Clichê quase inevitável, leio que a premiação que elege os melhores restaurantes do mundo (ou da América Latina, na cerimônia mais recente) é o “Oscar” da gastronomia.

Corretíssimo, como quase todo clichê: assim como o Oscar para o cinema, o ranking de restaurantes tem zero objetividade, reflete as impressões de um punhado de jurados. É a chancela de gente gabaritada (e com seus vieses particulares) para ótimas cozinhas, não é ciência.

É, sobretudo, uma festa. Uma celebração para os vencedores. O ranking não deve ser levado a sério demais.

Não me entenda mal. Assim como quase todo mundo, eu também sou viciado em listas. O cérebro humano não aceita o caos da natureza, busca catalogar e hierarquizar absolutamente tudo. Guias e rankings são muito úteis para explorar as coisas sem se deixar levar pela aleatoriedade total.

Mas estão longe de ser verdade absoluta talhada na pedra.

Na premiação deste ano dos 50 Best, uma reviravolta nas regras deixou as coisas bem estranhas.

Enquanto o ranking global segue o curso normal de arrolar os eleitos dos últimos 12 meses, a filial latino-americana decidiu conceder os prêmios pela média das notas desde 2013, quando a região ganhou lista própria.

Assim, o melhor restaurante do Brasil é tanto A Casa do Porco (no ranking mundial) quanto o D.O.M. (no regional). Sem contar o fato de que a honraria foi dada a dois estabelecimentos brasileiros que estiveram fechados em 2021, o Tuju e o Corrutela.

Como se fosse outro universo, mas não. É o mesmo prêmio, fatiado em recortes regionais. A mudança nos critérios foi uma decisão 100% editorial, para embaralhar os contemplados e não deixar a lista repetitiva, maçante e previsível no decorrer dos anos. Nada a ver com a qualidade da comida dos restaurantes catalogados.

Algo diferente, mas com a mesma finalidade, aconteceu na versão global do prêmio: os vencedores da 1ª posição passaram a ser hors-concours, são excluídos das competições seguintes. Assim, há um campeão diferente a casa ano (e um mínimo de emoção também).

Por essas e outras, não tome por absoluta nenhuma lista. Nem os 50 restaurantes nem os vinhos favoritos do Robert Parker ou da Jancis Robinson, muito menos os 101 pratos que você precisa comer antes de morrer.

Não existe o melhor do mundo em nada. Essa noção traz insegurança porque nos devolve à escuridão, mas também traz algum alento. Afinal, pouquíssimos entre poucos são escolhidos os melhores dos bons –e quase nunca os eleitos somos nós.

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Fonte: Folha de S.Paulo

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