Chicago é melhor que Nova York. Mais inesperada, mais arejada, mais negra, mais musical. Se o seu negócio não for turismo convencional nos EUA, troque Manhattan pelo Loop, o centro da metrópole em Illinois, e se surpreenda.

Em que outra cidade você entra numa loja de cosméticos chamada Urban Beautique e encontra ao fundo dos longos corredores perfumados um painel modernista de madeira dos anos 1920, com figuras estilizadas tocando jazz?

Ou então, fazendo hora na rua para esperar dar 22h e entrar num bar de mágicos (Chicago Magic Lounge), dá com palco montado no asfalto pelo consulado sueco em que uma banda cover do Abba toca “Dancing Queen” e a multidão LGBT entra em ignição?

Ou, quem sabe, para no estande da casa noturna Rosa’s Lounge no Festival de Blues ao lado do Pritzker Pavilion e uma avozinha loira manda um duo de contrabaixos com o solista negro e solta o vozeirão tipo Nina Simone?

Em cinco dias, não faltaram surpresas em Chicago, ao contrário de Nova York, em que quase tudo é previsível. Quem já não sentiu déjà-vu ao entrar em Times Square?

Nada se compara, porém, com o Jay Pritzker Pavilion, no Parque do Milênio. A concha acústica projetada por Frank Gehry na virada do século e inaugurada em 2004 ainda espanta com suas ondas futuristas de aço inoxidável. Pritzker, da família proprietária dos hotéis Hyatt, criou o prestigiado prêmio de arquitetura que leva seu nome e que Gehry recebeu em 1989.

Ali se realizam concorridas séries musicais, como o Festival de Música do Parque Grant, vizinho, que apresenta composições eruditas desde 1935, e o Festival de Blues de Chicago, que neste ano teve sua 36ª edição, de 7 a 9 de junho. Além da plateia lotada, milhares de pessoas assistem às apresentações, de graça, desde o gramado em frente.

Além do palco principal no Pritzker, cinco outros se espalham pelo parque. Um deles, Rosa’s Lounge, onde a senhora com blusa enfeitada de rosinhas se esmerava no contrabaixo, tem programação organizada por uma famosa casa de blues da cidade, menos turística que o Buddy Guy’s Legends, este a poucas quadras da área do festival.

Chicago tem longa e rica história no blues (além do jazz). Ela começou com a Grande Migração, a onda que levou 7 milhões de negros do Sul dos EUA para o Norte industrializado entre 1906 e 1970, 500 mil deles para a cidade. Carregavam consigo aquela música triste de poucos acordes, mas foi ali que ela ganhou a potência vinda da eletricidade.

Uma boa maneira de conhecer melhor essa história é fazer o tour de blues e jazz organizado pela Chicago Detours. Fora da programação normal da empresa, o passeio precisa ser reservado, por grupos de ao menos oito pessoas.

Amanda Scotese, baterista que já trabalhou como guia na Europa do autor de livros de turismo Rick Steves, circula por duas horas e meia de ônibus com o grupo. No sistema de vídeo do veículo ela apresenta clipes de música e dança para explicar didaticamente as origens da cultura musical negra que ganhou o mundo, partindo do spirituals para o blues, o jazz e o rock.

O percurso começa pelo norte da cidade (Uptown), onde surgiram grandes casas de jazz como o Green Mill Cocktail Lounge, aberto em 1907 com o nome de Pop Morse’s Roadhouse. Outra foi o salão de baile Aragon, de 1926, aonde milhares iam para dançar até a casa cair em decadência, nos anos 1960, e renascer na década seguinte como local de conturbados shows de rock.

De lá o passeio segue para o outro extremo de Chicago (South Side), no que já foi um bairro pobre de negros e imigrantes europeus, hoje tomado pelos prédios criados por Ludwig Mies van der Rohe, entre 1940 e 1970, para o Instituto de Tecnologia de Illinois.

