O mineiro Thiago Guido já deu as caras aqui no blog, contando como foi a viagem dele de moto pelo sul do Brasil, Argentina e Chile.

Naquela vez, em março de 2019, rodou com um amigo 7.161 km. Agora, Thiago relata como foi a jornada pelo Sudeste e Nordeste.

Em outubro de 2019 ele aproveitou que estava sozinho para visitar amigos e parentes, além de conhecer lugares novos.

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email [email protected].

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Você talvez reconheça essa moto das fotos. É minha Honda Bros 160cc ano 2017. Ela já apareceu aqui no blog Check-in, numa aventura até o deserto do Atacama. E porque é que estou te contando isso? Pois essas duas viagens estão “interligadas”.

Essa jornada pelo Nordeste estava programada para janeiro de 2019, mas, por alguns “problemas”, fui obrigado a adiá-la, sem data definida. Dois meses se passaram e lá estava eu chegando ao Pacífico depois de cruzar o Atacama em uma viagem completamente diferente. Foi uma viagem incrível e inesquecível, mas, assim que regressei, a ida ao Nordeste voltou a martelar minha cabeça.

Após alguns meses de programação e busca por recursos, lá estava eu novamente na estrada, dessa vez SOZINHO e para a MAIOR VIAGEM QUE JÁ FIZ ATÉ HOJE… Eram muitos os objetivos dessa aventura e alguns deles eram o encontro com amigos e parentes por boa parte do trajeto.

Saí da capital paulista no fim de outubro de 2019, sentido Belo Horizonte. Quando as pessoas veem o mapa acham que foi preconceito com o Rio de Janeiro, mas o “desvio” foi para visitar meus pais –eles moram a 630 km e, infelizmente, não posso vê-los com a frequência que gostaria. Dito e feito. Cheguei na casa deles já no início da noite e permaneci lá no dia seguinte, curtindo uma bela comida mineira e o afago dos coroas. Estrada Fernão Dias sem novidades, pois a conheço como a palma da mão.

No 3º dia parti em direção a Vitória. Estava bastante frio nas Serras Capixabas, mas cheguei. Lá me encontrei com um colega de faculdade, o Mariocas, grande amigo. Curtimos uma praia, jantamos e dormi pra seguir cedo no dia seguinte.

No 4º dia o destino era Porto Seguro, para ficar na casa de outro amigo, dessa vez um conhecido ainda do colégio. Grande Carlitos. Na saída da capital potiguar bateu a saudade do Atacama quando vi na ponte que atravessa de Vila Velha para Vitória uma placa de um coqueiro de lado, que significa para ter cuidado com os ventos. A estrada estava bem melhor do que quando ia para a Bahia na adolescência. E Porto Seguro, como sempre, linda. Chovendo, ficamos em casa colocando o papo em dia. O jantar foi uma deliciosa pizza.

O destino do 5º dia era a península de Maraú, na casa do meu irmão mais velho. Depois de muita chuva e alguns erros no caminho, encontrei a temida e péssima estrada de Barra Grande. Muita terra, buracos e um longo trecho de areia fofa. Coração quase saindo pela boca, cheguei assustado. Um ano antes eu tinha ido de carro e prometido que voltaria com minha moto, mas não imaginei que passaria tanto medo. O jantar foi um belíssimo sanduba regado a bacon. Por lá permaneci no 6º dia, num trabalho ambiental de limpeza das praias, pois foi a época em que houve o desastre com o óleo no litoral do Nordeste.

No 7º dia, parti meio sem destino. Cheguei a Salvador pelo ferry e consegui pilotar até Praia do Forte, ainda na Bahia. Pensa num estado grande! Fiquei na primeira pousada/hotel da viagem. Sem novidades além de um vizinho de quarto que se divertiu bastante com sua namorada/esposa.

