Chegar ao Butão não é fácil: o país localizado no centro do Himalaia tem um dos aeroportos mais difíceis de acessar no planeta. São menos de 20 pilotos autorizados a pousar jatos no aeroporto internacional de Paro, o único do país. Só é possível operar em condições visuais.

O território butanês é formado principalmente por montanhas e encostas da cordilheira mais alta do planeta. Seus vales são curtos e sinuosos. A cidade de Paro é cercada de picos. A rota de aproximação do aeroporto é perpendicular à pista e passa entre duas montanhas de 5.500 metros. À medida que o avião desce, pela janela, pode-se ver nitidamente as pessoas nas casas da encosta, na mesma altura da asa.

Então, vem o pior: quando a aeronave chega perto do chão, parecendo raspar o teto das casas térreas, faz uma curva acentuada à direita e só então se alinha com a pista de 1.900 metros (metade da extensão da pista de Cumbica, por exemplo), onde deve pousar imediatamente.

Ao chegar inteiro ao fim de uma aterrissagem tão difícil, o viajante sente alguma coisa parecida com a felicidade que faz a fama do Butão.

Já no caminho para o hotel, passando pelos vales recobertos de roças, o passageiro nota uma outra fonte de alegria local: nos dias e horas livres, grandes áreas na beira da estrada ficam tomadas por torneios do esporte nacional do país, o arco e flecha.

Parecem cenas de filme sobre as viagens do explorador italiano Marco Polo (1254-1324): as pessoas aglomeradas nas praças observam homens com roupas antigas em torneios de arquearia. O que no Ocidente é uma arma mais usada em competições entre indivíduos, no Butão é a base de um jogo coletivo, disputado por equipes de 11 pessoas.

Os alvos ficam a cerca de 140 metros. Cada vez que um arqueiro acerta a mira, seu time faz festa, pula, dança, acena e brinca com os adversários.

O atirador certeiro ganha uma fita colorida para prender ao cinto; ao fim da jornada, os mais hábeis exibem uma saia multicolorida, formada pelas faixas que vão sendo presas sobre a roupa típica dos butaneses. O time com mais fitas é o vencedor.

Mas não há muita comemoração no final: o importante é pular e gritar ao competir.

Fechado ao resto do mundo até poucos anos, o Butão abriu-se, só que mantendo suas tradições. A monarquia, por exemplo, persiste. Entretanto, desde 2008 o absolutismo deu lugar a um regime constitucional, parlamentarista.

Além de acabar com o isolamento do país e liberar o regime, o rei da época, Jigme Singye, renunciou em favor do filho, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck. A famosa política de “Felicidade Nacional” do Butão não só foi mantida, mas passou a fazer parte da Constituição.

Os hábitos mudam lentamente. As pessoas ainda se vestem com trajes típicos: os homens usam o “gho”, espécie de roupão que vai até o joelho e meias cobrindo as pernas, enquanto as mulheres circulam com a “khira”, um tecido enrolado ao corpo, e mais uma jaqueta.

Mas os calçados de couro tradicionais deram lugar principalmente aos tênis ocidentais, mais confortáveis.

Também a arquitetura preserva a tradição. As cidades butanesas se formaram em torno de grandes fortalezas de muros altos, chamadas “dzongs”, que há séculos funcionam como uma mistura de mosteiro budista e sede de governo, com seus exércitos e suas polícias. São edifícios quadrados, gigantescos, com um amplo pátio central, em estilo construtivo também denominado de “dzong”.

Esses prédios dominam a paisagem do Butão e dão o ar histórico às cidades. As novas construções mimetizam a arquitetura das fortalezas.

Como não poderia deixar de ser, a abertura ao mundo se reflete nos jogos de arquearia: hoje há dois tipos de torneios, os disputados com arco e flecha de bambu, feitos à moda tradicional, e os que usam arcos importados da Europa e dos Estados Unidos, produzidos com fibra de carbono e desenho hi-tec. Estes são mais precisos, e os times não se misturam.

Os torneios e as solenidades oficiais usam as armas de bambu. Foi com uma delas que a princesa britânica Kate Middleton exerceu a “diplomacia esportiva”, numa visita à capital do Butão, Timfu, em 2016. Vestindo o traje típico local, a mulher do príncipe William —o segundo na ordem de sucessão do trono inglês— recebeu instruções do rei local e, em seguida, disparou com elegância, sob o olhar atento do marido.

Errou todos os tiros. Mas, como não poderia deixar de ser no Butão, a princesa pareceu extremamente feliz ao final dos disparos.

País trabalha com a ONU para criar índice mundial da felicidade 

Conhecido mundialmente pela criação do FIB, índice de “Felicidade Interna Bruta”, que rege a sua administração, o Butão tem como símbolo um dragão.

Por isso, o título do monarca é “Rei Dragão” (Druk Gyalpo). Nas últimas décadas, o país foi governado por dois jovens “dragões”, os dois vivos. O atual, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, tem 39 anos. Foi coroado aos 28, mas tinha 26 anos quando o pai (Jigme Singye Wangchuck) renunciou, iniciando o processo de transição do absolutismo para a monarquia parlamentar.

