O Queiroz, quem diria, apareceu. Ou não. Pelo jeito, nunca fez questão de sumir. Melhor: queriam vê-lo sumido (certamente ainda querem), mas ninguém controla o comportamento expansivo do Fabrício velho de guerra. Vacilou um segundo, e lá está ele chamando metade de Atibaia para assar uma carne.

Homem é essa caca, mesmo: não pode ver meio metro quadrado de grama, que já quer fazer churrasco no quintal.

Numa das fotos apreendidas pela polícia, Fabrício Queiroz aparece fantasiado de jogador do Vasco, com uma cerveja na mão direita e talheres na esquerda.

Ele se curva para operar uma churrasqueira portátil bem baixinha, dessas que frequentam as calçadas mais esburacadas dos piores botecos das bocadas mais milicianas do Rio de Janeiro. Dói o ciático só de me imaginar nessa situação.

A foto tem resolução baixa, mas dá para perceber que o homem aprecia pão de alho na brasa. O resto fica para a imaginação. Coraçãozinho? Salsichão? Espetos de filé miau?

Fabrício Queiroz contou para a mulher (foragida até o fechamento deste texto) que celebrou o rebaixamento do Cruzeiro fazendo um “churrasquinho” para umas “amiguinhas” que o filho fizera (umas “garotinhas bacaninhas”) e, de quebra, uma Corona com “limãozinho”.

Assim, tudo no diminutivo. Linguagem afetada e afetuosa de homem macho arrebatado pela emoção de uma carninha assando, à tardinha, ao som da desgraça alheia.

Naquela mesma tarde, 8 de dezembro do ano passado, eu me despedia da condição de carioca adotivo num boteco do Jacaré. No cardápio, o galeto mais famoso da zona norte do Rio –tecnicamente, nada mais do que churrasco de frango jovem.

Temos isso em comum, eu, o Queiroz e quase toda a população XY do Brasil: a tara pelo churrasco.

Não vou abandonar as brasas –se tiver paciência, pesquise no meu blog: queimo carvão até em apartamento–, mas preciso dizer que me perturba de leve essa relação entre churrasco e masculinidade tosca.

É como se a fixação por espetos, picanhas e linguiças sinalizasse, para os demais varões, a macheza incontestável do indivíduo.

No circuito off-Atibaia, circula uma versão agringalhada desse personagem carnívoro. Ele se diz pitmaster, tem 30 centímetros de barba, toma IPA artesanal e urra feito William Wallace enquanto espreme o sebo derretido para fora de uma peça de brisket defumado. Peito de boi, para quem não conhece.

Nos ranchos fundos do país, eles assam não só o peito, mas o bicho inteiro no espeto. É o tal do boi no rolete. É o aleatório, a loteria que pode lhe presentear com acém ou com filé estorricado. Boi na roleta.

Nunca entendi a graça disso. Talvez seja só a imagem de um animal de 18 arrobas girando, girando, girando e hipnotizando a plateia. Talvez seja só a pulsão de morte, que nos faz cavar cada vez mais fundo no poço aberto 500 anos atrás.

Enquanto o Brasil empilha quase 50 mil cadáveres humanos, o Queiroz e eu fazemos churrasco. Passa o vinagrete, por favor.

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Fonte: Folha de S.Paulo