No início do ano passado estive em Bancoc, na Tailândia. Mais para o final do ano, foi divulgado um estudo mostrando que é a cidade mais visitada do mundo (pelo quarto ano consecutivo): foram quase 23 milhões de turistas em 2018. 

Em segundo e terceiro lugar estão, respectivamente, Paris (França) e Londres (Reino Unido) –as posições das duas se inverteram em relação a 2017.

A lista é elaborada há dez anos pela Mastercard (o estudo se chama Global Destination Cities Index) e toma como base viajantes que passem ao menos uma noite em seu destino (fora de seu país de origem). 

Nessa última edição, outros dados chamam a atenção. Por exemplo, a constatação de que o mercado do turismo vem se aquecendo: em dez anos, houve um crescimento médio anual de 6,5% no número de viajantes, e de 7,4% em seus gastos.

Nos últimos nove anos, Bancoc, Paris e Londres se mantiveram sempre como os três principais destinos. 

No levantamento, as outras sete cidades que lideram a lista são Dubai (Emirados Árabes Unidos), Singapura, Kuala Lumpur (Malásia), Nova York (EUA), Istambul (Turquia), Tóquio (Japão) e Antália (Turquia).

Do décimo primeiro ao vigésimo lugar seguem-se Seul (Coreia do Sul), Osaka (Japão), Meca (Arábia Saudita), Phuket (Tailândia), Pattaya (Tailândia), Milão (Itália), Barcelona (Espanha), Palma de Mallorca (Espanha), Bali (Indonésia) e Hong Kong.

A forte presença de cidades do Oriente tem uma explicação, além do potencial turístico de suas belezas naturais e sítios culturais: é o fato de que a China continental tornou-se uma potência também na emissão de turismo.

Hoje, no mundo, somente os Estados Unidos mandam mais gente para viajar pelo mundo, vindo a China em segundo lugar –e para os chineses, prevalecem como alvo cidades mais próximas do país. 

Os três principais destinos dos norte-americanos são Cancún (México), Toronto (Canadá) e Londres. Já para os chineses são Bancoc, Seul e Tóquio.

O que chama a atenção, para os brasileiros, nesse tipo de pesquisa é a gigantesca discrepância entre o potencial turístico do país e a sua quase insignificância no cenário mundial. 

Se tomarmos o número de visitantes recebidos pela cidade que está em décimo lugar nesse levantamento, Antália, veremos que ele é da ordem de 12,5 milhões de pessoas. Não para toda a Turquia, apenas para Antália.

Pois esse número é praticamente o dobro do que o Brasil inteiro recebe por ano (em 2018 foram cerca de 6,6 milhões, o mesmo que no ano anterior).

Mesmo tomando o vigésimo lugar da lista, Hong Kong, em 2018 ela recebeu mais de oito milhões de visitantes, também mais do que todo o Brasil.

Se formos considerar os números por cidade, as campeãs nacionais, São Paulo e Rio de Janeiro, estariam ainda mais longe na comparação.

Uma curiosidade é que, embora sendo quantitativamente fraco como destino internacional, o Brasil se mostra mais generoso como fonte de turistas e dinheiro para os outros. 

No ranking de países emissores de turistas, liderado por Estados Unidos e China, o Brasil aparece entre os 20 maiores.

Em 2018, ficou em 17º lugar. E os três principais destinos para onde levamos e gastamos nosso dinheiro foram, pela ordem, Nova York, Orlando e Miami (todos nos Estados Unidos).

Está aí uma distorção a ser enfrentada. Pela diversidade de culturas e de paisagens, além de atrações cosmopolitas nas grandes cidades, o Brasil tem um enorme abismo entre o que pode oferecer aos turistas e o movimento de chegada de viajantes que de fato ocorre. Ironicamente, nos destacamos muito mais em gastar dinheiro viajando para um país riquíssimo.

Uma curiosidade: o único outro país da América Latina nessa lista de emissores de turista a estar entre os 20 maiores é a Argentina, em 16º lugar. 

Mas, em 2018, seus três principais destinos foram bem diferentes dos nossos. Pela ordem, Porto Alegre, Montevidéu (Uruguai) e Valparaiso (Chile).

Fonte: Folha de S.Paulo