Se hoje Fernando de Noronha é um destino que chama a atenção por suas belezas naturais, no passado, sua principal qualidade era a posição geográfica. 


Em tempos de guerra, era um “porta-aviões em pleno oceano Atlântico, estratégica demais para ficar desocupada”, explica a historiadora noronhense Grazielle Rodrigues, 42.


A ilha foi descoberta em 1503 por Américo Vespúcio e doada em 1504 como capitania hereditária a Fernan de Loronha, explorador de pau-brasil que financiava expedições marítimas. Ficou abandonada por décadas e foi invadida por holandeses e franceses.


Em 1737, para não perder aquele território, Portugal iniciou a construção do sistema de defesa da ilha, com dez fortes. Há vestígios deles pela região, com canhões pelo caminho, como no mirante São João Baptista dos Dois Irmãos, que dá vista para a Baía dos Porcos.


A Fortaleza de Nossa Senhora dos Remédios, de 1737, é a que está em melhor estado de conservação, porque passa por uma restauração feita pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O ponto permite ver, ao mesmo tempo, os morros do Pico e Dois Irmãos. 


Em 1738, a ilha foi transformada em colônia carcerária, e recebia os condenados do continente. 


Havia celas solitárias, como as da Fortaleza de Nossa Senhora dos Remédios, e um espaço para pernoite dos prisioneiros com mau comportamento, a Aldeia dos Sentenciados —suas ruínas podem ser vistas na Vila dos Remédios. 




Os presos que não apresentavam riscos viviam em casas e faziam trabalhos forçados durante o dia. Eles podiam levar as famílias para acompanhá-los durante a pena. “Quando o presídio foi desativado, alguns ficaram aqui. Tem cinco famílias na ilha que descendem deles”, diz Grazielle.


A colônia carcerária recebeu de ladrões de cavalos até falsificadores de dinheiro, passando por presos políticos no início do Estado Novo. Foi encerrada em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, e a ilha foi ocupada por 3.000 militares dos Exércitos brasileiro e americano.


“Noronha foi usada para monitorar qualquer movimentação do Eixo, por céu ou mar”, diz Grazielle. 


Boa parte da população mais antiga que vive hoje ali chegou nessa época, para trabalhar no Exército ou prestar serviços aos militares.


Entre 1958 e 1965, na Guerra Fria, o Exército do EUA voltou à ilha, que foi administrada por militares até 1988, quando se tornou território de Pernambuco. 


Na ditadura militar, entre 1964 e 1967, Noronha voltou a ser presídio político. Entre os presos da época estava Miguel Arraes (1916-2005), então governador pernambucano.


Várias agências fazem trilhas por pontos históricos. O passeio de duas horas e meia custa R$ 110 na agência Atalaia. Outra opção é visitar o Memorial Noronhense, na Vila dos Remédios, que tem entrada gratuita e painéis que relatam a trajetória do arquipélago.


A jornalista viajou a convite da Booking.com


Fonte: Folha de S.Paulo