A região de Abrolhos promete observação de baleias jubarte na temporada de reprodução, que vai de julho a novembro. 

O Parque Nacional Marinho é uma unidade de conservação com 87.943 hectares, biodiversidade elevada e grandes recifes de corais —que chamaram a atenção até do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882), quando ele colocou os pés ali, em 1832.

O local é o principal berçário de baleias jubarte no Atlântico Sul. Mas chuvas e ventos fortes podem trazer uma maré de azar e salgar os planos. Nesse caso, a água doce e o mangue são opções para passar o tempo até que os barcos possam voltar ao mar.

Mesmo depois da tormenta, a agitação das águas torna arriscada a navegação. A saída é ficar em terra, em alguma das cidades que fazem parte da costa das baleias, formada por Caravelas, Nova Viçosa, Prado, Alcobaça e Mucuri. 

As praias, que no período do verão exibem água límpida, apresentavam mar barrento e lixo, aparentemente trazido pela maré, no período em que a reportagem as visitou.

Algumas dessas praias têm histórias conhecidas, como por exemplo Pontal da Barra e Praia Lugar Comum, em Nova Viçosa. Nessa área, onde há o encontro entre o mar e o rio Peruípe, formam-se ondulações nas areias, as quais serviram de base para algumas das obras do artista plástico e ativista ambiental Frans Krajcberg. Polonês naturalizado brasileiro e morador ilustre de Nova Viçosa, ele morreu em 2017, deixando ali, no Sítio Natura, todo o seu acervo.

Fora dos pontos turísticos mais óbvios de Nova Viçosa e das praias mais movimentadas está o manguezal na Reserva Extrativista (resex) de Cassurubá, que é o maior da Bahia. A área de mangue no local, de acordo com a ONG WWF-Brasil, é de 10.589 hectares, o que representa pouco mais de 10% da área total da reserva. O Brasil tem a segunda maior cobertura de manguezais —ecossistema que é importante berçário de espécies— do mundo.

No passeio de barco pela área que abrange o mangue, que sai do porto da cidade e segue pelo rio Peruípe, com alguma sorte é possível ver até botos. Pelo caminho, as escunas passam próximo a estreitos braços do rio, somente acessíveis por embarcações menores.

Uma das possibilidades é seguir até Barra Velha, na Ilha Cassumba, uma comunidade tradicional que vive na resex de Cassurubá. Engloba também áreas dos municípios de Alcobaça e Caravelas. 

O trajeto dura em torno de 40 minutos de barco pelo mangue, e há pelo menos duas empresas, a Iracema Passeios e a Abrolhos Sub (pela Pousada Recanto dos Corais), que fazem o trajeto até a ilha. As escunas levam no mínimo dez pessoas e no máximo 40, e os valores variam de R$ 60 a 100 por pessoa. Outra opção é o fretamento da embarcação, que sai de R$ 500 a R$ 1.500.

O desembarque em Barra Velha ocorre em um cais de madeira, ao redor do qual é possível ver o movimento e os pequenos buracos dos caranguejos no mangue.

Pela dificuldade de acesso, as praias de Barra Velha são praticamente desertas. Nelas, os coqueiros à beira-mar são frequentemente atingidos pelas ondas e ficam com suas raízes expostas —é preciso tomar cuidado ao caminhar pelo local para não tropeçar e nem acabar com o pé espetado.

No lugar não há infraestrutura turística básica —a ilha tem problemas de acesso a serviços. Durante a visita da reportagem, poços para coleta de água limpa estavam em processo de instalação. 
A comunidade local, contudo, oferece alguns serviços para os visitantes. No verão é possível encontrar, na faixa de areia, um pequeno quiosque que serve petiscos.

Já no povoado, Penha, como é conhecida Maria da Penha Matos, 67, serve refeição a turistas por R$ 25. Porém, é preciso avisá-la com alguma antecedência, pelo menos na manhã do dia em que almoçará na ilha —os pescadores no porto podem ajudar no contato com ela. No cardápio há peixe frito, moquecas e galinhada, feita com as aves criadas pela própria Penha.

Perto da casa-restaurante, próximo à escola da comunidade, é possível ouvir algumas histórias locais do mais antigo morador da ilha, Domingos Correia do Nascimento, 97, descendente de portugueses e africanos, segundo ele mesmo. Os bisavós dele ali se instalaram e, desde então, a família viveu no local. Somente dois dos 12 filhos de Domingos, contudo, ainda moram na região. 

