Não vou comer bacalhau nesta Sexta-Feira Santa.

Porque não existe bacalhau para uma pessoa. E eu estou sozinho, assim como milhões de brasileiros em quarentena.

O bacalhau é um troço que você põe na água e cresce feito aqueles ovos de dinossauro de brinquedo. E aí joga batata, cebola, tomate, grão de bico, um mundo de coisas gostosas que fazem a travessa triplicar de tamanho.

Isso porque hoje ficou fácil comprar pedaços pequenos de bacalhau. Antigamente, as pessoas levavam inteiro aquele peixão petrificado que ficava perfumando a casa por semanas.

Além do mais, dá um trabalho do cão cozinhar bacalhau.

Poderia pedir, é claro, e guardar o que sobrasse. Mas não vou. Porque não faz sentido.

Fui batizado, mas não tenho fé. Não dá o menor ânimo de comemorar algo em que eu não acredito, sozinho, comendo uma marmita muito cara.

Numa mesa grande, eu seguia o ritual mais pela conversa e pelo vinho. Vou confessar que não sou um grande fã de bacalhau. Sozinho, vou comer o que bem entender. Posso até comer carne, mas não seria uma afronta proposital. Posso comer também o resto da pizza de quinta-feira ou um pote inteiro de sorvete. Tanto faz.

O lado bom do isolamento é poder mandar às favas as convenções. Ruins são todos os outros lados.

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Fonte: Folha de S.Paulo