Atravessado o campus, alcança-se Bronzeville, com a primeira parada na loja Urban Beautique, mencionada mais atrás. Hoje tomado por cosméticos, o galpão brilhou nos anos 1930 e 1940 como o Sunset Café de Earl Hines, mudando em seguida de nome para Grand Terrace.

Na pesquisa para montar o tour, Amanda Scotese descobriu que o prédio estava de pé e abrigava uma loja de ferragens. Ao visitá-la, encontrou quase intacto, num escritório atulhado, o painel de madeira pintada que adornava o palco. Parada obrigatória do tour.

Dali se alcança a rua Maxwell, onde se realizava na mesma época uma vibrante feira de rua. Enquanto barraqueiros e empregados das lojas apregoavam suas mercadorias aos berros, músicos de rua tocavam blues por uns trocados.

Não era fácil sobrepor-se à algazarra, conta Amanda. Surgiu então a ideia de acoplar um captador ao violão e ligá-lo ao amplificador. Nascia assim o blues eletrificado, que ainda hoje atrai multidões de aficionados a Chicago.

Quem quiser uma experiência bem raiz deve ir ao bar B.L.U.E.S., no número 2.519 da rua Halsted Norte. Por US$ 10 (R$ 38,50) pode-se ouvir ali a banda de Rico McFarland, convidado assíduo que também tocou no Festival de Blues. O local é pequeno, meio caído, com pintura descascada nas paredes, banquetas de courino gretado, muitos casais locais, brancos e negros.

Escolher mesa perto do palco minúsculo (perto mesmo, tipo 2 metros) resulta em ouvidos tapados por 24 horas, tamanho o volume extraído por McFarland de sua guitarra.

Os fãs da música negra com os tímpanos vencidos podem descansá-los num lugar mais tradicional, o House of Blues. Uma das 11 casas com esse nome da cadeia disseminada pelos EUA, fica sob um dos ícones de Chicago, a dupla de prédios Marina City (que aparece na capa do disco “Yankee Hotel Foxtrot”, da banda de rock Wilco, também da cidade).

Assim como Buddy Guy’s Legends, House of Blues figura entre favoritos de turistas. A atmosfera “sulista” é bem fake, e o brunch gospel, aos domingos pela manhã, satisfaz mais a curiosidade despreocupada que o apetite por comida e música inebriantes.

Mas Chicago não é só blues e jazz. Tem muita arquitetura, de Gehry e Van der Rohe a casas de Frank Lloyd Wright e o lindo edifício Aqua, da arquiteta Jeanne Gang. 

Tem também artes plásticas, com o Museu de Arte Contemporânea e o Instituto de Arte de Chicago (AIC).

O AIC exibe até 8 de setembro a mostra Beleza Moderna, uma boa retrospectiva do francês Édouard Manet, na quantidade certa de quadros para não entediar inclusive o célebre “Primavera” (1881), um retrato luminoso da atriz Jeanne Demarsy. Não se perca na coleção de antiguidades (fascinante) e vá logo para a ala moderna do museu.

O prédio em si, do celebrado arquiteto italiano Renzo Piano, já vale a visita e a admiração. O acervo de arte contemporânea guarda joias como “Nighthawks” (1942), de Edward Hopper, e “American Gothic” (1930), de Grant Wood.

Chicago conta ainda com o Field, que nada fica a dever para o Museu Americano de História Natural, em Nova York, e o Museu de História, que tem seção dedicada ao blues, onde o visitante pode criar uma capa de disco com sua foto e exercitar-se na guitarra com ajuda de computador.

Ainda no capítulo cultura e entretenimento, a cidade conta com mais de 250 teatros e 800 produções anuais, que atraem 5 milhões de espectadores por ano. Ninguém precisa ir a Nova York para assistir ao musical “Hamilton”.

