Volto ao tema churrasquista porque é aniversário do meu filho mais novo e, para celebrar, vou assar umas carninhas.

Saí para comprar carne já com dor no bolso, mas, surpresa!, me dei bem. Encontrei uma promoção fantástica de carne fabulosa, contrafilé importado do Uruguai mais barato do que miolo de acém.

Contente e aliviado, fui atrás dos belisquetes para tapear a plateia enquanto a atração principal não sai.

Você sabe: coração de galinha, asinha, linguiça, pão de alho, queijo no palito… Isso! Queijo na brasa é algo bom e barato para forrar o bucho à espera da carne.

Em São Paulo, o queijo de coalho é tão associado ao churrasco que fica na mesma geladeira que as carnes e linguiças –e não junto às manteigas, iogurtes e demais tipos de queijo.

Não tem preço na prateleira, então peguei um pacote para ver a etiqueta. Indecentes R$ 83,99 por um quilo de queijo de coalho!

Nada contra queijo, mas é ridículo que o picolé de mineiro custe o dobro do ancho uruguaio –e, note, o produto vai para a balança com os palitos atochados.

Já começo a imaginar o garçom no churrasco do magnata abordando um convidado: “Senhor, aceita um petisco de kobe beef trufado enquanto aguarda o coalho com orégano?”.

Sem brincadeira: além da alta evidente, os preços têm uma flutuação tão ampla que nos faz perder a noção do que é barato, razoável, caro ou um insulto. E a perda dessa noção, desse controle, é pior do que a carestia em si. É o caos, dúvida, maluquice.

No meio dessa fumaceira, tem mais coisa podre no churrasco do brasileiro. Fiquei sabendo outro dia que há um restaurante paulistano vendendo bife com ouro. Exato. Ouro de muitos quilates como, por assim dizer, diferencial gastronômico.

Não são poucos os estabelecimentos que usam o nobre metal e adjetivos correlatos para exagerar seus dotes culinários: Filé de Ouro, Picanha Dourada etc. É simpático num nível tosco. Aqui temos algo quase literal.

O restaurante, cujo nome não vou divulgar, vende por R$ 490 um tomahawk –corte de contrafilé com um comprido osso de costela– folheado a ouro. Dá para duas pessoas, ufa!

A ideia de jerico foi parida há alguns anos por Nusret Gökçe, o turco mais conhecido pelo apelido Salt Bae, dono das churrascarias Nusr-et. A rede possui unidades em todas as cidades jecas do mundo, menos Balneário Camboriú.

Salt Bae é aquele indivíduo de rabo-de-cavalo e óculos escuros que joga o sal na carne deixando os flocos deslizar pelo antebraço. Um meme em forma de pessoa.

No Brasil, além do restaurante dos Jardins, há vários influencers acéfalos reproduzindo a proeza para ver se ganham audiência e jabá. Jovens sem senso de ridículo nem de trabalho nem de vida em comunidade.

Churrasco com folhas de ouro comestível, sem gosto, é de mau gosto em qualquer lugar. Cafona em Istambul, em Dubai, em Miami. No Brasil é criminoso, ou pelo menos deveria ser.

Tal e qual certa picanha de R$ 1.799 que certo presidente ostentou certa vez.

(Siga e curta a Cozinha Bruta nas redes sociais.  Acompanhe os posts do Instagram, do Facebook  e do Twitter.)

Fonte: Folha de S.Paulo

Marcações: