Anosmia.

Palavrinha feia como o Diabo. O significado, então, é um horror: a perda do olfato. Menos má do que a cegueira ou a surdez, mas, atenção: não se trata de um campeonato de desgraças.

A anosmia é num sintoma relatado por um expressivo número de infectados pela Covid-19. A pessoa perde o olfato e, por consequência, o prazer de comer.

Sim, é o olfato –não o paladar– o principal responsável pelo conjunto de sensações que denominamos sabor. O paladar é linear, unidimensional. As papilas da língua apenas nos dizem o grau de acidez, amargor, salinidade etc. de um determinado alimento.

O resto se constrói com o tato, que percebe as texturas da comida, e principalmente com o olfato. O cheiro é a marca identitária do sabor.

Sem os odores, não teríamos nenhuma controvérsia com relação ao coentro, ao anis, ao alho, ao bacalhau, aos vapores sulfurosos que emanam de uma panelada de couve-flor.

Em contrapartida, comer não teria graça alguma. Não tem graça alguma para as vítimas da pandemia.

Anósmico, o paciente de coronavírus sente apenas dor quando come pimenta. Ele capta o salgado e o crocante da pipoca, que de resto lhe parece isopor. Para ele, tanto faz se o hambúrguer é um Kobe Prime Ultra Double Bacon Diamond ou um McDonald’s da vida.

O vírus mata o prazer de comer de várias formas. Extermina o prazer de dividir a mesa com as pessoas que você gosta. Elimina a possibilidade de escolher um lugar bacana para almoçar ou jantar. Enfiar a colher na sobremesa alheia, então, virou crime capital.

Nem vou falar de abraços, cheiros, beijos, sexo. Fique bem. Fique em casa. Cuide dos seus velhos.

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Fonte: Folha de S.Paulo