequência com que critica em suas redes sociais ações policiais do Rio de Janeiro desde que lançou sua pré-candidatura ao governo do estado, em junho de 2021.

O novo comportamento ocorre no momento em que o pré-candidato do PSB tenta formar uma frente ampla de partidos e setores sociais para sua campanha. Atualmente ele tem o apoio de seis siglas, mas busca atrair mais aliados, como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e até o PSDB, sob comando de Rodrigo Maia no estado.

O pré-candidato vem buscando desvincular sua imagem de radical de esquerda, construída em razão da filiação por 16 anos ao PSOL. Ele trocou a antiga sigla pelo PSB.

Um dos focos do deputado é atrair setores da polícia, em parte ainda resistente ao seu nome. Recentemente, ele celebrou a adesão do ex-comandante da PM e do Bope (Batalhão de Operações Especiais) Alberto Pinheiro Neto a uma lista de apoiadores públicos de sua pré-campanha.

Freixo afirma que a defesa dos direitos humanos faz parte de sua história parlamentar e assim se mantém. Contudo, diz que, como aspirante ao governo, precisa ampliar os temas em que se posiciona, o que pode reduzir a exposição de bandeiras mais antigas.

“Tenho uma história, e ela não mudou. A gente amplia [os temas], porque tem que ampliar. Inflação, fome. Eu tenho que falar para um setor mais amplo. Mas isso não muda nossa atuação nem posicionamento”, afirmou ele.

Desde que anunciou sua candidatura, Freixo não comentou diretamente em suas redes as mortes de Cauã da Silva, 17, e Thiago da Conceição, 16, durante operações policiais, além dos oito homicídios no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, após uma ação da PM, entre outros casos.

Ao ser procurado pela reportagem no início da tarde de terça-feira (27) a respeito de posicionamento sobre a morte de Jhonatan Ribeiro de Almeida, ocorrida na noite de segunda-feira (25) no Jacarezinho, o deputado informou que se manifestaria no mesmo dia, o que acabou ocorrendo.

A família do jovem afirma que ele foi baleado quando estava desarmado. Em uma rede social, o deputado escreveu estar em contato com a equipe da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, que presidiu por dez anos, para auxiliar os parentes da vítima.

“O enterro do menino é hoje [terça]. Tudo tem um prazo. Não podemos ter uma relação oportunística. Sempre trabalhei com assistência e depois de cobrança”, disse à reportagem.

A presidente da comissão, deputada Dani Monteiro (PSOL), confirma que Freixo mantém o auxílio à equipe.

“Quando assumi a presidência, a primeira pessoa que procurei para ter alguma referência foi o Marcelo. Ele foi e continua sendo muito solícito”, disse a deputada.

A última cobrança direta à atuação da polícia feita por Freixo em suas redes sociais havia ocorrido em junho, quando ocorreu a morte de Kathlen Romeu, 24, grávida de oito meses. O comentário foi feito a poucos dias de ele anunciar sua saída do PSOL.

Um mês antes, o parlamentar criticou nas redes a operação policial mais letal da história do estado, no Jacarezinho, em que 28 pessoas foram mortas. Classificou o caso como mais um episódio do “massacre nas favelas”.

No mesmo período em que não fez comentários diretos em suas redes sobre as mortes envolvendo ações policiais, o deputado lamentou publicamente o homicídio de ao menos sete policiais.

“É claro. Não quero ter uma PM bolsonarista. Quando fala [sobre a morte de um PM] estou fazendo uma disputa por essa polícia”, afirmou.

Freixo tem buscando ampliar o diálogo com policiais a fim de quebrar resistências dentro da corporação tendo em vista tanto a eleição como um eventual governo.

Um dos interlocutores do deputado na corporação é o coronel da reserva Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado-Maior da PM. Ele afirma que ressaltou a Freixo a importância de que as críticas direcionadas às ações policiais evitassem generalizações.

“A questão não é a quantidade [de críticas às ações], mas sim a qualidade. Se falar de uma forma generalizada, não diferencia um caso de excesso de uma ação que demandou ações enérgicas”, disse o coronel da reserva. “Quando fala de forma generalizada, não buscando se conectar, acaba se afastando desse grupo.”

A aproximação de Freixo com forças policiais vem desde seu último mandato na Assembleia. Uma das preocupações é evitar que policiais ampliem sua adesão ao bolsonarismo a partir de críticas excessivas a suas ações. O presidente Jair Bolsonaro (PL) deve apoiar a reeleição do governador Cláudio Castro (PL), principal adversário de Freixo.

O deputado do PSB lidera as intenções de voto, segundo pesquisa de abril do Datafolha. Ele tem 22%, em empate técnico com Castro, com 18%.

Fonte: MSN