Hoje foi o dia de Enzo Celulari ser massacrado no Twitter. A rede é cruel e lincha sem dó –mas Enzo, filho de Claudia Raia e Edson Celulari, falou bobagem das grossas.

“Consumo de carne no Brasil cai pra menor nível em 25 anos: é o preço que tá alto ou os consumidores que estão mais conscientes?” Este é o tuíte de Enzo.

Enzo apagou o tuíte, mas o Twitter tem memória de elefante. Muita gente printou a derrapada de Enzo, e Enzo entrou para os trending topics da plataforma.

Atualmente, o brasileiro consome 14% menos carne do que em 2019. Só nos primeiros quatro meses deste ano, houve 4% de queda em relação a 2020. Tem a ver com carestia, desemprego e depauperação, não com a adoção do vegetarianismo ou qualquer tipo de conscientização do povo. Este texto explica tudo direitinho.

Mas Enzo analisou os números pelo prisma da gratiluz. Seria motivo de vergonha alheia se Enzo fosse um playboy alienado qualquer. Só que Enzo se intitula empreendedor social. Enzo atua nas causas boas, nas causas nobres, nas causas do bem.

Enzo é um exemplar (substantivo) exemplar (adjetivo) de uma certa elite brasileira, aquela que alivia a consciência de modo ingênuo e inócuo.

Vou parar de falar do Enzo, porque não sei muito da vida de Enzo. Vou falar da personagem fictícia Valentina, uma menina rica e do bem.

Valentina acha que vai salvar o planeta comendo hambúrguer vegano e, quando não se aguenta de vontade, bife cheio de selinhos de sustentabilidade na embalagem.

Na pandemia, Valentina paga as diárias da faxineira que dispensou –faxineira que, aliás, foi sua babá e babá de seus irmãos.

Valentina tira sabático para meditar na Chapada dos Veadeiros. Valentina compra escova de dente de bambu para não entupir de plástico o planeta. Valentina quer passar um ano velejando ao redor do mundo, levando duas trocas de roupa.

Valentina só usa eletrônicos da Apple porque quem se acostuma não consegue largar –e, além do mais, não fica tão caro assim em Portland.

Valentina toca ukelele e assina todas as petições digitais.

Valentina sempre diz que suas escolhas podem resultar num futuro melhor para as próximas gerações.

Valentina pensa que todo mundo tem escolha.

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Fonte: Folha de S.Paulo