Chegou ontem a São Paulo, com o estardalhaço de mil trombetas celestiais, o Futuro Burger. Trata-se de um hambúrguer vegano que pretensamente tem aparência, textura e gosto de carne de boi.

A fórmula detalhada não é divulgada pela Fazenda Futuro, empresa que desenvolveu o sanduíche. Sabemos que a base da coisa é proteína vegetal –de soja, ervilha e grão-de-bico– e que a beterraba é responsável pela cor avermelhada do negócio.

A tal Fazenda Futuro é um projeto do carioca Marcos Leta. Não há como negar que o sujeito é um craque do marketing –antes do hambúrguer vegano, ele criou a marca de sucos em caixinha Do Bem. O Futuro Burguer vem na esteira do auê feito com o Impossible Burger, o primo mais velho que mora nos EUA.

Aparentemente, “fazenda” é apenas um nome fantasia para dar uma sensação de bucolismo ao produto –nenhuma fazenda real é necessária para sua produção. O material de divulgação veio salpicado de neologismos como foodtech ou startup.

A imprensa, incluindo a Folha, engoliu o discurso com mostarda e ketchup. Todas as matérias que li até agora reproduzem os termos do release e afirmam, sem questionar, a semelhança do Futuro Burger com o hambúrguer de carne de vaca.

Só me restou provar o sanduíche –costumo passar longe de hambúrgueres veganos– , que por enquanto é exclusividade da Lanchonete da Cidade. O LC Futuro é feito com substitutos veganos de maionese e queijo, alface e tomate.

Deixo para mais tarde –ou não– a discussão sobre a obsessão vegana com imitações de comidas carnívoras. Vou me limitar à análise sensorial, que fiz com a maior isenção e boa vontade possíveis. Vamos lá.

APARÊNCIA

Na foto lá em cima, do sanduíche montado, já dá para ver que o Futuro não tem exatamente o mesmo jeitão de um hambúrguer regular. Deixo mais uma foto aqui para você tirar a própria conclusão.

foto: Instagram/@fazendafuturo

TEXTURA

Aqui a coisa começa a ficar interessante. O Futuro Burger tem uma casquinha crocante que é impossível de se obter num hambúrguer de carne. A não ser que você passe a carne até ressecá-la, o que não acontece com a massa vegetal –o interior do LC Futuro mantém uma boa umidade. Gelatina de algas, talvez?

De qualquer forma, a textura é diferente daquela do hambúrguer bovino. Melhor do que sanduíches de fast food, pior do que uma carne alta e gorda grelhada ao ponto para malpassada.

Aliás, o exterior crocante dá a impressão de que o hambúrguer é frito por imersão. O garçom me reiterou: ele é feito na chapa.

O interior da massa vegetal é composto de grãos bem menores do que uma carne moída para hambúrguer.

A maionese vegana fez bem seu papel, e o substituto vegetal para o queijo estava imperceptível no meu exemplar.

SABOR

É onde o bicho pega.

O Futuro Burger, como dizem os poetas por aí, é uma explosão de sabores. Tem muito mais sabor do que um hambúrguer bovino –fruto da adição de sei-lá-quantos agentes aromatizantes (calma: não digo que são artificiais) para das alguma graça à natureza insípida da proteína vegetal isolada.

Um bom hambúrguer de vaca tem gosto moderado de gordura bovina (inexistente aqui) e os subprodutos da ação do calor da chapa sobre proteínas, gorduras e açúcares –a tão propalada reação de Maillard. O Futuro Burger vai bem no quesito Maillard. Mas tem muito sal, o que é incomum em hambúrgueres bovinos.

Lembra, de alguma forma, o gosto de hambúrgueres industriais vendidos congelados para gente preguiçosa. Não chega a ser surpreendente, uma vez que esses hambúrgueres também precisam de um tempero extra para dar sabor a uma carne qualquer nota, misturada em alguma proporção à proteína de soja.

Lembra, mas é melhor. É melhor também do que o hambúrguer de carne das redes de fast food. Já é alguma coisa, não?

Fonte: Folha de S.Paulo