Os clubes de assinatura de comida e bebida se espalharam pelo Brasil na década passada. O sucesso do esquema de compras foi puxado pelo vinho.

Para quem gosta de vinho e não tem paciência para estudar o assunto, o clube é só alegria. Oferece, antes de tudo, a tal da curadoria: alguém é pago para selecionar o que você vai consumir.

Uma vez que você confia no curador, relaxe e espere os vinhos chegarem à sua porta, enquanto o cartão de crédito funciona na cobrança automática.

Os clubes também oferecem descontos, brindes e outras promoções que fazem o sócio se sentir o espertalhão das galáxias. A torrente de ofertas induz a compras desnecessárias e, descobre-se sempre tarde demais, indesejadas.

Já dei dinheiro para um clube de vinho, nos anos de CLT, FGTS e décimo-terceiro. Bebia aquilo como se fosse suquinho (às vezes, era quase isso). “Ó, chegaram aqui umas garrafas da Grécia, que coisa doida.” Abria, tomava e esquecia no momento seguinte. Tudo automático como o pagamento de todo dia 5.

Vieram os clubes de cerveja, de queijo, de carnes para churrasco, clubes de acepipes sortidos, importados e caros. Não aderi a mais nenhum e cansei do esquema do vinho.

Meu consumo de vinho evoluiu na proporção inversa à cotação do dólar. Em suma: murchou. Uma garrafa que custava R$ 50 dez anos atrás hoje é vendida pelo triplo. Chamem-me de besta, mas não tenho interesse pelos vinhos que posso comprar sem arrombar o orçamento.

Sou apenas um dos milhões de brasileiros que tiveram o poder de compra corroído e depenado. Nesse clima de fim de feira, o clube do momento é o clube de assinatura de ovos.

Sem poder pagar pela carne, elevamos o ovo ao status de prato principal. Ovo frito é o novo bife, omelete é dublê de filé de frango. O ovo pochê, chique e complicado, substitui até camarão.

Fui conferir os planos do clube do ovo. São 30 unidades mensais –um ovo por dia, e você escolhe se quer ser vegano no almoço ou no jantar. “Escolhidos especialmente para você”, diz o anúncio. Acredito 100%.

Tem o plano orgânico, o mais caro. Tem um com caixas mistas: ovo branco, ovo vermelho, clara, gema, casca e tudo a que você tem direito. Tem outro com uma seleção surpresa todo mês –imagine a expectativa! Tem até um pacote com 40 ovos jumbo, 20% maiores, para a galera fit, com curadoria diferenciada.

Sinto a falta de mais de alternativas. Sei lá, ovos de perdiz, de gansa, de pelicano, de ornitorrinco. Ou, então, um pacote ultra premium com ovos de poedeiras da Valônia, alimentadas com bagaço de malte de cerveja trapista.

Quando os ovos também estiverem caros demais, o que comeremos? Digo: que clube assinaremos?

O clube do amendoim, com paçoquinha no plano kids? O clube do miojo? Da sardinha em lata? O clube da salsicha, do biscoito recheado, da gelatina colorida?

Seja qual for o tamanho da sua miséria, você sempre pode ser um cliente exclusivo!

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Fonte: Folha de S.Paulo