Existe toda uma fauna relacionada às tradições cristãs de Páscoa.

O cordeiro, animal sacrificado em antigos rituais judaicos, que veio a simbolizar a imolação de Jesus.

O peixe, outro forte logotipo da cristandade. É a única carne permitida durante a Quaresma. Nas celebrações luso-brasileiras, seu nome é bacalhau.

A galinha. Sim, a galinha. Ou você acredita que roedores põem ovos? Em muitas culturas, a Páscoa pede enfeites de ovos de galinha decorados.

A pomba, que voou do Gênesis para o Novo Testamento. É preciso ter muita imaginação para ver uma pomba na colomba pascal, mas é isso que ela representa.

Sobre a colomba pascal, há uma história curiosa. Ela era um doce consumido regionalmente na Lombardia até o início do século passado. Então uma fábrica milanesa de panetone resolveu fabricá-la em grande escala para aproveitar a capacidade ociosa da planta no primeiro semestre do ano.

E há o coelho.

Para uma religião pudica como o catolicismo, é curiosa a adoção de um bichinho tão taradinho.

Tudo se explica nos ritos animistas dos antigos povos do Hemisfério Norte. Lá, a Páscoa é uma festa primaveril. Celebra a volta da fertilidade depois dos perrengues do inverno. Fértil é um bom adjetivo para definir um coelho.

Todos os animais da Páscoa entram na alimentação humana. No Brasil, temos aversão à pomba e um certo tabu em relação ao coelho.

Explica-se facilmente o nojo pela pomba: ela se tornou uma praga urbana, imunda e infecta. E o coelho? Por que não botamos na panela o coelho de Páscoa?

Porque ele é fofo. O que leva a outra pergunta: o que determina se um animal é fofo? Acho que é algo nos olhos. Aquela coisa do Gato de Botas de “Shrek”.

Um leitão é fofo. Ovelhas peludas e saltitantes são fofas, com certeza. Patos são extrema e definitivamente fofos. Não sabemos se um bacalhau é fofo, já que sua cabeça desaparece n20os trabalhos de magia negra da máfia norueguesa. Vai que ele é bonitinho como o Nemo ou a Dory…

Fofo que é, o coelho frequenta estômagos de humanos europeus desde sempre. É um animal de caça, tão comum naquelas bandas quanto o quero-quero é no Brasil.

Foi trazido para as Américas de navio. Um bicho exótico, que destrói todas as paradas agrícolas se for deixado solto e se reproduzir –já sabemos que essa é a sua especialidade. Também é rápido, lépido e fagueiro. Veja os desenhos do Pernalonga para mais informações.

Confinado em gaiola para não escapar, o coelho fica sempre à vista das crianças. Elas criam afeição. Adoram o coelhinho fofinho. Não dá para lutar contra isso.

Por isso, coelho, só de chocolate.

E quer saber? A carne do coelho não tem muita graça. É quase só osso. Vá de bacalhau, que você ganha mais.

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Fonte: Folha de S.Paulo