“Tinha muito morador aqui. Depois foi morrendo, outros foram se mudando, e a ilha ficou vazia”, conta Domingos, que diz gostar de conversar com os visitantes.

Acervo do artista Krajcberg sofre com infestação de insetos e deterioração

O Sítio Natura, lugar onde viveu o premiado artista plástico Frans Krajcberg (1921-2017) e que abriga hoje o seu acervo, fica em Nova Viçosa, incrustado em área remanescente de mata atlântica, próximo ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.

Nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, ele ficou conhecido por obras que tinham como matéria-prima troncos e raízes calcinados. Escultor, fotógrafo, gravador e pintor, era também ativista ambiental, denunciava queimadas e desmatamento.

A “casa do Tarzan”, como Krajcberg chamava seu ateliê, fica no alto de um pequi. O local tem o quarto arrumado, livros e utensílios de higiene à vista no banheiro. No tronco estão as cinzas do artista, protegidas por um aquário.

Todo o caminho é cercado por mata e, após uma breve caminhada, o visitante chega à área que concentra as obras do escultor-ativista ambiental.

Em frente ao prédio que funciona como administração do lugar ocorre o primeiro contato com uma das partes destinadas a obras sobre Amazônia e queimadas, mas a reportagem não conseguiu se aproximar delas: a área era, em julho, uma das mais atingidas por uma infestação de pulgas. 

O governo da Bahia, detentor do acervo e do espaço após a morte do artista, informa que não se deve chamar o espaço de museu e que planeja retirar as obras de lá. O desejo de Krajcberg é que seu espaço virasse museu.

No centro do principal prédio há uma homenagem a Chico Mendes, seringueiro e ativista assassinado em 1988, em Xapuri, no Acre. A obra reproduz o processo de extração de látex da seringueira —mas o líquido que escorre dos sulcos na madeira é vermelho, e não branco. Vermelho, por sinal, é a cor que impera entre os grandes galhos e raízes retorcidos das obras. 

Pelos cantos desse prédio há obras já quebradas. O espaço sofre infiltrações. Cupins e brocas também ameaçam.

Dois homens que trabalhavam com Krajcberg são os responsáveis por manutenção e restauro. Evangelho Félix, 46, começou como pedreiro. “Ele não podia mais pegar no pesado, então era a gente que fazia. Mas as ideias eram dele. O olhar era dele”, diz. O outro ajudante é Oraldo do Nascimento Costa, 56, que viajava com o artista para procurar madeira. A reportagem presenciou uma das peças em processo de restauração, atacada por brocas.

Só é possível visitar o Sítio Natura a partir de agendamento por ofício ([email protected]). 
Segundo Marlene Figueredo Gonçalves, da administração, há um esforço para que o espaço esteja aberto ao público geral nas datas de aniversário e morte de Krajcberg.

João Carlos de Oliveira, diretor-geral do Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia), diz que o espaço é agressivo para esse tipo de obra. “É um meio ambiente extremamente nocivo pela presença da umidade, do clima e tudo mais.”

O local onde Krajcberg morou será destinado a contar a história dele e terá como peça central a preservação ambiental, diz o diretor. “Nossa expectativa é ter a obra salvaguardada e que tenha fruição em um equipamento que possa preservar este acervo.”

O inventário do acervo está pronto. O Ipac afirma que tem feito a gestão e acompanhamento de descupinização e retirada de pulgas. 

O repórter viajou a convite do estado da Bahia


PACOTES

R$ 1.179 
4 noites em Nova Viçosa, na Sem Fronteiras (semfronteiras.tur.br)
Em quarto duplo, com café da manhã, na pousada Cheiro de Mar. Sem passeios ou extras. Preço por pessoa, que inclui passagens aéreas a partir de São Paulo (com desembarque na cidade de 
Porto Seguro)

R$ 1.221 
5 noites em Prado, na Azul Viagens (azulviagens.com.br
Em acomodação dupla, com café da manhã, na pousada Casa de Maria, sem passeios ou extras, mas com passagens aéreas a partir de Belo Horizonte (desembarque na cidade de Teixeira de Freitas). Preço por pessoa. Saída no dia 20 de novembro

R$ 1.900 
3 noites em Prado, na RCA (rcaturismo.com.br)
Em quarto duplo, com café da manhã, na pousada Casa de Maria. Inclui traslados e seguro-viagem. Sem passeios ou extras. Preço por pessoa, com passagens aéreas a partir de São Paulo (desembarque na cidade de Porto Seguro). Pacote válido para o 
período entre os dias 17 e 20 de novembro

Fonte: Folha de S.Paulo