Assim que acordei peguei logo a estrada, pois esse seria o trecho mais longo a ser percorrido em um único dia. Foram aproximadamente 730 km. Não que seja uma distância absurda, já que rodei quase 1.200 km no primeiro dia da viagem ao Atacama. Mas, dessa vez, era no Nordeste e o destino, Recife. Cruzei os estados de Sergipe e Alagoas e encontrei Pernambuco já de noite. Fiquei na casa do Renan, um grande amigo de quando morei por lá em 2014. Fizemos um proveitoso passeio pelo centro velho, ao som de Nação Zumbi, e jantamos uma bela pizza.

No 9º dia acordei cedo, troquei o óleo da motoca, cruzei a Paraíba e cheguei ao Rio Grande do Norte. Fiz uma parada no Marco Zero da BR-101, em Touros, e segui para São Miguel do Gostoso. Lá jantei um sanduba chiquérrimo e dormi cedo quando vi uma pousada super barata em Canoa Quebrada, o destino final da viagem.

Assim que acordei corri para o Ceará. O destino do 10º dia foi a tal pousada. Lá chegando, corri para as dunas para ver o belíssimo pôr do sol. No dia seguinte permaneci na cidade e andei pelos marcos e pontos turísticos, como os letreiros (verdadeiro e falso) com nome e símbolo da cidade, a tal da Brodway e muito mais. Esse foi o último dia de “ida”. Era hora de voltar…

No 12º dia saí de Canoa sentido Natal para visitar o maior cajueiro do mundo. Por algum motivo, me perdi no sertão e saí próximo de Pipa. Já estava com saudade de casa e cansado da viagem. Não iria voltar nem *¨¨(%¨*¨%. Fiquei em Pipa mesmo –lugar maravilhoso, diga-se de passagem. Lá tive um pequeno problema financeiro: o banco resolveu não me deixar movimentar meu dinheiro. Com apenas alguns trocados no bolso, desespero sem saber como pagar até a pousada, tive que ficar algumas horas no telefone com meu gerente. Problema resolvido, bora curtir a cidade.

De Pipa segui no 13º dia de viagem. Passei pelas dunas de Cacimbinhas e serei bem sincero: é um dos lugares mais bonitos por onde já passei. Lindo demais. Depois fui ao Marco Zero da Transamazônica, em Cabedelo, e à Ponta do Seixas, em João Pessoa, o ponto mais a leste da América Latina. Parei em Recife novamente, troquei o óleo da motoca e fiquei na casa do meu amigo Renan.

De Recife segui para Aracaju neste que era o 14º dessa longa aventura. Fiquei em um hotel e descansei bastante, saindo apenas para a padaria.

No 15º dia andei sem destino, passeando pela cidade e acabei parando em Itacaré, já na Bahia. Que lugar incrível. Pousada super legal, barata e a cidade é um encanto.

De lá segui novamente sem destino e cheguei até Nanuque, já em Minas Gerais, onde parei em um Supermercado Mineirão, que não via desde minha infância. Estiquei a corrente da moto e apaguei.

No 17º dia já estava “em casa”: novamente em Belo Horizonte, nos meus pais. Lá permaneci por mais 24 horas, de novo só curtindo os mimos dos coroas. Encontrei o Rapunza, um grande amigo e grande músico.

No último dia, o 19º, parti da capital mineira para a paulista e cheguei no início da noite na minha casa.

No total foram 8.038 km rodados por 10 estados do Sudeste e Nordeste. Felizmente, como todas as viagens que fiz até agora por 14 estados brasileiros, Chile, Argentina e Paraguai, não tive nenhum problema. Esse é o benefício de fazer manutenções preventivas.

Se quiser ver o filme dessa aventura, prepare a pipoca e dá play no vídeo!

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Aviso aos passageiros 1: Se você gosta de viajar de moto, tem também o relato dos amigos Leandro Mercali e Edevir Zaccaria, que viajaram de moto entre Brasil, Uruguai, Argentina e Chile

Aviso aos passageiros 2: O ciclista Régis Galisteu pedalou por cinco meses entre vários estados do Nordeste, chegando até a doar sangue duas vezes

Fonte: Folha de S.Paulo