Turista alemão é processado por reclamar de retratos nazistas em hotel na Áustria

O homem, nomeado em documentos judiciais como “Thomas K”, de acordo com o jornal britânico “The Guardian”, visitou o hotel, que fica na vila de Gerlos, nos alpes tiroleses, junto com a esposa em agosto passado. Depois do check-in, eles notaram duas fotos emolduradas em uma parede perto da entrada do hotel, penduradas acima de um arranjo de flores. Uma mostrava um jovem vestindo um uniforme com um distintivo de águia e suástica; a outra, um homem mais velho.

Usando um pseudônimo, o turista postou críticas nos sites Booking.com e TripAdvisor cerca de uma semana após sua visita – uma em alemão e outra em inglês – com o título “Na entrada, eles exibem uma foto de um avô nazista.”

Ver um nazista homenageado publicamente no hotel fez o homem e sua esposa sentirem indignação e desgosto, segundo a publicação.

“Isso nos fez pensar no que os proprietários do hotel estão tentando nos dizer com esta imagem. Este incidente fala muito sobre o estado atual das coisas nesta região da Áustria. Infelizmente, nosso desejo de visitar esta região montanhosa desapareceu completamente”, diz o texto, segundo o “The Guardian”.

Os proprietários do hotel entraram em contato com os dois sites e pediram a remoção dos comentários, alegando que a descrição “vovô nazista” era difamatória porque as pessoas nas fotos – um era avô e o outro era tio de um dos proprietários – haviam sido apenas membros da Wehrmacht, as forças armadas unificadas da Alemanha nazista de 1935 a 1945.

A Booking excluiu a postagem, mas o TripAdvisor se recusou a atender à solicitação, diz o “The Guardian”.

Combinando o número de reserva da Booking com a avaliação anônima, o proprietário do hotel entrou em contato com o turista e entrou com uma ação contra ele em um tribunal regional em Innsbruck, na Áustria.

Um advogado que atua em nome do proprietário disse que os retratos foram pendurados no saguão em memória de parentes falecidos, como era habitual nas áreas rurais da Áustria. A imagem do tio em um uniforme da Wehrmacht era a única imagem que a família tinha.

O fato de a Wehrmacht ter sido um instrumento do regime nazista, argumentaram os proprietários, não significava que soldados recrutados para o serviço pudessem ser difamados como nazistas.

Depois de pesquisar a identidade dos dois homens nas fotografias nos arquivos nacionais alemães, em Berlim, o turista conseguiu provar que os dois haviam, de fato, ingressado no partido nazista – em 1941 e 1943, respectivamente.

Os proprietários do hotel disseram que não tinham conhecimento da associação de seus parentes.

Em julho, entretanto – quase um ano depois da visita – o tribunal de Innsbruck concedeu ao hotel uma liminar contra o turista, argumentando que sua avaliação também sugeria que o proprietário do hotel compartilhava ou simpatizava com ideias nazistas. O interesse do proprietário do hotel em proteger sua reputação teve precedência sobre o direito à liberdade de expressão do hóspede, determinou o tribunal.

A expectativa é de que o julgamento continue até o final do ano – assim como o de um caso, separado, este na Alemanha – em que o turista acusa outro membro da família do proprietário de assediá-lo por telefone para retirar a avaliação. O post no TripAdvisor foi excluído por causa disso, diz o “The Guardian”.