Quem estiver em busca de arrepios na espinha pode encarar as plataformas de vidro do Sky Deck ou do 360, centenas de metros acima do solo. Se não tiver sangue frio, vale acompanhar os corajosos só pela vista da cidade e do lago Michigan. Com o uso do CityPass, que custa US$ 108 para adultos (R$ 416), essas e outras atrações são visitadas com 50% de desconto.

Se a Highline de Nova York figura no topo de sua lista de parques urbanos inusuais, experimente a Riverwalk de Chicago. Como o nome diz, trata-se de um passeio ao longo do rio que passa por baixo de pontes levadiças e é pontilhado de bares e restaurantes.

Mesmo quem não entende inglês pode fazer um tour guiado, em português e gratuito, pela imponente sucessão de marcos arquitetônicos graças à organização de voluntários Chicago Greeter. Com sorte você cairá nas mãos e nas graças de Howard Raik, que morou cinco anos no Brasil trabalhando pelo Peace Corps.

Reserve ainda algumas horas para flanar por ruas e avenidas, menos opressivas e atulhadas que o tabuleiro de Manhattan. Chicago é tudo de bom. Nova York que se cuide.


Pacotes

US$ 821 (R$ 3.160) 
4 noites em Chicago, na RCA (rcaturismo.com.br
Preço por pessoa, não inclui regime de alimentação. Com city tour e traslados. Sem passagens aéreas

R$ 5.615 
7 noites em Chicago, na Submarino VIagens (submarinoviagens.com.br
Preço por pessoa, não inclui regime de alimentação ou passeios. Com passagens aéreas a partir de São Paulo

R$ 6.200 
8 noites em Chicago, na CVC (cvc.com.br
Valor por pessoa, com café da manhã. Sem passeios. Com passagens aéreas a partir de São Paulo

US$ 1.680 (R$ 6.486) 
5 noites em Chicago, na Interpoint (interpoint.com.br
Preço por pessoa, com café da manhã. Com ingressos para o Field Museum e par o Museu de Arte Contemporânea, além de US$ 100 (R$ 385) de crédito para ser usado no SPA do hotel. Sem passagens aéreas

US$ 1.815 (R$ 6.987) 
5 noites em Chicago, na Schultz (schultz.com.br
Preço por pessoa, sem regime de alimentação. Inclui traslados e Chicago CityPass. Com passagem aérea a partir de São Paulo 

R$ 7.157 
5 noites em Chicago, na Maringá Lazer (maringalazer.com.br
Preço por pessoa, não inclui regime de alimentação ou passeios. Com seguro-viagem de US$ 20 mil (R$ 77 mil) e passagens aéreas partir de São Paulo

R$ 7.214 
7 noites em Chicago, na Zul Viagens (azulviagens.com.br
Preço por pessoa, sem regime de alimentação ou passeios. Inclui passagens aéreas a partir de Campinas (SP)

US$ 2.013 (R$ 7.750) 
7 noites em Chicago, Nova York e Cleveland,na Flot (flot.com.br
Preço por pessoa. Três noites em Nova York, uma em Niagara Falls, uma em Cleveland e duas em Chicago. Com café da manhã e um almoço. Inclui visita panorâmica em Manhattan, ingresso para a Wilis Tower e para o Rock and Roll Hall of Fame, além de cruzeiro pelas Cataratas do Niágara. Com traslados. 
Sem passagem aérea

R$ 8.597 
3 noites em Chicago, na Abreu (abreutur.com.br
Preço por pessoa, sem regime de alimentação. Inclui city tour com guia em espanhol e passeio por pontos usados pela antiga máfia da cidade, além de traslado. Com aéreo a partir de São Paulo

US$ 2.755 (R$ 10.606) 
6 noites em Chicago, na Venice (veniceturismo.com.br
Valor por pessoa, sem regime de alimentação. Inclui city tour panorâmico e traslados. Com passagem aérea a partir de São Paulo

Fonte: Folha de S.Paulo