Do alto de Santa Teresa, você vê o Rio. Só a parte boa: o barulho, a poluição e o pandemônio urbano não chegam àqueles morros. Santa Teresa e Rio são dois destinos distintos. Em Santa, não há praia. Tranquilidade há de sobra. 

O bairro parece ter sido congelado no tempo do bonde elétrico, que ainda circula pelas suas ruas estreitas –muitas delas, calçadas com paralelepípedos.

Falando em calçadas, elas quase não existem por lá. Pedestres, carros, ônibus, motos e bondes compartilham a rua. Por isso, todos andam devagar e com atenção.

Caminhar é o programa em Santa Teresa. Esqueça o chinelo de praia e traga tênis confortáveis. Pratique um pouco de step na academia, porque você vai exercitar as panturrilhas naquelas ladeiras. E contrate um guia. 

O bairro é um museu a céu aberto, mas não tem placas para explicar as histórias.

Pedro Duarte começa o seu “walking tour” –nomes em inglês são inevitáveis, pois Santa recebe muitos turistas estrangeiros– no hotel em que estou. O lugar se chama, veja só, Santa Teresa Hotel.

É a opção mais confortável, charmosa e cara de hospedagem (no quarto mais barato, uma diária em meados de agosto custa R$ 3.355). Já foi bem diferente.

O casarão do hotel nasceu como sede de uma fazenda de café, no século retrasado. A recepção ainda conserva um trecho da parede original, feita com argamassa de óleo de baleia –a pesca do cetáceo era uma atividade importante no Rio de Janeiro.

Até o início deste século, a construção abrigou um hotel para descasados. As pessoas que se separavam não eram bem-quistas pela sociedade, mas precisavam de um lugar para morar. Sobravam as pensões baratas e precárias.

Outras opções de hospedagem são o Mama Shelter, com decoração moderna e restaurante/bar animado, e o Discovery Suites, hotel-boutique situado no largo do Guimarães, o ponto nevrálgico de Santa Teresa.
Pedro me conduz pelas ruas, sempre para baixo. Fico pensando no sofrimento da volta. Vejo o casarão de Carmen Miranda, o solar da família tal e as mansões erguidas por aristocratas para fugir do ar pestilento da cidade baixa. Santa Teresa atravessou quase incólume a epidemia de febre amarela no século 19.

Entramos no ateliê do artista Zemog. O turista tem a impressão inicial de que o bairro é uma enorme feira hippie, com lojinhas de cacarecos brotando a cada duas portas. 

A arte de qualidade está mais escondida: Zemog colocou uma placa na entrada de sua oficina; outros artistas, como Carlos Vergara, preferem trabalhar na maciota, sem o assédio de curiosos.

Zemog nos mostra peças confeccionadas com lâminas de barbear, bacias de alumínio e tampinhas de refrigerante. As panelas de barro no espaço não são instalação alguma. Zemog irá receber amigos para uma feijoada. Ele nos convida.

O passeio prossegue até a escadaria Selarón, decorada com azulejos pelo artista chileno Jorge Selarón (1947-2013). Seus degraus levam até a Lapa, lá embaixo. Nós não descemos. Vamos pegar o bondinho para subir de volta. Ufa.

A linha do bonde já chegou ao sopé do Corcovado, mas atualmente para antes, no morro dos Prazeres, bem na entrada da favela. É alto. É estranhamente bonito. É uma lembrança de que ainda estamos no Rio de Janeiro.

Despeço-me de Pedro e vou ao armazém comprar cervejas para levar à feijoada do Zemog. Chego atrasado. Todos já comeram e estão na cachacinha digestiva. Rita, mulher do artista, faz questão de refogar uma couve fresquinha só para mim. Passo a tarde dando risadas com amigos que acabei de fazer. Outra lembrança de que ainda estava no Rio.

Apesar de encarapitado no centro do Rio de Janeiro, Santa Teresa é um passeio de fim de semana para os cariocas atrás de sossego e boa comida.

Reduto de hippies sem um tostão furado e da esquerda caviar da Guanabara, o bairro faz bonito tanto na alta gastronomia quanto na de boteco.

O Térèze, dentro do Santa Teresa Hotel, é a pedida para jantares românticos. A cozinha está a cargo do uruguaio Esteban Mateu, que mescla a técnica clássica francesa –o hotel, de propriedade do grupo Accor, recebe muitos hóspedes franceses– com ingredientes brasileiros.

