A Bósnia-Herzegovina tem paisagens com picos entremeados por rios, encostas pontuadas por aldeias de casas de pedra e cânions conectados por pontes de pilares altos.

Mas também tem marcas da guerra civil: um edifício a poucos minutos do aeroporto da capital, Sarajevo, com sua fachada marcada por remendos mal aplicados e outro com um rombo onde um dia deve ter existido uma janela.

Na década de 1990, com o fim da Iugoslávia, sérvios ortodoxos, croatas católicos e bósnios muçulmanos, que conviveram por séculos, tornaram-se repentinamente conscientes de suas diferenças. 

Sarajevo foi alvo do mais longo sítio das guerras modernas, durante o qual forças sérvias, que contavam com o apoio do antigo exército iugoslavo, bombardearam a cidade. Por 1.495 dias (quase quatro anos) –de 1992 a 1996–, a capital sofreu ataques que mataram mais de 10 mil pessoas.

Os moradores de Sarajevo perduraram. “A cidade estava viva, as pessoas resistiam psicologicamente”, disse Zana Zarkin, proprietária da Bazerdzan, uma loja de roupas no bairro velho da cidade. “As pessoas usavam roupas bonitas e iam a espetáculos.”

Hoje, boa parte da capital se reergueu. “Há alguma coisa nesta cidade, ela tem muita alma”, disse Reshad Strik, dono do café Ministério de Cefj, no limite de Bascarsija, área no coração de Sarajevo, onde há diversas opções de hospedagem. 

No estabelecimento, Strik serve espressos e café bósnio, caracterizado por um sedimento amargo que lembra o do café turco. O estabelecimento poderia facilmente estar no Brooklyn (Nova York), em Berlim ou no Instagram. 

Do outro lado da rua, fica a oficina de Nermina Alie, uma artesã que trabalha com peças de cobre, reinventando uma forma delicada de gravação em metal chamada “savat”, para produzir aldravas (argolas de metal presas a portas). Elas são um símbolo da cidade e têm lugar de destaque no brasão de armas de Sarajevo. De acordo com um guia de turismo, são um tributo à hospitalidade dos bósnios.

Perto dali é possível provar as camisolas da estilista Emina Hodzic Adilovic, no Studio Kaftan, e o tradicional dzandar baklava, doce de nozes ou amêndoas cujo processo de fabricação dura três dias, na padaria Baklava Ducan. Além disso, há o espaço Morica Han, uma parada de caravanas do século 18 atualmente ocupada por restaurantes e galerias.

A alguns quarteirões da ponte Latina, o visitante pode cruzar o rio Miljacka pela Festina Lente, uma passarela futurista concebida por três estudantes de design da Academia de Belas Artes de Sarajevo.
Para quem gosta de arte de rua, vale visitar o topo do monte Trebevic, que virou uma galeria de grafites.

No passado, o local abrigava uma pista de bobsled (espécie de trenó), usada na Olimpíada de Inverno de 1984. A estrutura foi destruída durante a guerra pelos sérvios, que posicionavam seus atiradores de elite na região.

Esses lugares repaginados convivem com relíquias dos tempos da guerra, como crateras, em forma de pétala, deixadas pelos bombardeios e hoje preservadas com resina vermelha (conhecidas como Rosas de Sarajevo). 

Algumas lojas vendem tanques de brinquedo feitos com balas de fuzil. E cemitérios –muitos cemitérios. As encostas estão repletas de lápides.

Mais ao sul, na região da Herzegovina, ficam as atrações naturais: picos tortuosos, florestas e rios. O turista também pode visitar a mesquita Sisman Pasa, em Pocitelj, uma aldeia assentada em uma encosta íngreme.

Embora os invasores tenham se aproveitado da hospitalidade bósnia por séculos, os viajantes, no geral, deixam o país fora de seus itinerários.

Passados 24 anos do final da guerra, a vizinha Croácia se popularizou e recebeu quase 14 milhões de turistas em 2016; a Bósnia, menos de 1 milhão.

Basta olhar o mapa da região para compreender: a Croácia se deu bem na loteria cartográfica, com um território que envolve quase completamente o da Bósnia e ocupa a maior parte da linha costeira do mar Adriático.

A cidade de Mostar, na região da Herzegovina, recebe muita gente no esquema bate e volta. Os viajantes atravessam a ponte Stari Most, do século 16 e passam o dia na região, repleta de vielas com bares e restaurantes. E, à noite, voltam para as cidades vizinhas de Dubrovnik ou Split (ambas na Croácia).

Evliya Celebi, viajante otomano do século 17, escreveu que “a ponte é como um arco-íris que dispara ao céu, unindo as duas encostas. Eu, um pobre e miserável escravo de Alá, já visitei 16 países mas jamais vi uma ponte tão alta. Ela se projeta de rocha a rocha, alta como o céu”.

A Stari Most também foi uma das vítimas da guerra. Em 1994, ela despencou para dentro do rio Neretva, depois de bombardeios lançados pelas forças croatas.

A ponte que existe hoje é uma réplica, reconstruída em 2004 com o uso de técnicas otomanas empregadas na construção original, encomendada pelo então sultão Suleiman, o Magnífico.


Pacotes

R$ 3.948
6 noites em Sarajevo (Bósnia), na Submarino Viagens ( submarinoviagens.com.br)
Pacote com saída em 19 de agosto. Hospedagem em quarto duplo com café da manhã. Inclui aéreo

€ 1.401 (R$ 6.304)
7 noites na Croácia e na Bósnia, na CVC (cvc.com.br)
Pacote com saídas em 7, 14 ou 21 de agosto. Três noites em Dubrovnik, duas em Zagreb e duas em Sarajevo. Hospedagem em quarto duplo com café da manhã. Inclui passeios. Sem passagem aérea

US$ 2.054 (R$ 8.271)
11 noites na Eslovênia, na Bósnia e na Croácia, na Venice Turismo (veniceturismo.com.br
Duas noites em Zagreb, duas em Dubrovnik, uma em Split, uma em Opatija, uma em Sarajevo, uma em Medjugorje, duas em Liubliana, uma em Piran. Com passeios. Inclui café da manhã. Sem aéreo

Fonte: Folha de S.Paulo