“Mais uma dose? É claro que eu estou a fim. A noite nunca tem fim…” Estes são os três primeiros versos de “Por que a gente é assim?”, composta por Cazuza, Frejat e Ezequiel Neves, gravada pelo Barão Vermelho em 1984. O título da música é o quarto verso.

A faixa fala da busca insaciável por prazer na noite do Baixo Leblon, Baixo Gávea, sei lá, coisa da juventude burguesa carioca daqueles tempos. Ao mesmo tempo, essa ânsia é algo universal de quem sai à noite atrás de não-se-sabe-o-quê. A botecagem tem hora de começar, não de terminar.

Passei há muito da fase de ser expulso do bar pelo garçom lavando o chão, mas estou extremamente feliz por poder voltar, aos poucos, a beber fora de casa. Detestei ser o chato que prega o fechamento de bares e restaurantes. Eles são meu hábitat.

Graças à segunda dose da vacina contra Covid-19, que nas últimas semanas tem sido aplicada maciçamente na população sub-60, a boemia pode começar a retornar ao normal, com segurança. E mantendo os cuidados, sem lamber a maçaneta da porta do banheiro.

Eu estava receoso de celebrar essa volta à socialização, até ler o artigo “Medalha de ouro para a vacinação contra a Covid”, que o epidemiologista Pedro Hallal publicou terça-feira (14), aqui na Folha.

Hallal mostra um quadro bastante otimista da evolução da vacinação no Brasil, que tem baixado drasticamente as mortes, as internações e a taxa de infecção do vírus, mesmo com a temível variante delta.

Se a tendência persistir, antes do verão poderemos ter de volta nossa vida quase 100% normal. Será um alívio poder andar por aí sem máscara –não são apenas os negacionistas que a detestam–, mas por enquanto ela ainda é muito necessária.

A adesão do brasileiro ao programa de imunização compensou as falhas (para usar um termo suave) na aquisição e distribuição das vacinas. Enquanto isso, nos EUA, a força dos lunáticos antivacina tem feito a epidemia brotar de novo em lugares onde parecia ter sido superada –feito aquelas velas de aniversário que você sopra e não consegue apagar.

Que venham outras doses. De bebida e, se for necessário, de vacina.

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Fonte: Folha de S.Paulo