As pancs (plantas alimentícias não convencionais) são colhidas dentro da área do hotel. Mandioca (em carioquês, aipim), rapadura, café, caju, pupunha e outras brasilidades surgem ao lado de magret de pato, queijo de cabra e pães de fermentação natural.

A barriga de porco com caldo de caju, castanhas e couve é saborosa e equilibrada. No café da manhã, aberto para não hóspedes, o bufê é complementado por uma seleção de pratos com ovos. Os ovos Santa Teresa são escalfados e servidos com um gostoso molho de cebola e café.

Além da comida, há a vista para a baía de Guanabara. Ela também é um componente relevante no Aprazível, com ambiente mais informal.

Se o Térèze tem sotaque francês, o Aprazível é inapelavelmente brasileiro. Melhor: mineiro. Tão mineiro que envelhece a própria cachaça em barris instalados no restaurante. Para comer, galinhada, moqueca, pastel de angu, pão de queijo.

Mineiro por mineiro, o Bar do Mineiro é mineiro até no nome. O boteco ficou famoso na cidade inteira por servir feijoada todos os dias, no almoço e no jantar. É o único prato do Mineiro servido em porção individual.

Melhor chegar em grupo já que até os petiscos são gigantescos.

A porção mista de pastéis, outra especialidade da casa, traz os seguintes sabores: feijão, bacalhau, palmito, carne, carne-seca com abóbora, frango com Catupiry, siri com Catupiry, tomate seco com queijo, queijo minas, galinha à cabidela e queijo com cogumelo e azeitona. A seleção de cachaças tem mais de 30 rótulos.

Outro ponto tradicional para petiscar e beber é o Armazém São Thiago, que completa o centenário de funcionamento neste ano. Apenas um detalhe: ninguém conhece o boteco pelo nome na placa. Se for pedir informação na rua, pergunte pelo Bar do Gomes.

Gomes se especializou em bolinhos e frituras afins. A lista de sabores inclui banana-da-terra com pesto de coentro, camarão com curry, feijão-branco com linguiça acebolada, polenta com rabada.

Outra página do menu é dedicada às cachaças. Após tanta comida, você vai precisar de uma dose para se animar e subir a ladeira até o hotel.


Onde comer e se hospedar

Hotel Santa Teresa santateresahotelrio.com

Hotel e restaurante Mama Shelter mamashelter.com

Restaurante Aprazível aprazivel.com.br

Bar do Mineiro bardomineiro.net

Bar do Gomes armazemsaothiago.com.br


Pacotes

R$ 379
2 noites no Rio, na Submarino Viagens (submarinoviagens.com.br)
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Com passagem aérea a partir de São Paulo

R$ 523 
2 noites no Rio, na New Age Tour Operator (newage.tur.br)
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Com passeios, traslados e seguro-viagem. Sem passagem aérea

R$ 650
3 noites no Rio, na RCA Turismo (rcaturismo.com.br)
Saída em 15 de setembro. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui traslados, passeios e seguro-viagem. Sem passagem aérea

R$ 678 
2 noites no Rio, na Prodigy Santos Dumont (prodigysantosdumont.com.br)
Saída em 16 de agosto. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Sem passagem aérea

R$ 703 
3 noites no Rio, na CVC (cvc.com.br)
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui aéreo a partir de SP

R$ 786
4 noites no Rio, na Schultz (schultz.com.br)
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui passeio. Sem aéreo

R$ 863 
3 noites no Rio, na CVC (cvc.com.br)
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Com traslados e passeios. Inclui transporte rodoviário

R$ 1.096 
4 noites no Rio, na Maringá Lazer (maringalazer.com.br)
Saída em 3 de novembro. Hospedagem em apartamento duplo, com café da manhã. Inclui passeios e aéreo a partir de São Paulo

R$ 1.240
4 noites no Rio, na Abreu (abreutur.com.br)
Saída em 17 de outubro. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui traslados e aéreo a partir de São Paulo

R$ 1.435 
4 noites no Rio, na Azul Viagens (azulviagens.com.br)
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui passeio e traslados. Com passagem aérea a partir de Brasília 

Fonte: Folha de S.Paulo