Khesar conduziu a implantação da Constituição que consagrou em lei o princípio da “Felicidade Nacional”. A ideia havia sido criada por seu pai, que assumira o trono do Butão com apenas 17 anos, em 1972. Logo após sua posse, em uma entrevista para a imprensa internacional, quando foi questionado sobre a pobreza do país, o rei respondeu: “A felicidade nacional é mais importante do que o produto nacional bruto”.

O que parecia uma saída retórica (e muitos até hoje acham que é), acabou sendo definido objetivamente pela Constituição de 2008.

São nove áreas de medição dos quatro pilares da felicidade no Butão: sustentabilidade, conservação ambiental, preservação e promoção da cultura e boa governança. Uma comissão do governo conduz pesquisas para medir o desenvolvimento da felicidade nacional.

Ao mesmo tempo, na diplomacia internacional, o Butão tem trabalhado junto à ONU para incentivar a implantação do Índice Mundial de Felicidade, que já é aceito como recomendação a todos os países desde 2011.

Com uma população de maioria budista de linha tibetana, o Butão é uma monarquia solitária no Himalaia, desde que o Nepal se tornou república. O país tem uma população de pouco menos de 800 mil habitantes, com o território de 37 mil km². É como se os habitantes de duas subprefeituras paulistanas morassem em um território pouco maior que o estado de Alagoas.

Olhando só para os números, parece um país desabitado. Mas apenas 10% do território pode ser aproveitado para agricultura e mesmo para habitação. Todo o resto são picos e encostas do Himalaia.

Os butaneses, por isso, estão concentrados nos vales formados pelos rios que serpenteiam entre essas grandes montanhas da cordilheira.

Embora os moradores aproveitem cada pedacinho de solo desses vales, as terras são insuficientes para alimentar a população. O país importa a maior parte do que consome. Ainda assim, exporta comida: é porque suas terras produzem o cobiçado arroz vermelho, que é degustado em restaurantes caros espalhados pelo mundo. Compensa vender a iguaria e comprar outros alimentos mais baratos.

Mas o que mais contribui para pagar a conta da felicidade nacional é a água: o Butão tem 71% de seu território coberto de florestas. É mais do que exige a Constituição do país, para a qual um dos critérios de felicidade, como dito acima, é a preservação da paisagem tradicional e do meio ambiente.

O país reconhece oficialmente que a preservação das florestas garante chuvas, neve e rios permanentes. Os rios alimentam hidrelétricas cuja energia é vendida para a vizinha Índia. Essa receita corresponde a 35% de tudo que o país exporta.

A preservação da natureza também levou a um contraste em relação aos vizinhos da cordilheira: o Butão proíbe o montanhismo em seus picos. Assim, evita cenas de congestionamento de alpinistas, como ocorre no Nepal. Por decorrência, fica no país a montanha mais alta do mundo jamais escalada, Gangkhar Puensum, com 7.570 m de altura.

As fronteiras do Butão são desenhadas pelas montanhas do Himalaia. Do outro lado da cordilheira, mora um terço da humanidade: ao norte, a China (com 1,38 bilhão de habitantes); e ao sul, a Índia (1,34 bilhão). O temor de invasões marca a história do país.

Os nomes mais usados para o esporte praticado com arco e flecha —arqueria, arquearia e tiro com flecha— não constam dos dicionários brasileiros da língua portuguesa. “Arco e flecha” é mencionado apenas como substantivo para a arma composta de dois elementos (como se o nome do revólver fosse “pistola e bala”).

No cotidiano, o esporte é denominado “arco e flecha”, enquanto os especialistas preferem usar mais os termos “tiro com arco” e “arquearia”.


Pacotes

US$ 2.477 (R$ 9.561)
5 noites no Butão, na Top Brasil Turismo (topbrasiltur.com.br)
Pacote com preço válido de junho a agosto. Duas noites em Timfu, uma em Punakha e duas em Paro. Hospedagem em quarto duplo com pensão completa. Inclui traslados e passeios. Sem aéreo

US$ 2.480 (R$ 9.573)
7 noites no Nepal e Butão, na Pisa Trekking (pisa.tur.br )
Duas noites em Katmandú, duas em Timfu, uma em Punakha e duas em Paro. Hospedagem em quarto duplo com café da manhã. Inclui passeios. Sem aéreo

US$ 2.830 (R$ 10.924)
9 noites no Nepal e no Butão, na RCA Turismo (rcaturismo.com.br )
Três noites em Katmandú, uma em Timfu, duas em Punakha e três em Paro. Hospedagem em quarto duplo com café da manhã. Inclui passeios, seis almoços e seis jantares. Sem aéreo

US$ 2.931 (R$ 11.314)
6 noites no Butão, na Venice Turismo (veniceturismo.com.br)
Duas noites em Timfu, duas em Paro e duas em Punakha. Hospedagem em quarto duplo com regime de meia pensão. Inclui passeios, traslados, almoço em restaurante local e seguro de viagem. Sem aéreo

US$ 9.136 (R$ 35.266) 
9 noites no Butão, na Teresa Perez Tours (teresaperez.com.br)
Três noites em Timfu, três em Punakha e três em Paro. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã, almoço e jantar. Inclui traslados, passeio em carro privativo, guia e entrada aos monumentos. Sem aéreo

Fonte: Folha de S.Paulo